Estupro e assédio: advogada comenta falas absurdas de Rafael Ilha na TV
Rafael Ilha, participante da décima edição de “A Fazenda”, tem se sentido cada vez mais a vontade para expor suas opiniões na frente das câmeras. Recentemente, duas de suas falas repercutiram de maneira negativa fora da casa. Primeiro, durante uma conversa com Felipe Sertanejo e Evandro Santo, o rapaz comentou sobre casos de assédio sexual, afirmando que a postura da mulher interfere na maneira como ela será tratada.
Como exemplo, citou o comportamento de rebolar: “Se a mina entra rebolando, vê que o cara entra...”, disse imitando trejeitos femininos, como se estivesse sorrindo. Em seguida, garantiu que a sua mulher “não dá uma brecha”.
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Mais tarde, durante um almoço em grupo, fez um comentário em tom de piada sobre seu colega de confinamento João Zoli: “O João tem cara de que era estuprado. Os ‘mano’ da oitava série falavam: ‘olha lá o graveto entrando no banheiro’. Já catavam o gravetão e pau”, deixando o rapaz visivelmente sem graça.
Ana Paula Renault e Gabi Prado, que já foram eliminadas do jogo, criticaram a cena constrangedora nas redes sociais. De acordo com Vanessa Paiva, advogada, psicanalista e diretora-executiva do Instituto Paiva, ambas as falas de Ilha são problemáticas e precisam ser debatidas. Entenda por quê:
- Estupro nunca é piada
“Trata-se de um crime terrível, mas que acontece com frequência, principalmente com crianças, dentro de casa ou da escola”, aponta a especialista. Vanessa alerta que a violência intitulada estupro de vulnerável, muitas vezes cometida por parentes ou pessoas de convívio próximo, traz consequências graves para a vítima. Os traumas psicológicos interferem na autoestima, na maneira de se relacionar e podem resultar no desenvolvimento de transtornos. Por esses fatores, a profissional aponta: “O participante poderia responder a um processo por propagação da cultura do estupro, ultraje público ao pudor e atentado contra a honra”.
- Não se pode culpar a vítima pelo assédio
O assédio sexual pode acontecer em diferentes espaços: no ambiente de trabalho, em casa ou na rua. “Assovios, palavras ofensivas ou qualquer ato que faça alguém se sentir envergonhado ou ameaçado com o intuito de obter favorecimento sexual entram nessa categoria”, esclarece a advogada. Segundo o comentário de Rafael, a postura da mulher diante dos homens interfere na maneira como ela é tratada.
Esse argumento, de acordo com a especialista, é muito utilizado na sociedade para desvalorizar as queixas das vítimas de assédio. “A fala do participante reflete o machismo presente na mente coletiva, que enxerga a mulher como um ser inferior”, defende. Como exemplo, questiona por que quando um homem sai de shorts e sem camisa na rua, não é tratado de maneira abusiva e nem tem seus desejos e decisões desrespeitados.
O limite, segundo Vanessa, entre uma cantada e o assédio sexual, está no consentimento. “Após uma demonstração sutil de interesse, a pessoa pode consentir ou não no aprofundamento de uma relação. No entanto, a partir do momento em que o interesse não foi correspondido e a outra pessoa continua insistindo, importunando e até perseguindo, isso é passar dos limites”, esclarece.
Por fim, também alerta: “Se uma pessoa for abusada ou tiver sua tranquilidade perturbada e um terceiro justificar a violência pela maneira como estava vestida ou através do seu comportamento, dizendo que ela sorriu, por exemplo, isso pode ser enquadrado como crime contra a honra”, completa. A especialista finaliza orientando as vítimas de assédio a registrarem suas queixas através de um boletim de ocorrência e também a procurarem ajuda psicológica a fim de amenizar as marcas deixadas pelo acontecimento.
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