"Ele era obcecado por ela", diz namorada de motorista assassinada em Goiás
A corretora de imóveis Juliana Pereira, de 40 anos, contou à Universa que o empresário artístico Parsilon Lopes dos Santos, 45, preso após ter confessado assassinar Vanusa da Cunha Ferreira, de 36, alimentava uma obsessão pela motorista e técnica de enfermagem -- mesmo sabendo que ela era homossexual. Juliana e Vanusa namoravam e planejavam construir uma casa e se mudar para Caldas Novas, no interior de Goiás.
Vanusa desapareceu no sábado (19), em Aparecida de Goiânia (GO) e na tarde de domingo (20) foi encontrada, já sem vida, perto de um motel em Goiânia. Na quarta-feira (23), Santos confessou os crimes de tentativa de estupro, homicídio, vilipêndio a cadáver e ocultação do corpo. Ele está preso na Delegacia de Investigações Criminais desde então. Segundo Juliana, o suspeito estaria também devendo cerca de R$ 1.300 a Vanusa, referente a corridas que não teriam sido pagas.
Segundo a corretora de imóveis, Santos era cliente de Vanusa havia três meses e havia se tornado invasivo no comportamento. "Eu achava um pouco estranho o fato de eu estar com ela e ele ficar mandando mensagem. Quando ela não respondia, ele insistia e insistia. Eu falava 'meu Deus, amor, esse cara é louco' e respondia 'não, é porque ele é sozinho mesmo, ele precisa que eu faça essa corrida, mas não vou fazer porque estou com o meu amor, não vou sair daqui para ir lá, já falei que estou ocupada e ele fica insistindo'", relembra.
"Às vezes, ele mandava áudio dizendo 'você está tão ocupada assim que não pode me levar em tal lugar?'. Eu achava demais. Mas ela disse 'não, amor, esta é a última corrida que vou fazer com ele, porque vou receber o restante que ele está me devendo, dá quase R$ 1.300 e preciso pagar umas coisinhas e arrumar os pneus'", diz Juliana que, por também já ter tido experiência como motorista, estranhava o comportamento de Santos.
"Não era igual a qualquer outro passageiro. Como eu também já trabalhei com aplicativo, eu sei como tratam a gente. Quando a gente fala que está ocupada, e que não vai poder atender a pessoa para uma corrida particular, eles respondem: 'OK, então, pode me passar o contato de alguém que você conheça, de confiança?'. Ele não era assim. Tinha que ser ela."
Para Juliana, o crime pode ter sido resultado de uma rejeição de Vanusa, e ela não descarta que também tenha tido caráter homofóbico. "Ele sabia que ela tinha essa orientação, então pode ser que ele tenha tentado algo para mudar a orientação sexual dela, como a maioria dos homens faz quando sabe. No caso dele, era uma obsessão por ela", diz.
A corretora chegou a se questionar se estava sendo muito ciumenta. "Eu achava que era um pouco de ciúme meu, mas realmente estava me incomodando. Eu falava para ela que esse cara era apaixonado, mas ela falava que não, que ele tinha namorada e que era 'até bom' assim [que ele soubesse da orientação sexual dela] também porque ela não ficaria com ciúme por [Vanusa] andar para baixo e para cima com ele. Mas como ele viu que ela não aceitou [fazer sexo com ele], fez o que fez. Estou sem chão! Revoltada, sofrendo muito e não tenho palavras para expressar a dor que sinto. Dói e dói muito saber que foi tirada a vida de uma mulher maravilhosa como ela, jovem, forte, batalhadora, fiel, companheira... Me faltam palavras para falar da Vanusa, ela era uma supermulher".
A relação de Juliana e Vanusa
A corretora e a motorista namoraram por três anos, mas haviam enfrentado um período de alguns meses de separação após Juliana ter se mudado para Fortaleza (CE) a trabalho. Elas haviam reatado o relacionamento no mês passado.
"No dia 18 de dezembro, nos reencontramos. Foi lindo, ela chegou por volta das 3h da manhã em Caldas Novas (GO), onde eu estava a passeio, e foi ao meu encontro. Daquele dia para cá, nos encontrávamos às escondidas até que eu estivesse 100% livre para gritar para o mundo inteiro o nosso amor. Ela aceitou me encontrar assim, às escondidas, esperou eu voltar de viagem com a minha família e com a [namorada] que eu tinha, para que não magoasse a mulher com quem eu estava. Nos falávamos dia e noite, mesmo em viagem. O combinado era: 'dia 16, você será só minha, minha vida'. Palavras dela. E aconteceu."
Segundo Juliana, as duas tinham planos de irem morar juntas em Caldas Novas. "Já estávamos com tudo certo. Ela ia sair do Hugol [Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira, onde também atuava como técnica de enfermagem], e trabalharia como enfermeira porque, como tenho contatos lá na área da saúde, e estava tudo encaminhado".
Juliana costumava se preocupar com a rotina de Vanusa, que considerava arriscada.
"Ela trabalhou no Hugol até as 19h da sexta, fez uma videochamada a caminho da rodoviária, para então começar a trabalhar com ele. Essa foi a última vez em que a vi viva, linda, feliz e maravilhosamente contente, falando que estava com saudades demais e que precisava ver o amor dela. Nos falamos até às 2h32 do dia 19. Eu tinha muito medo, sabia o perigo que ela corria. Mas, nessa noite, ela estava em um lugar público, com pessoas que até então ela conhecia, não estava nas quebradas da cidade correndo risco. Até que teve esse fim terrível."
A corretora ainda foi a primeira a notar a ausência da namorada e a iniciar as buscas por ela. "Queria muito tê-la encontrado com vida. Tanto busquei, tanto procurei e tanto quis trazê-la para casa e não fui capaz. Mesmo sendo a primeira a dar falta dela e começar as buscas. Era só isso que eu queria."
O conforto para ela, neste momento, vem justamente de seus últimos momentos ao lado de Vanusa.
"Nós tínhamos que ficar bem. Deus fez com que nos reencontrássemos do dia 18 de dezembro ao dia 18 de janeiro. Na madrugada do dia 19, nos vimos novamente e ela foi encontrar com Deus. Já estava escrito o dia e a hora dela. Mas ela precisava estar em paz comigo e eu com ela. O que me conforta é que ela se foi muito feliz e realizada comigo, o coração dela transbordando de amor. Ela passou os últimos dias com o amor da vida dela e eu a amando mais que nunca. Só espero que o culpado realmente pague e que a justiça seja feita."
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