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Prazer sem ter parceiro: "Depois do câncer, aprendi a ter tesão por mim"

Fernanda Muniz, 34 anos, enfermeira e terapeuta sexual - Nanna Moraes/ Divulgação
Fernanda Muniz, 34 anos, enfermeira e terapeuta sexual Imagem: Nanna Moraes/ Divulgação

Roseane Santos

Colaboração para Universa

07/01/2019 04h00

A enfermeira e terapeuta sexual Fernanda Muniz, 34 anos, teve câncer de mama e retirou os dois seios. Mas, além da dificuldade do tratamento, enfrentou outra questão: a queda drástica da libido. Depois de alguns meses evitando o companheiro, decidiu ir atrás de uma pós-graduação em Terapia Sexual na Saúde e Educação. Os aprendizados na área a fizeram terminar o namoro e descobrir que é possível reensinar o cérebro a sentir prazer - mesmo sem um parceiro sexual. Veja seu relato: 

"Eu namorava há quatro anos, quando fui diagnostica com câncer de mama. Nós tínhamos terminado, mas ao sair do hospital e descobrir que tinha que fazer uma biópsia, liguei para ele. Nós nos reaproximamos nesse momento. Acabamos voltando. Ele esteve comigo durante todo o meu tratamento de quimioterapia, radioterapia e cirurgia. Depois que retirei a mama fui para casa dele, ele cuidou de mim, fez curativo, lavou minhas roupas e recebi muito apoio. Só que os problemas que já tínhamos no namoro se agravaram depois da doença, porque fiquei abalada emocionalmente.

Eu comecei a tomar um remédio que mexia muito com os meus hormônios e entrei em menopausa antecipada. Algumas mulheres durante o tratamento acabam não menstruando e também sofrem com a queda de libido. Além disso, têm vários outros fatores, o cansaço, a queda de cabelo que prejudica a autoestima e por aí vai. Só que no meu caso, o que aconteceu foi ainda mais específico. Eu tive um câncer hormonal e tanto o estrogênio quanto a progesterona tinham que ser bloqueados para a doença não evoluir. 

Eu entrei na menopausa aos 33 anos e tive queda de libido e secura vaginal. No início da quimioterapia, ainda estava namorando e conversei sobre como seria a nossa vida sexual com meu médico. Ele falou de prevenção, que eu teria que usar camisinha. Só que quando eu tive que entrar com o bloqueador de hormônio, senti os reflexos em meu corpo e fui conversar com o meu oncologista. Ele falou que aquilo era normal e me encaminhou para eu procurar um ginecologista. 

Fernanda Muniz, 34 anos, enfermeira e terapeuta sexual.  - Divulgação - Divulgação
"No último exame que fiz, não foi mais encontrado nenhum foco de câncer. Não estou namorando no momento, mas aprendi a ter prazer, redescobri meu corpo e ter tesão por mim"
Imagem: Divulgação

Lá fui eu para o ginecologista. Ele também falou que era normal, me passou um lubrificante, um hidratante e ponto. Não falou com mais profundidade sobre o processo que passei. Eu tinha a necessidade de saber de muito mais coisas. Acho necessário ter uma equipe multidisciplinar para ter mais respostas. Eu precisava entender como era o mecanismo de um corpo que eu desconhecia naquele momento. O que os médicos me falavam era muito vago.

Na minha primeira relação sexual já no tratamento com a quimioterapia, eu senti muita dor. Por muitas vezes, eu evitei meu namorado. Esperava ele dormir para só assim, eu deitar e ficava bem longe dele. Eu notava que ele se incomodava, por mais que fosse compreensivo. Mas eu percebi que não poderia continuar nessa situação. 

Fui a um grupo de terapia e assim conheci o trabalho de uma terapeuta sexual. Eu perguntei como poderia fazer a formação nessa função. Ela me deu as dicas e iniciei uma pós graduação em Terapia Sexual na Saúde e Educação. Encontrei assim o que eu queria: mudar de profissão, ajudar a outras mulheres e me ajudar também. Terminamos de novo o relacionamento, mas falo que não foi por causa do câncer.

Produtos eróticos

Quando comecei a pós, percebi que a maioria das pessoas que estudava comigo era vendedor de produtos eróticos. Uma amiga minha me ofereceu e perguntou se eu queria vender. Foi perfeito, porque como sou da área de saúde, achei que poderia vender de forma diferenciada. Nas vendas, focava em como esses produtos podem ajudar a saúde sexual. Criei uma "butique volante". Vou até as pessoas, bato de porta em porta, entro nos salões de beleza. Onde houver uma roda de bate papo de mulheres, estou lá.

Falo o quanto é importante o uso desses produtos não só para dar prazer, mas também para prevenir de doenças. Faço também chá de lingerie, amigo oculto erótico e palestras em empresas. Eu fiz a retirada dos seios e dos ovários. No último exame que fiz, não foi mais encontrado nenhum foco de câncer. Não estou namorando no momento, mas aprendi a ter prazer, redescobri meu corpo e ter tesão por mim. Percebi que eu precisava e conseguia sentir prazer novamente com a masturbação, com vibradores e bullets. Comecei a ver filmes pornôs e ficar excitada também, um novo jeito de descobrir o prazer.

Se estimular e introduzir vibradores é importante para lembrar o cérebro de que você é capaz de sentir prazer. Não precisamos ter um parceiro para isso. Comigo funcionou muito para me conhecer, mesmo que eu não tenha um namorado ainda."