Tristeza pode antecipar a menopausa: "Minha menstruação simplesmente sumiu"
Aos 43 anos, Carla Eugênia perdeu a mãe e, no mês seguinte, o marido, com quem viveu por 25 anos e teve três filhos. As mortes acarretaram depressão e menopausa, conta ela. Segundo especialistas, a tristeza pode mesmo fazer a mulher parar de menstruar.
Na menopausa, a mulher não produz mais os hormônios do ciclo menstrual: a idade média para entrar nesse processo é entre 45 e 52 anos. A mãe da dona de casa morreu em agosto de 2014, em decorrência de um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Por causa da perda, Carla desenvolveu depressão e foi medicada. O marido, conta ela, era o responsável por tirá-la da cama e superar o luto. Mas, um mês depois, ele enfartou em casa e não resistiu.
"Fiz massagem cardíaca, com ajuda da nossa filha de 16 anos. Tentamos de tudo", lembra ela, antes de listar como esses acontecimentos afetaram sua saúde: "Minha menstruação simplesmente sumiu dois meses depois do meu marido morrer. Após exames, o ginecologista disse que, pelo valor das taxas hormonais, era menopausa. Ele tentou me explicar que as perdas fazem parte da vida e que eu tinha de continuar".
Hoje, aos 47, Carla sente que a qualidade de vida caiu. Ela conta que tem ressecamento nos olhos, taquicardia, fraqueza, tonturas, sintomas que, segundo ela, não apareciam antes das mortes: "Infelizmente, não dá para reverter. Adoraria menstruar. Entre fitoterápicos, vitaminas e reposição hormonal, tomo uns sete remédios por dia".
Tristeza interfere na ovulação
Aos 43 anos, época em que Carla entrou na menopausa, ela era considerada jovem para deixar de menstruar. A Febrasgo (Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia), no entanto, usa o termo menopausa precoce apenas quando ela acontece até os 40 anos. Geralmente é provocada por hereditariedade, problemas inerentes ao metabolismo, como diabetes, de circulação e também doenças autoimunes como lúpus.
A ginecologista Renata de Camargo Menezes, especialista em medicina reprodutiva e membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana e de Reprodução Assistida, explica que o estresse a que Carla se submeteu pode ter antecipado o encerramento de seu ciclo menstrual, chamado por ela de menopausa oportuna.
"A tristeza libera radicais livres e esses estágios emocionais interferem na ovulação. Essa mulher foi exposta a grandes doses de cortisol e de adrenalina, que são hormônios que se elevam em processos de estresse intenso. O corpo, quando percebe o perigo, entende que a pessoa precisará correr para fugir, e concentra o fluxo sanguíneo nos músculos. O ovário fica mal vascularizado, a pressão eleva e, com a falta de oxigenação, há prejuízos de acordo com a reserva ovariana da paciente", explica a médica.
A profissional explica ainda que, por causa do estresse, o útero pode envelhecer mais rápido. O endométrio, que é a camada que reveste a parte interna dessa região, sofre e se altera com as substâncias liberadas como adrenalina e cortisol: "O sistema límbico, que rege nossas emoções, está próximo da hipófise, que é a área que coordena o ciclo menstrual".
Pesquisas apontam que 1% das mulheres estão na menopausa precoce. Não dá para saber quantas delas são por causa emocional.
O que acontece com a mulher
Entre os sintomas mais comuns da menopausa estão ondas de calor do pescoço para cima e em período noturno, axilas suadas, transtorno de humor, sono, cansaço e menstruação irregular.
Para amenizar e evitar problemas de saúde, a mulher precisa de reposição hormonal. Sem tratamento adequado, ela pode desenvolver uma osteoporose, problemas cardíacos e cognitivos, além de alterações no sistema muscular.
O diagnóstico correto para verificar a menopausa é dado após teste hormonal. Na avaliação do ginecologista-obstetra Arnaldo Schizzi, diretor do centro de reprodução humana do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia), o trauma é um fator secundário ao fim da menstruação. Segundo o profissional, a mulher pode estar passando, junto ao estresse, por outras disfunções, como problemas na glândula suprarrenal. E, se tratada corretamente, a paciente pode voltar a menstruar. A tristeza, portanto pode ser um fator, mas não o principal.
"Essas pessoas provavelmente estavam prestes a entrar na menopausa, mas houve um marco em suas vidas. Em alguns casos, se elas restabelecerem o funcionamento de outras glândulas, podem voltar a menstruar. O problema deve ser investigado corretamente", atenta Schizzi.
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