Meu crush é assexual - não curte sexo - e agora?
Talyta Vespa
Da Universa
19/01/2019 04h00
A adolescência da social media Gabriela Souza, de 26 anos, foi marcada pela insegurança: diferente dos amigos, que se empolgavam com a descoberta do sexo, transar nunca fez seus olhos brilharem. "Será que tenho algum problema?", ela se perguntava o tempo todo. Até que, há dois anos, Gabriela foi apresentada ao termo assexual em uma rede social. "Antes de entender o que eu era, eu me cobrava muito, me forçava a entrar no padrão. Agora, finalmente, comecei a respeitar meus desejos", conta.
A gaúcha conta que, mesmo após se descobrir assexual, uma condição em que a pessoa não tem vida sexual porque não tem o desejo, continua se relacionando majoritariamente com pessoas alossexuais, que é o nome designado a quem gosta de sexo. Ela aproveitou as experiências pessoais para gravar um vídeo explicando o que fazer se descobrir que o crush não é tão chegado em sexo assim. Spoiler: não é um problema.
Pergunte tudo
"É comum não saber o que é um assexual nem o que a gente busca em um relacionamento amoroso ou casual. Por isso, pergunte tudo o que você quiser. Somos muito abertos a esclarecer o que buscamos para que vivamos uma relação de bastante respeito", explica Gabriela.
"Até porque não tem regra. A assexualidade se manifesta de formas diferentes nas pessoas, então é legal saber qual o limite do seu parceiro para que você não o ultrapasse. Eu, por exemplo, não sou das que nunca faz sexo. Às vezes acontece, depende da confiança que tenho na pessoa, mas, quando rola, não passa de uma vez por mês", diz.
Não comece um sexting sem ser estimulado
Gabriela relata uma das situações que mais a incomodaram durante o papo com o crush. "Tenho conversado com um cara que, mesmo sabendo que sou assexual, fala coisas de cunho sexual o tempo todo. Uma hora cansa. Eu sou super aberta para falar de diversos assuntos, mas não é sempre que estou na vibe de sexting. Aliás, quase nunca estou. Então, não comece a falar besteira para seu crush assexual sem que ele estimule a conversa. Pode parecer forçação de barra ou que você está ultrapassando limites".
Não generalize um assexual
Gabriela faz parte de uma das várias ramificações da assexualidade, a chamada escala cinza, que caracteriza pessoas que fazem sexo raramente. Segundo o psicólogo e pesquisador especialista em sexualidade Breno Rosostolato, há vários tipos de assexualidade. "Os mais comuns são quatro: os mais ortodoxos, que não sentem desejo algum por outra pessoa nem interesse na prática sexual; os que só fazem sexo se houver algum vínculo afetivo, chamados de demissexuais; quem raramente faz sexo, independente do vínculo afetivo, os grey-assexuais, a escala cinza. E, por fim, os arromânticos que, além de assexuais, também não estabelecem vínculo emocional com outras pessoas.
Não peça que eles se esforcem para transar
A designer Camila Campos, de 25 anos, se sentiu invadida algumas vezes enquanto conversava com pessoas alossexuais. "Espero criarmos um pouco de intimidade para contar que sou assexual, para que a pessoa confie em mim e tente entender. Uma vez, estava conversando com um homem e, quando tentei explicar, ele perguntou: 'Você não pode se forçar a fazer um pouco?'. Não posso, não funciona desse jeito, e é preciso respeitar esse limite", diz.
Antes de descobrir que era assexual, o que aconteceu há pouco mais de dois anos, Camila conta que se forçava a fazer sexo na tentativa de se encaixar em um padrão social. "Agora que sei que sou uma pessoa normal, nunca mais vou me forçar a nada".
Não dê cantadas de cunho sexual
"Se eu não gosto de sexo, falar de sexo não é uma boa forma de me conquistar", explica Camila, que prefere as cantadas bem-humoradas e convites para passeios ao ar livre. "Há várias formas de demonstrar interesse, então seja criativo".
Eles não precisam de psicólogo
Camila conta que já ouviu de um peguete que ela deveria procurar um psicólogo porque, segundo ele, não é normal não gostar de transar. "Eu não acho normal ter vontade de transar e nem por isso peço que você procure um psicólogo. É agressivo e desrespeitoso".
Não os incentive a transar com gente do sexo oposto
Alguns amigos da engenheira de produção Priscila Gama, de 32 anos, insistiram que a falta de interesse dela em sexo era resultado de uma homossexualidade enrustida. "Alguns me apresentaram amigas lésbicas com o intuito de que eu saísse de um armário em que eu nunca entrei. Eu gosto de homens, mas me identifico como demissexual, só faço sexo quando estou extremamente envolvida sentimentalmente. Algumas mulheres já tiraram a roupa e me agarraram. Fui muito desrespeitada".
Dizer que ama só para transar? Sai fora!
Quando conta a um paquera que é assexual, Priscila explica que faz parte de uma vertente mais flexível da assexualidade. "Digo que sou demissexual, que só faço sexo se estiver envolvida, logo de cara. Alguns homens fingem que, depois de um dia de conversa, estão apaixonados. Um ex-paquera me escreveu que eu era a mulher da vida dele e que queria casar comigo sem nunca ter me visto pessoalmente. É horrível porque me sinto enganada e usada. Eles tentam criar uma aproximação que não existe só para conseguirem sexo. Não façam isso", afirma.
Ela, até agora, não encontrou um parceiro que estivesse disposta a conhecê-la e conquistá-la. "A maioria tenta me iludir. Os poucos que sobram são sinceros e desistem da aproximação porque acham sexo essencial".