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Escola libera animais de estimação em sala de aula; conheça a iniciativa

Os alunos puderam até mesmo conhecer e interagir com um cão utilizado em terapias - Divulgação
Os alunos puderam até mesmo conhecer e interagir com um cão utilizado em terapias Imagem: Divulgação

Marcelo Testoni

Colaboração para Universa

18/12/2018 04h00

O número de animais de estimação abandonados no Brasil impressiona. Segundo a Organização Mundial de Saúde, são 30 milhões, entre 10 milhões de gatos e 20 milhões de cachorros --sujeitos a violência humana, riscos naturais e outros perigos.

Preocupado com esse cenário, o Colégio Marista, em Ribeirão Preto, no interior paulista, permitiu, ao longo deste ano, que os próprios alunos levassem seus bichos para dentro da sala de aula. O objetivo, explica Francina Dias, professora do 1º ano do Ensino Fundamental da escola, foi trazer para o ambiente educacional a discussão sobre a importância da solidariedade e do respeito aos animais.

"A ideia partiu dos estudantes, que expressaram suas opiniões a respeito do tema 'fraternidade e superação da violência'. Na busca de soluções para diversas situações, eles escolheram atitudes pró-animais abandonados e vítimas de maus tratos", comenta.

Trabalho em equipe

O projeto iniciado no primeiro semestre de 2018 se estendeu até o último dia do ano letivo, 14/12. Segundo o colégio, se for do interesse dos estudantes e de outras turmas, continuará a ser desenvolvido também em 2019, mas sem ser uma obrigação. "É fundamental que o projeto nasça a partir dos interesses dos alunos, para que sejam críticos e saibam reivindicar seus interesses", observa a professora Francina.

Pets na escola - Os animais recebem carinhos, cuidados e atenção - Divulgação - Divulgação
Os animais recebem carinhos, cuidados e atenção
Imagem: Divulgação

Neste ano, para que a iniciativa de levar os animais para dentro da sala de aula desse certo, foi preciso mobilizar, além dos estudantes, os pais e a comunidade escolar. 

Primeiro, os alunos formaram pequenos grupos, onde cada um dos integrantes recebeu uma tarefa. Entre elas, elaborar uma carta para o diretor do colégio solicitando a autorização de entrada dos animais na escola, organizar as datas e os dias das visitas, fazer divulgação sobre cuidados animais, solicitar arrecadações a serem doadas, partilhar a ideia com outras séries, funcionários da escola, vizinhos, familiares e planejar um espaço para desenvolver a campanha e receber os pets.

"Essas atividades levam os alunos a desenvolverem seu protagonismo e servem para estimular o processo do ensino-aprendizagem na alfabetização", explica a professora da turma. 

Pets na escola - Os cães precisam ser dóceis e usar coleira para terem contato com as crianças - Divulgação - Divulgação
Os cães precisam ser dóceis e usar coleira para terem contato com as crianças
Imagem: Divulgação

Francina conta que mediou todo o processo com o apoio de uma estagiária, mas também foram envolvidos outros profissionais, desde o porteiro, que recebe os alunos e seus animais, até o diretor e a coordenadora pedagógica.

Já o transporte dos animais até o colégio ficou por conta dos pais, que também foram informados que os animais trazidos de casa não poderiam oferecer nenhum risco às crianças.

Aula descontraída, mas levada a sério

Tudo definido, o projeto mudou a rotina da escola. Pelo menos duas vezes por semana, seguindo a ordem alfabética da lista de chamadas da turma, ficou decidido que cada criança levaria seu animal de estimação para participar das atividades escolares em sala de aula. Quem não possuía um mascote teve a oportunidade de conviver com os bichinhos dos colegas.

Pets na escola - Cada aluno leva seu mascote um dia na escola. São aceitos gatos, cães e até roedores - Divulgação - Divulgação
Cada aluno leva seu mascote um dia na escola. São aceitos gatos, cães e até roedores
Imagem: Divulgação

"A ideia é que todos aprendam a ter uma relação de respeito com os animais, troquem maneiras de cuidá-los e compreendam seus comportamentos e sentimentos para ajudar aqueles que são abandonados a superarem a violência sofrida. Dessa forma, os alunos também transferem essa vivência para as suas relações interpessoais", explica Francina Dias.

Em um momento durante a aula, com os alunos sentados em roda, os animais entravam na sala ou no espaço reservados a eles acompanhados de seus responsáveis, pais ou alunos.

Para participar desse tipo de dinâmica, os cães precisam ser dóceis e conduzidos na coleira; a mesma regra de temperamento vale para os gatos, que são trazidos na caixa de transporte. A segurança e o bem-estar de animais são levados em consideração. Os hamsters, por exemplo, são apresentados em gaiolas e os peixes, por serem mais sensíveis e difíceis de serem transportados, marcam presença na aula por meio de fotos e relatos de seus donos mirins.

"Nenhum animal presente é submetido a testes e as avaliações dos alunos são realizadas por meio de observações, perguntas e experiências compartilhadas em grupo. Ações como fazer carinho, passear com o gato ou cãozinho pelo colégio, oferecer água, entre outros, fazem o animal reagir de alguma forma e essas reações é que são compartilhadas", diz a professora.

Animais percebem os resultados 

A busca das crianças por maneiras de combater a violência contra animais as levou a desenvolver também uma campanha de doação para um abrigo de gatos de Ribeirão Preto.

"Promovemos uma ação com os voluntários da associação Só Gatinhos, que recolhe gatos abandonados nas ruas da cidade, para conscientizar os alunos do 1º ano e realizamos uma campanha para tentar ajudá-los", lembra Francina. 

De acordo com ela, os felinos foram recebidos na escola e os alunos, encantados, demonstraram interesse em adotá-los. Motivada pela ideia, uma aluna até resgatou uma cadelinha de rua, junto com sua família, e a levou para a escola para apresentar aos seus colegas de turma.

Pets na escola - A escola também desenvolveu uma campanha de doação para um abrigo de gatos - Divulgação - Divulgação
A escola também desenvolveu uma campanha de doação para um abrigo de gatos
Imagem: Divulgação

"Momentos assim são importantes porque esclarecem sobre o processo de adoção e revelam como esse gesto é importante na formação de cidadãos conscientes", conclui a professora.

Segundo a associação Só Gatinhos, em 2018 foram adotados mais de 90 gatos --alguns deles com a ajuda dos alunos. Atualmente, o abrigo disponibiliza para adoção mais algumas dezenas 


 

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