5 vezes que séries brasileiras famosas foram bem machistas
Muitas séries globais fizeram sucesso a ponto de serem lembradas até hoje, como é o caso de "Sai de Baixo" e "A Diarista". Afinal, quem não se lembra de Caco Antibes e sua trupe e da dupla dinâmica Marinete e Solineuza?
Porém, muitas vezes esses programas provocavam risos inferiorizando características tidas como femininas e, por isso, foram bem machistas.
Com base no livro "Uma Série de Mulheres Engraçadas" (ed. Gramma), de Fernanda Friedrich, listamos abaixo algumas séries que fizeram piada com coisas que, hoje, já não tem a menor graça. Apesar de todas elas terem protagonistas mulheres, em somente uma delas, "Sai de Baixo", uma mulher faz parte da equipe de direção. Nas outras, redatores finais e diretores são todos homens.
"Tapas e Beijos" (2011-2015)
Foi uma das séries de maior sucesso da televisão brasileira, acumulando recordes anuais de Ibope. Mas também era um festival de clichês que normalizavam comportamentos machistas e os mostravam com ares de humor.
Na primeira temporada do seriado, Sueli (Andréa Beltrão) e Jurandir (Érico Brás) estão prestes a assinar o divórcio, mas ele só aceita fazer isso caso ela saia com ele de novo. Os dois vão para o primeiro lugar em que tiveram relações sexuais. Ela diz que não lembra, e ele rebate falando que era porque a ex-mulher estava completamente bêbada. O diálogo segue e Sueli comenta que deveria ter chamado a polícia por ele transar com ela embriagada. Na sequência, os dois se beijam.
O problema não é mostrar uma cena dessas, mas exibi-lo como parte de uma piada, normalizando uma situação que, pelo código penal, configura-se como estupro de vulnerável. O tempo de fazer piada com estupro também já passou, certo?
"Sai de Baixo" (1996-2002)
Todos os personagens na série tinham características depreciativas, e o humor vinha muito do anti-heroísmo deles. Mas mandar uma mulher calar a boca, definitivamente, não tem graça. Na época até tinha, e a frase "cala a boca, Magda" passou a ser repetida à exaustão também fora das telas. A personagem Magda, vivida por Marisa Orth, era a "gostosa burra", e sua falta de inteligência, motivo de piada.
"Os Normais" (2001-2003)
A protagonista, Vani, vivida por Fernanda Torres, era independente, tinha sua própria profissão e morava com o noivo sem ser casada. Pontos positivos. Mas, com alguma frequência, era mostrada como histérica e barraqueira, estereótipos frequentemente atribuídos a mulheres.
No episódio "Até que Enfim Profundos", quando Vani diz ao noivo, Rui (Luiz Fernando Guimarães), que sua vida é mais complicada que a dele, ele rebate dizendo que a mulher "fica assim quando vai fazer escova no cabelo". E reproduz a ideia de que mulheres são complicadas e, homens, bem resolvidos. Em certo momento, ele diz a Vani que "se as mulheres tivessem pinto, elas veriam que o cérebro não é tão importante assim".
"A Diarista" (2004-2007)
Ainda que traga como protagonista uma mulher que normalmente faz parte dos elencos de apoio de outras obras televisivas, a empregada doméstica, a série repetia estereótipos não só do universo feminino, mas também sobre pessoas pobres. Marinete (Claudia Rodrigues) era uma personagem retratada como barraqueira, briguenta e folgada, o que só reforçava o preconceito de gênero e classe.
Além disso, a coadjuvante, Solineuza (Dira Paes) de novo aparecia como aquela que provocava humor por ser era considerada burra.
"Sob Nova Direção" (2004-2007)
As amigas Belinha (Heloísa Perissé) e Pit (Ingrid Guimarães) eram donas de um bar e avançaram no quesito representatividade em vários pontos. Belinha tinha se separado quatro vezes, e o centro do programa era o trabalho das amigas. Mas, ainda que as duas fossem independentes, falavam constantemente sobre querer encontrar um marido rico que as sustentasse.
No episódio "Ligações Perigosas", Pit diz a Belinha que quer dormir com um homem que conheceu na boate, e a amiga responde que "mulher tem que ser difícil, fazer jogo duro", e complementa: "É por isso que os homens não te ligam no outro dia. Se você não fosse tão fácil, eles te ligavam". Dizer a uma mulher como ela tem que se comportar sexualmente é, além de machista, moralista. Afinal, cada uma faz o que quiser com seu corpo, certo?
Fonte: livro "Uma Série de Mulheres Engraçadas" (ed. Gramma), de Fernanda Friedrich
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.