125 mulheres sofreram feminicídio ou tentativa nos 23 primeiros dias do ano
Pode-se dizer que Tamires era nostálgica. Em sua página do Facebook, há dezenas de fotos analógicas, para reviver o que ela chama no título do álbum de "velhos tempos". No início do ano passado, comemorou com mais uma dezena de fotos o nascimento da filha. Seu relacionamento iniciado há dois anos, porém, não ia nada bem. O casal estava em vias de separação — e o suspeito e pai da criança a teria perseguido. O corpo de Tamires foi encontrado com a filha, de 11 meses, que estava viva sobre o seu colo. As causas da morte estão sendo investigadas.
Casos como esse estão no noticiário diariamente e deixam as pessoas indignadas. Todos parecem concordar que mulheres não devam ser espancadas, estranguladas, enforcadas ou baleadas por ex-parceiros, maridos, namorados e parentes. Mas é importante frisar que o Brasil já registrou centenas de casos deste tipo apenas nos primeiros 23 dias de 2019.
Levantamento dá amostra da violência
Um levantamento feito pelo advogado Jefferson Nascimento, especialista em Direito Internacional, constata que em 2019, 125 mulheres foram mortas ou feridas até essa quinta (24) no país. Os dados são atualizados por ele diariamente, a partir de casos veiculados pela imprensa. É apenas uma amostra informal, uma vez que nem todos os casos são veiculados ou classificados como feminicídio pela polícia — ou seja, o número provavelmente é muito maior. Só de segunda (21) a quarta (23), dez novos feminicídios foram adicionados ao mapa.
Confira o mapa abaixo
"Tomei o cuidado de indicar o nome das vítimas ao lado de cada situação, dado que é importante dar visibilidade às suas histórias e individualidades", ele diz à Universa. De fato, Nascimento tem um ponto: ao lermos as histórias das mulheres, como Tamires, percebemos que existe uma constante de relacionamento abusivo.
A defensora pública Paula Sant'Anna Machado de Souza, coordenadora do Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos das Mulheres, da Defensoria Pública do Estado de São Paulo afirma que analisar os dados de violência contra a mulher faz perceber que na maioria dos casos a questão está dentro de casa. O Brasil é o país com a quinta maior taxa de assassinatos de mulheres.
"O que resolveria seria trabalhar em dois pontos: a prevenção ao discutir a violência de gênero nas escolas, no trabalho, e, quando a violência já existe, ter um atendimento humanizado e completo. As medidas protetivas não devem ser apenas dadas, mas também fiscalizadas pelo Estado", afirma Paula.
Histórias que comovem
Thayne Carrile foi mãe recentemente e conta que tem sonhado com a irmã. São nos sonhos que retoma a presença de Layane Carrile Silva, morta com um tiro de espingarda na cabeça na semana passada em São Paulo. Segundo a família, o principal suspeito é o tio Jean Michel, que não teria gostado da união da sobrinha com um homem dez anos mais velho. "Por que fizeram isso com você? Por que tiraram seu direito de viver, se feliz, por que te tiraram de mim?", escreveu a irmã no Facebook. A vítima tinha 15 anos.
Outro feminicídio foi o de Francisca Batista da Silva, que engatou um namoro há menos de um ano com Sandoval Santos Bastos. Não se sabe o que eles discutiram ao entrarem em casa, mas Francisca não saiu mais do cômodo onde os dois moravam no Capão Redondo, zona sul de São Paulo. O corpo dela foi carregado por Sandoval e abandonado a 200 metros do local.
Selma Santos Silva, de Salvador. Era dia 16 de janeiro e ela vendia acarajé com a mãe pelas ruas da capital baiana, quando uma bala a perfurou e a matou. Testemunhas relatam que Selma foi atingida pelo ex-marido, Sérgio Santos Reis, que se matou em seguida. Os dois haviam se separado e estavam discutindo quando teriam começado as agressões.
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