Mães solo decidem morar juntas para dividir rotina e cuidados com crianças
A social media e bailarina Fernanda Lensky, 25, se inspirou no conceito de comunidade quando decidiu procurar alguém para dividir a casa com ela e com o filho, Benjamin, de 6 anos. “Foi por uma questão de afinidade, porque mães jovens passam pelas mesmas coisas e teríamos a facilidade de lidar com certos problemas”, conta à Universa. A jovem é parte de um movimento de mães solo que estão decidindo morar com outras mães para dividir o cotidiano e o cuidado das crianças.
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Fernanda morava com os pais e Benjamin quando percebeu que precisava sair de casa. Porém, ainda no início da carreira, ela não tem a possibilidade de morar sozinha com a criança. “Meus amigos da minha idade que não têm filho dividem apartamento com outras pessoas. Por que eu também não poderia?”, fala. Por isso, percebeu que uma boa forma de dividir os custos de vida seria morar com outra mãe solo, já que teriam a rotina parecida. “Foi quando comecei a pesquisar em grupos outras pessoas que tivessem a mesma ideia que eu”.
Em um grupo que criou no Facebook para mães jovens, Fernanda conheceu, há dois anos, a fotógrafa Carmem, mãe de Valentina, 5. Elas moram juntas em um apartamento do centro de São Paulo (SP) há seis meses. “O que a gente procurava era muito mais do que dividir a maternidade”, explica a bailarina. “Somos artistas, partilhamos da mesma visão do mundo”. Tudo isso era importante para que Fernanda conseguisse criar um lar para Ben. “Queria encontrar alguém que pudesse viver a casa junto comigo, principalmente por eu não ter uma família próxima. Eu queria criar, para mim e para o meu filho, essa base e segurança que eu não tenho.”
Dividir o apartamento com outra pessoa, que tem as mesmas responsabilidades, ajuda, de acordo com estas mães solo, a construir uma estabilidade para a criança. A modelo Nicolle Wolfensberger, 31, foi procurar uma colega de quarto no mesmo grupo em que Fernanda e Carmem se conheceram. Moradora de Campinas (SP), ela estava se divorciando do pai de Anne, 6, e viu em morar com outra mãe solo uma forma de conseguir voltar a exercer a profissão de modelo e bancar os custos da casa. Ela dividiu a casa com Priscila e Eduardo, 6, por cerca de um ano. “É um trampo, mas era maravilhoso poder pedir para alguém olhar as crianças enquanto a outra ia ao mercado”, diz.
Porém, nem tudo são flores. Morar com uma mãe solo significa ter o dobro de adultos para lidar com as dificuldades, mas também pode ser o dobro de broncas nas crianças. Nicolle diz que, em relação à criação, era tudo uma questão de sentir quando e como intervir quando uma das “crias” estivesse “aprontando”. “Foi bom para a própria Anne ver que eu não sou a chata da situação. Era bom ela ouvir um 'pito' de alguém que não fosse eu, para perceber que outro adulto também achava errado o que ela estava fazendo”, afirma a modelo.
Fernanda fala que a dinâmica em uma casa com duas mães solos dá um senso de coletividade. “A gente não bate. Nós deixamos claro que ninguém é mais importante que ninguém e que o coletivo é o mais importante. Respeitamos o que cada um fala e o que cada um sente”, fala.
Parceria e troca de experiências
Algumas pessoas podem até confundir Fernanda e Carmem com um casal de mulheres homossexuais. Porém, por ser mais baseada no companheirismo, a relação entre as mães solo tende, segundo a bailarina, a ser muito mais leve do que a de um casal. “Nós não temos nenhuma obrigação uma com a outra a não ser fazer a casa funcionar. Isso torna as coisas mais fáceis”, fala Fernanda.
Segundo ela e Nicolle, a experiência de dividir a casa possibilita que tanto as mães como as crianças aprendam muito um com os outros. “A Priscila é pedagoga, então ela tinha um jeito muito especial de lidar com elas. Eu aprendi muito”, diz Nicolle. “Enquanto o Dudu come superbem, bastante salada, a Annie, não. Morando com ele, ela aprendeu a comer mais vegetais”, exemplifica a modelo.
Fernanda, que teve Ben com 18 anos, diz que é uma forma de ela ter mais conhecimento de como ser mãe, coisa que ela tinha aprendido na cara e na coragem e com ajuda de pessoas mais velhas, que nem sempre tinham a mesma visão de mundo que a dela. “Eu não tinha referências de pessoas da minha idade, então é bom trocar vivências”.
Nicolle está morando sozinha com a filha há alguns meses. “É bom ter o meu espaço, mas é solitário”, afirma a modelo, que quer repetir a experiência de morar com outra mãe solo. “Sinto falta do barulho e da bagunça”.
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