BDSM: conheça os switchers, que variam entre mandar e obedecer no sexo
Quando o BDSM (sigla para Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo) é mencionado, a primeira imagem que vem à mente é de uma pessoa mandando e outra obedecendo, ou alguém batendo e o outro, apanhando. Mas existe um meio termo entre ser a figura ativa (o chamado "top") e a figura receptora (conhecida como "bottom"): o switcher.
O termo, sem tradução para o português no meio BDSM, é usado para identificar aqueles que gostam dos "dois lados do chicote" --ou seja que têm prazer em dominar e ser dominado em momentos diferentes de suas práticas, chamadas de sessões.
Este é o caso de Akai e Scarlett Ishtar, de 21 e 20 anos, respectivamente. Ambos são os protegidos da dominatrix Nefertiti Ishtar, e descobriram seus prazeres indo à casa dela, a convite de uma de suas submissas, Odara.
"A primeira sessão foi muito louca: foi um mix de sensações e emoções. Eu cheguei lá, pela primeira vez, fui amarrada e apanhei com uma vara. Até eu chegar nessa confirmação que eu tenho hoje, sobre ser switcher, eu tive que me aceitar tanto dentro quanto fora do BDSM", lembra Scarlett.
"Desde a adolescência eu sabia que eu gostava de dor, mas eu tinha medo. Foi só quando a Scarlett me trouxe para praticar pela primeira vez que me apaixonei. Chegando aqui, foram me explicando como funcionava a dinâmica, e aí que eu percebi que eu curtia as duas coisas, mas não sabia o termo. Antes, eu acreditava que só poderia ser um, que não tinha como curtir os dois lados", conta Akai.
Akai e Scarlett praticam o BDSM sempre na presença de Nefertiti, que os orienta. Ela conta que eles até brincam de "brigar pelo poder" nas sessões, mas que tudo acontece de forma consensual e prazerosa para todos.
Preconceito no meio BDSM
A praticante (e switcher) Sol Anjo Caído*, de 35 anos, conta que descobriu sua posição no BDSM com um namorado da adolescência, que era seu dominador. Porém, ele não aceitou tão bem quando ela decidiu experimentar coisas novas.
"Quando ele estava me ensinando e eu o via me batendo, tinha uma vontade muito grande de pegar o chicote da mão dele", conta. "Eu falei que queria dominar também, mas ele disse que não aceitava. A gente teve uma briga feia, porque eu bati o pé, mas ele não aceitava".
Sol acabou fazendo uma sessão, desta vez como dominadora, e percebeu que era isso que queria. Ao contar ao parceiro que tinha se descoberto como switcher, o relacionamento acabou. Ela diz que há certa resistência de alguns praticantes.
"Eu já vi várias frases que me deixaram muito irritada. De falarem: 'Eu respeito dominadores, mas não respeito switchers, porque eles não sabem ser dominadores. Não me submeto a quem se submete também'".
Nefertiti diz que, mesmo sendo dominadora, já defendeu outros switchers por aí. "As pessoas têm medo que eles não tenham mão firme quando assumem o papel de dominação, e não é assim. Para mim, o switcher é o único que tem a verdadeira noção do que é estar dos dois lados", acredita.
Troca de papéis é benéfica para a prática BDSM
Margareth Signorelli, coach de relacionamentos e sexualidade e terapeuta em técnicas de libertação emocional, crê que saber como o BDSM funciona das duas formas é importante para trabalhar a empatia.
"Eu acho bárbaro experimentar. Eu acredito que ser switcher é muito interessante, porque eles estão mais abertos a novas experiências", diz.
Ela explica que, desde que nenhum membro da relação seja prejudicado física ou emocionalmente, não há problemas. "Praticantes de BDSM não têm o transtorno parafílico, como chamamos na psicologia, porque, se tivessem, estariam em sofrimento. Não é uma doença, é só uma orientação da sexualidade, uma preferência. O switcher não sofre por isso, ele só tem vontades diferentes, em momentos diferentes".
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