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"Calma, sou gay": homem não pode tocar em mulher só por ser homossexual

A bibliotecária Caroline Diniz, 23, de Belo Horizonte (MG), já deixou festa chorando porque um casal de meninos ficou apertando a bunda dela - Arquivo Pessoal
A bibliotecária Caroline Diniz, 23, de Belo Horizonte (MG), já deixou festa chorando porque um casal de meninos ficou apertando a bunda dela Imagem: Arquivo Pessoal

Natália Eiras

Da Universa

23/01/2019 04h00

"Está tudo bem, amiga. Sou gay. Eu posso". Se você é mulher e frequenta lugares LGBT, já deve ter ouvido algo do tipo de um menino gay, após ele ter pego em uma parte do seu corpo e de ter se esfregado em você dançando, por exemplo. É evidente que homens gays sofrem bastante preconceito. Porém, isso não impede que rapazes homossexuais acabem reproduzindo alguns comportamentos machistas. "Muitos acham que por supostamente não sentirem atração sexual por mulheres podem ultrapassar nosso espaço pessoal", fala a bibliotecária Caroline Diniz, 23, de Belo Horizonte (MG). 

No entanto, este tipo de "brincadeira" pode, sim, ser assédio. De acordo com o artigo 215-A da lei de número 13.718, de 2018, importunação sexual é "praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro"

"Esses atos tornam o assédio ainda mais naturalizado do que já é. A gente já tem isso tão forte na nossa cultura e, por isso, talvez alguns meninos gays achem que está tudo bem. A real é que não me importo com a orientação sexual, só não quero ser assediada", desabafa a estudante de terapia ocupacional Bárbara Epifanio, 20, de Jacareí (SP). 

A Universa conversou com algumas mulheres e perguntou quais eram as brincadeiras que homens gays faziam e que elas consideravam assédio: 

Comentários vulgares

Comentários relacionando a vagina a coisas nojentas são consideradas misóginos pelas meninas. Porém, esse não é o único tipo de fala que incomoda as mulheres. "Ficar comentando sobre o meu corpo, falar do tamanho do meu peito ou da minha bunda me deixa constrangida", fala a publicitária Penelope Bernardi, 23, de São Paulo (SP). A psicóloga Mayara Tavares dos Santos, 26, de São Paulo (SP), já passou por uma situação em que um comentário foi para um lado extremo. "Estava de blusa tomara que caia e sem sutiã no aniversário de um amigo. O namorado dele da época, que estava sentado ao meu lado na mesa do barzinho, simplesmente puxou a minha blusa para frente, mostrando meus seios para todos, dizendo que eles eram muito caídos para eu usar uma blusa daquelas, sem sutiã", diz Mayara. 

Dança sensual na balada

No meio da balada LGBT, é fácil fazer amizade na pista. Tanto que mulheres que frequentam esses ambientes dizem que é comum começar a dançar com uma pessoa que elas não conhecem. Nem por isso os homens gays podem ir tomando "liberdades" com uma pessoa só para curtir música que está tocando. "Uma vez aconteceu de um cara já vir me encoxando na balada quando eu estava dançando funk com a minha irmã. Quando pedi licença e disse para ele sair, ele disse que era gay, que estava tudo bem", fala Bárbara Epifanio. "Eu disse que isso não me interessava, que não queria ele dançando atrás de mim. Depois de insistência dele e grosseria minha, ele saiu". 

Passada de mão

Alguns gays não hesitam, como uma brincadeira, em apertar a bunda ou os seios de uma menina, seja ela uma amiga ou uma pessoa que ele viu na balada. No entanto, as mulheres costumam se sentir invadidas tanto quanto se sentiriam se fosse um homem heterossexual a dar uma "passada de mão". "Já briguei com muitos gays porque eles não entendem como podem ser invasivos. Minha bunda é bem grande e eu já perdi as contas de quantas vezes eles deram tapas ou a apertaram. É horrível", diz Caroline Diniz, que já deixou uma festa bastante constrangida por causa desse tipo de atitude. "Uma vez, dois rapazes que eram um casal cismaram comigo em uma balada LGBT e foi tanto assédio que fui embora chorando. O tempo todo eles apertavam a minha bunda e meus seios. Eu pedia para parar e eles riam da minha casa", narra a jovem. 

Roubar beijo

Experimentações são sempre muito bem-vindas, mas quando elas são consensuais. E isso vale também para quando um menino gay se sente atraído por uma colega e quer beijar uma menina só pela curtição. "Mas teve um amigo meu que ficou querendo me beijar em uma festa de faculdade. Eu tirava o rosto e ele continuava forçando, foi péssimo", narra Penelope. "Eu comentei que namorava, pedia para ele parar, mas ele falava que como era gay ele podia me beijar sem incomodar o meu companheiro". E isto vale mesmo que seja um selinho ou um beijão de língua. "Não é porque é gay que deixa de ser desrespeitoso", complementa a jovem.