Afinal, por que é tão caro comprar roupa de fast fashion gringa no Brasil?
Custa caro comprar roupa fast fashion no Brasil. Você já deve ter percebido. Mas qual o motivo? Os preços cobrados pela Zara podem ajudar a gente entender o porquê.
Segundo o estudo "Índice Zara", é até 84% mais caro comprar uma peça da loja aqui no Brasil quando comparado com a Espanha, onde a empresa nasceu e opera a nível mundial. Se a gente comparar com os Estados Unidos, é 18% mais caro comprar aqui do que lá.
Vamos aos motivos apresentados por Fábio Monteiro, analista do BTG Pactual e autor do estudo que é produzido desde 2014:
- É mais difícil e mais caro entregar e fabricar produtos por aqui;
- Temos uma série de impostos;
- O dólar sobe e desce demais;
- Consequência? A empresa até que fatura bem, mas tornou-se uma "linha premium" e tem menos lojas do que poderia.
A Zara é mais barata em países como a Espanha porque a produção e a entrega é "local". Por local, leia-se: os fornecedores de matéria-prima e a linha de produção estão concentrados em países como Espanha, Portugal, Marrocos e Turquia, que ficam perto um do outro.
Para ser mais preciso, 57% da produção da Zara se concentra nesses quatro lugares e os três principais centros de distribuição ficam na Espanha, de onde são entregues roupas a mais de 96 países.
A coleção precisa sair rápido
"A Zara precisa produzir e entregar o mais rápido possível para manter suas coleções em constante mudança e tirar o máximo de faturamento durante certo período. Por isso, ela paga mais caro para produzir a maior parte na Europa do que enviar para a China, o que poderia desacelerar o processo", explica Fábio.
A grosso modo, por estar mais perto do consumidor europeu, há menos custos para a entrega e também menos impostos durante todo o processo. "Por isso, na Espanha, a Zara é vista como uma marca de roupa barata; enquanto no Brasil tem uma característica mais premium".
Mas... E nos Estados Unidos?
A Zara não está muito presente na América do Sul, Central e Norte. São apenas 92 linhas de produção da empresa aqui no Brasil e na Argentina, o que representa 1,3% apenas da produção total da empresa (que chega a 7.210 no mundo).
Nos Estados Unidos, toda roupa vendida pela Zara é importada. Ainda assim, aqui os preços são 18% mais altos do que lá. Aí, ao menos para o autor do estudo, entra a questão do imposto. (Veja no gráfico abaixo)
(Fonte: BTG Pactual)
Imposto
"Há uma carga tributária complexa no Brasil, em que se paga imposto em cima de imposto", afirma.
Essa parte aplica-se não só para a Zara, mas para outras redes internacionais, como a Forever 21 e Gap, que também têm unidades no Brasil.
Em 2015, uma calça jeans da Forever 21, após uma dose de impostos de importação, ICMS e Cofins, chega a ficar 17,8% mais cara no Brasil do que nos Estados Unidos. "Por lá, eles têm uma taxa sobre preço da compra que varia de 8% a 9% por Estado, e taxas de importação mais simples de se entender", explica o consultor.
Outro fator é que o câmbio no Brasil é o que chamam de "volátil": um dia está de um jeito, em outro dia sobe demais, desce demais e deixa a empresa mais insegura de apostar. Assim, ela aplica preços maiores para garantir o faturamento e o lucro.
Uma calça jeans da Zara nos Estados Unidos sai por 39 dólares -- o que é até sofisticado, se considerarmos que a Target, rede de varejo popular por lá, oferece calças jeans por 12 dólares.
Já aqui, a mesma calça da Zara de 39 dólares, na conversão, dá mais de R$ 180. No preço final, a peça sai por R$ 199, de acordo com o catálogo online da marca.
Rede poderia ser maior no Brasil
A empresa, que hoje tem pouco mais de 50 lojas -- 13 das quais em São Paulo e com unidades em mais 16 Estados, tirou o pé da intenção em criar mais lojas, rede de fornecedores e distribuidores, o que poderia ter diminuído taxas para importação e outros gastos. Tanto que não é tão difícil botar as mãos numa peça que atravessou continentes para ser vendida por aqui.
"A Zara ser mais cara no Brasil do que em outros países não significa que ela é um fracasso. A empresa mantém uma clientela de sucesso, mas nosso estudo mostra que a rentabilidade e a presença no país poderiam ser maiores", conclui Fábio Monteiro.
A Universa enviou questionamentos à Zara, mas a empresa não se pronunciou até o fechamento desta reportagem.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.