'Ele me agarrou e me mordeu', diz vítima de médico condenado por estupro
"Meu mundo caiu, desmoronou", desabafa a doméstica Simone Zucco, 35, uma das vítimas do médico nutrólogo Omar Ferreira de Castro, 68, condenado a 62 anos de prisão por estupro, tentativa de estupro de vulnerável e contravenções sexuais, em Santa Catarina. A polícia afirma que o médico foi acusado de violência sexual por 38 mulheres. Preso há dois anos, condenado por 15 dos crimes, na semana passada, a defesa foi à Justiça para tentar diminuir o tempo de prisão. O processo segue em curso.
De acordo com depoimentos do inquérito policial, algumas das vítimas alegaram ter sofrido abuso após serem dopadas; outras escaparam de tentativas ou foram estupradas no consultório que era mantido pelo médico em Florianópolis. Universa tentou contato por telefone diversas vezes com a defesa de Omar, nessa quarta (19) e quinta (20), mas não obteve retorno.
O que disseram as vítimas
Simone buscou Omar para tentar emagrecer, em 2015. "Ele era famoso em Florianópolis. Eu sempre tive o sonho de ir ao Doutor Omar", lembra-se. O médico costumava dar medicamentos para tratamento de obesidade aos pacientes. "Perdi cinco quilos em cerca de quinze dias. Eu estava me amando, superfeliz, mas ele começou a fazer perguntas que me constrangiam", diz.
Simone diz que a violência começou com comentários que considerava constrangedores sobre o corpo e a vida pessoal, até que o médico intensificou os assédios. "Ele dizia que eu era muito bonita para ser empregada doméstica, perguntava da profissão do meu marido e disse que eu tinha que levar uma vida de rainha", diz. Ao se despedir de uma das consultas, ela conta que o médico a agarrou e deu um tapa em suas nádegas. Com medo, pegou a receita para a medicação e decidiu que nunca mais voltaria.
Ele dizia que eu era muito bonita para ser empregada doméstica
Mas, após passar mal com o medicamento, Simone viu-se obrigada a retornar ao consultório para diagnosticar a reação. "Quando o vi entrando na sala, eu tremi", diz. Ela contou a situação ao médico e ele saiu de sua cadeira, a agarrou e a mordeu no pescoço e orelha. "Eu disse a ele: 'mas o que é isso?'. Ele me respondeu: 'Vocês gostam. Pode chorar e gritar, sou um homem poderoso e não vai dar em nada'".
A paciente se assustou e repreendeu o médico. "Ele me disse: 'Você pode chorar, gritar, eu sou homem poderoso e não vai dar em nada?'", relata. "Saí chorando. Me senti suja, com vontade de me limpar. Não acreditei que aquilo estava acontecendo comigo".
A advogada Valeska Gerlach, 37, teve a vida abalada após ser uma das primeiras vítimas a falar abertamente sobre as agressões de Omar. Em 2015, ela diz que o médico começou a assediá-la já na primeira consulta recomendada pelo plano de saúde e foi alvo de comentários sobre a aparência.
Sem permissão dela, ele teria começado a massageá-la nos ombros até começar a apalpá-la. Ela conta que Omar tentou forçar um beijo, mas conseguiu sair correndo do consultório. O inquérito só foi adiante quando Valeska foi na delegacia e descobriu novos boletins de ocorrência contra o médico.
"Hoje, tenho sérios problemas em me relacionar. Não consigo mais ser examinada por médicos homens. Tenho problema para dormir, por causa disso [da violência]. Eu emagreci horrores", desabafa. A advogada afirma que desenvolveu DATM (Disfunção da articulação temporo-mandibular), que gera dores de cabeça intensas e cansaço na mandíbula devido ao trauma. "Eu perdi o emprego, e não consigo me recolocar novamente".
Defesa tenta diminuir pena
Na última quinta (13), o Tribunal de Justiça de Santa Catarina julgou o recurso para absolver ou diminuir a pena de Omar de 62 para 42 anos ou retirar as acusações que foram feitas contra ele.
O processo corre em segredo de Justiça, mas Universa apurou que a diminuição de pena recebeu voto favorável do desembargador Carlos Alberto Civinski. Ele absolveu Omar de dois dos 15 crimes denunciados formalmente pelo Ministério Público à Justiça. Por um pedido de vista (quando o desembargador diz que precisa analisar melhor o caso) feito pelo desembargador Ariovaldo Rogério Ribeiro da Silva, o julgamento foi adiado e deve ser discutido no próximo mês, em Florianópolis.
"A minha torcida é para que mantenham a pena, que eu ainda acho pouca. Infelizmente, com a cultura do estupro que vivemos, muitas deixaram de denunciar por medo, porque ele intimidava as vitimas. Ele mesmo acreditou que eu ficaria calada. Por mais que seja forte, eu não sou um diamante que não quebra nunca. Eu estou com meu telhado cheio de buracos das pedradas que levei. Os problemas psicológicos são muitos. Dou um pulo toda vez que vejo um idoso com a mesma característica do Omar na rua", conta Valeska.
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