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"Ao descobrir o câncer, ele falou que ninguém iria me querer daquele jeito"

A fotógrafa Caroline Alencar, 36 - Reprodução/Arquivo pessoal
A fotógrafa Caroline Alencar, 36 Imagem: Reprodução/Arquivo pessoal

Roseane Santos

Colaboração para Universa

03/01/2019 04h00

A fotógrafa Caroline Alencar, 36 anos, descobriu um nódulo no seio em 2015. Foi para Alagoas, estado onde morava com a mãe, para fazer os exames e, diagnosticada, tentou voltar para casa em Fortaleza (CE), onde vivia com o marido. O problema é que ele não aceitou que a mulher em tratamento vivesse com ele. E pior: afirmou que ninguém a quereria careca e sem seios. Ela deu a volta por cima e conta seu relato de como, apesar de ter perdido os dois seios, só ganhou com a doença. 

"Já estava morando com meu então marido há um ano, quando senti um nódulo no meu seio. Eu falei para ele que tinha algo estranho ali e pedi que me levasse ao médico. Ficou enrolando e nada de me levar. Não queria ir sozinha, porque estava assustada. Afinal, qual mulher pode ficar tranquila quando descobre um caroço no peito. Sou alagoana, mas morava com ele em Fortaleza. Trabalhei como fotógrafa na empresa dele e quase não tinha tempo para nada. Depois de algum tempo, resolvi visitar a minha mãe em Maceió. Falei o que estava acontecendo com ela. Cheguei na terça à noite e na quarta pela manhã, ela já havia marcado uma consulta para mim. 

Hoje, posso falar que não perdi nada, só ganhei

Em cinco dias, fui ao médico, fiz exames e no dia 5 de agosto de 2015, veio o diagnóstico do câncer de mama. Acho que só quem passou saberá entender o que eu senti naquele momento. Meu mundo desabou e eu queria voltar para a minha casa. Liguei para o meu marido e ao contrário de palavras carinhosas, ele foi prático e tascou logo: "se voltar, traz a sua mãe para ficar cuidando de você, porque eu trabalho e não posso parar". Eu senti que ele se incomodou primeiro com que eu poderia causar para atrapalhar a rotina dele e não com a minha saúde.

O problema é que minha mãe também teria que largar casa e trabalho para ir comigo. Tentei explicar isso a ele, mas como nada se resolvia, a minha mãe me convenceu a fazer o tratamento em Maceió e, quando terminasse, voltaria para Fortaleza. No fim de agosto comecei a fazer quimioterapia. Contando do dia que eu falei o diagnóstico para ele, ficamos ainda mantendo contato por telefone durante um mês, mas eu estranhava que nunca vinha me visitar.  

Ele falou que ficaria comigo e que estava lendo sobre o câncer de mama. Falava que sabia de tudo, que eu ia ficar sem cabelo, que ficaria sem o seio, que perderia a vontade de ter relação sexual. Só que ele ficaria comigo. O tempo foi passando, mas ele não vinha me ver. Lógico que eu comecei a questionar o motivo daquilo. Por mais que ele trabalhasse, eu estava doente. Então, ele resolveu terminar o nosso relacionamento por telefone mesmo. 

Já estava arrasada por conta do tratamento e ser abandonada naquele momento foi terrível. O pior ainda estava por vir. Ele falou que ninguém iria me querer daquele jeito. Já havia pedido uma foto para ver como eu estava, mas não dei o gostinho dele me ver careca. Passou então a mandar fotos dele com outras mulheres, em farras, bebendo. Foi uma tortura. Ele me infernizou de várias formas. Demorou muito para mandar as minhas coisas e quando mandou, faltava muito do que eu tinha na minha antiga casa. 

Depois de nove meses, consegui voltar a Fortaleza para pegar o que faltava. O meu ex usava o meu carro e eu precisava vender até para arcar com as despesas do meu tratamento. Combinamos em um estacionamento de um supermercado. Quando cheguei, não o encontrei. Ele havia deixado a chave no pneu do carro. Já tinha assumido o relacionamento com outra mulher. Não posso falar que o nosso casamento era maravilhoso. A gente tinha problema sim, mas quando eu embarquei para Maceió, antes de saber do câncer, estávamos bem. 

Eu falo que doeu muito, mas hoje agradeço a Deus por ter me livrado dele. Comecei a pensar que o mais importante não era a minha tristeza e, sim, a minha saúde. Eu tirei os dois seios, um por causa do câncer e outro por prevenção. Mesmo assim, hoje, posso falar que não perdi nada, só ganhei. Desde então moro com a minha mãe e sou cercada pelo carinho da minha família. Não casei, mas também não me fechei para o amor. E ele, como viu que estou bem e recuperada (temos alguns amigos em comum no Facebook), tentou me ligar (mesmo casado com outra). Mas quem não quer escutar a voz dele agora sou eu."