Djamila Ribeiro estreia ação de beleza: "Dá para ser feminista e vaidosa"
Quem disse que professoras, ativistas, escritoras e feministas não podem usar maquiagem? Uma das vozes femininas mais influentes contra o preconceito e o direito das mulheres no Brasil, Djamila Ribeiro estreia como garota propaganda da Avon e garante que dá para militar e usar batonzão, sim.
"Uma coisa é a imposição de valores e modelos, outra é a escolha de usarmos porque gostamos, porque queremos e nós sentimos bem. O problema existe quando dizem que precisamos. A gente gostar não tem problema nenhum, até porque estamos lutando para que possamos escolher. E quando falamos em relação às mulheres negras temos que ponderar porque para nós foi todo um processo, inclusive, para conseguirmos batom e base para nosso tom", afirma Djamila, em entrevista à Universa.
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Além de estrelar a campanha "O Ano que a Gente Quer", ao lado da produtora Isis Vergílio, Dja (como é chamada pelos amigos) também é cocriadora da ação, que tem como objetivo convidar todas as mulheres a pensarem juntas sobre os nossos desejos para o futuro. "Juntas podemos questionar e lutar por mudanças. O importante é não naturalizamos o assédio e a violência", diz ela.
"A gente se amar em um mundo que insiste em nos odiar é extremamente revolucionário"
Para a mestre em filosofia, ter uma mulher negra 'não famosa' falando sobre maquiagem é duplamente transformador e confronta diretamente o senso comum das indústrias de maquiagem. "Ser bonita para mulher negra tem outro significado e também pode ser revolucionário. Sobretudo quando a gente não é construída para ser a mulher bonita, a beleza padrão. A gente poder se sentir bem em uma sociedade que insiste em nos colocar no papel das mulheres que não são apresentáveis, tem um conteúdo político importante: mulheres negras se afirmando como belas em uma sociedade racista que impõe padrões de beleza eurocêntricos", afirma ela, enquanto é maquiada por DaMata, criadora da primeira escola online para pele negra.
A ativista fez questão de escolher sua equipe para esse trabalho, como a cabeleireira Chris Oliveira que cuida de suas tranças há algum tempo e também a acompanhou. Para a guru das famosas não existe um padrão de feminista, e se maquiar ou gostar de moda está longe de ser algo fútil como pensam ou menos empoderador. "Não preciso deixar de ser feminina, uma coisa não tem a ver com a outra. A gente vive em uma sociedade em que é difícil ser mulher por conta do machismo e da desigualdade mas, apesar disso, sou uma mulher que gosta de ser mulher. Mostrar esse lado positivo [vaidade] é importante. Feministas também amam, se relacionam", diz, aos risos, enquanto explica que dá para gostar de maquiagem, participar de uma ação publicitária e lutar pela equidade de gênero na sociedade. "É possível militar quando de fato a gente tem um compromisso de passar uma mensagem de transformação social. Dá para discutirmos os temas [femininos] em diferentes espaços. Até para que consigamos nos comunicar com um número maior de mulheres. Sei que com essa campanha vou conseguir falar com várias mulheres e elas vão se identificar e se sentir representadas", comemora.
Djamila foi uma das escritoras mais lidas em 2018 (seus livros "O que é lugar de fala?", da editora Letramento, e "Quem tem medo do feminismo negro?", da Companhia das Letras, foram muito procurados) se mantém no lugar de tutora e não de estrelato. "Luto por aquilo que acredito e não para ser uma referência. Não me considero uma pessoa pop. Minha vida não tem glamour. Sou uma trabalhadora, acredito no que faço e estou muito feliz com o reconhecimento do meu trabalho. Transito no mundo dos famosos, mas quando sou parada enxergo como reconhecimento do meu trabalho", finaliza.
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