Elas entraram no mundo dos luthiers: "Ouvi muito comentário machista"
Apesar de no Brasil a luteria (ou luthieria), ato de fabricar instrumentos musicais, ainda ser bastante associada ao trabalho masculino, aos poucos esse campo passou a ser explorado por mulheres. E, se antes compreendia apenas a construção e manutenção de instrumentos musicais de cordas feitos artesanalmente, hoje os profissionais fazem reparos em violões, violinos, guitarras, baixos elétricos e também de sopro.
Como elas foram parar na área
Durante toda adolescência, a paulistana Paula Regina de Moraes Bifulco tocou e cantou em algumas bandas, mas acabou não seguindo por esse caminho. No entanto, foi ele que definiu o que faz hoje.
"Meu primeiro contato com luteria foi há 16 anos. Minha mãe me mostrou uma matéria sobre um curso de construção de instrumentos e perguntou se me interessava. Na época, quando vi que só tinha homens na foto, não me senti à vontade e não fui atrás. Passado um tempo, tive que procurar um luthier para arrumar minha guitarra. Lá, perguntei onde ele tinha estudado para se especializar e ele me indicou o lugar. Foi aí que comecei a me envolver", conta.
Já a curitibana Monicky Ellys Zaczeski, de 23 anos, nunca tocou nenhum instrumento. "Era criança quando ouvi falar pela primeira vez sobre a profissão. Tinha um livro que contava a história de Antonio Stradivari, um luthier italiano que criou, para muitos, os melhores violinos do mundo. Mais velha, descobri que existia um curso de Tecnologia em Luteria na Universidade Federal do Paraná e decidi fazer", diz.
As trajetórias
No começo, as aulas ministradas no curso da Paula eram para ensinar a regular e construir guitarras para que com essa bagagem ela pudesse incrementar seu currículo e trabalhar em alguma publicação do mercado musical. "Mas isso mudou quando, durante o curso, construí minha primeira guitarra. As pessoas começaram a me procurar para arrumar e customizar seus instrumentos e não parei mais. Me tornei luthier, abri minha própria empresa, a Pauleira Guitars, que tem 10 anos."
Monicky, que ainda está no início da carreira, enfrentou o estranhamento dos pais ao anunciar o que queria fazer. "É um curso bastante diferente e uma profissão bem incerta", admite. Formada desde 2016, ela constrói e restaura principalmente violões clássicos, divulga seu trabalho pelas redes sociais e, sempre que pode, vai a eventos de música para conhecer o pessoal do meio.
Em um meio de muitos homens, elas conseguiram espaço
"Estudar em um ambiente predominantemente masculino não foi fácil. No início, na minha turma, tinha mais duas meninas, que desistiram ao longo do primeiro semestre. Sou a terceira mulher a se formar no curso", conta Monicky. Segundo ela, parecia que a presença dela gerava um desconforto na sala.
"Ouvi muitos comentários machistas de colegas e professores do curso. Talvez não acreditassem que eu tinha propriedade para falar sobre aquilo e, por isso, não me levavam a sério. Mas depois as coisas melhoraram e fiz bons amigos. Hoje nós trocamos ideias a respeito de instrumentos, e até pensamos em alguns projetos para fazermos juntos."
Embora conheça pouquíssimas mulheres nesse ramo, Paula afirma que não passou por situações preconceituosas na carreira. "Felizmente, nunca tive problemas com isso, mas também não sei se algum cliente escolheu não trabalhar comigo por não confiar na minha produção pelo fato de eu ser mulher."
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