Ela tem 25 anos e já é considerada uma das jovens mais influentes do mundo
Aos 25, Laís Leão, a curitibana que se formou em Arquitetura e Urbanismo há menos de dois anos, já foi reconhecida pela União Europeia como uma das jovens mais influentes do mundo. Seu trabalho de conclusão de curso foi selecionado para o European Development Days (EDD 2018), um congresso que acontece em Bruxelas, na Bélgica, e apresenta ideias inspiradoras para enfrentar diversos desafios que afetam o mundo.
A única brasileira a integrar o evento, no ano passado, foi Laís. "Para mim, foi muito inesperado, porém, bastante gratificante. Quando decidi realizar essa pesquisa, não havia nada a respeito e, muitas vezes, me perguntei: 'Será que estou doida?'. Mas esse reconhecimento me mostrou que estava certa e foi uma forma efetiva de provar que não estava falando bobeira", afirma.
Na faculdade, Laís decidiu que seu TCC deveria relacionar urbanismo e desigualdade de gênero, com o objetivo principal de entender quão seguras as pessoas se sentem nas grandes cidades. Ela conta que ficou um ano pesquisando, sem encontrar referência alguma. Então, decidiu fazer entrevistas e, em seu estudo, ouviu cerca de 500 pessoas. "Meu interesse não foi compreendido por muitos. Ainda assim, decidi que deveria insistir no tema", diz. Durante a pesquisa, Laís percebeu que as mulheres se sentem muito mais inseguras nos espaços urbanos, optando por caminhos mais longos e, consequentemente, desperdiçando tempo e recursos.
A proposta do trabalho era avaliar como e por que as pessoas se sentem excluídas, qual a percepção de segurança que têm e quais locais são normalmente evitados. Segundo Laís, há uma diferença básica entre o medo sentido pelos homens e pelas mulheres. "Enquanto eles têm medo de terem o celular roubado, elas sofrem com o medo do estupro", conta.
E foi essa pesquisa que Laís decidiu levar ao evento internacional. "Queria muito apresentar meu estudo sobre a situação das mulheres no espaço urbano e falar do contexto brasileiro", afirma. O trabalho foi selecionado e ela integrou um painel de alto nível chamado Cidades, para jovens mulheres e garotas, ao lado de Maimunah Mohd Sharif, diretora executiva do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-Habitat). "Ela é uma referência em planejamento urbano e foi uma honra para mim", diz. Durante o evento, 16 jovens líderes foram escolhidos devido à sua representatividade e a arquiteta de Curitiba representou o Brasil.
De olho nas calçadas
Laís conta que, desde muito cedo, as calçadas lhe chamavam a atenção. Ou melhor, o desalinhamento delas, com pedras soltas, degraus, árvores baixas atrapalhando a passagem. Ela enxerga nas calçadas um obstáculo muito grande para a questão da segurança em espaços urbanos. "A percepção de segurança é quase 100% visual e, se a pessoa não vê uma possibilidade de fuga, sente medo de forma inconsciente. No entanto, a questão já se naturalizou tanto que as pessoas deixam de enxergar isso como um problema", afirma.
Além das calçadas em desníveis e esburacadas, quadras muito longas, lugares vazios, terrenos baldios com muito mato e muros de concreto lisos aumentam a sensação de insegurança. A arquiteta defende que práticas simples já poderiam atenuar o problema, como um manual de calçadas seguras que todos os moradores pudessem seguir como padrão; manutenção dos terrenos; instalação de cercas em substituição aos muros etc.
Foi pensando em tudo isso que Laís retornou da Europa determinada a colocar a mão na massa. "Queria criar algo que fosse fisicamente 'entregável'", diz. E assim nasceu a Rede Incities, que será lançada oficialmente no dia 8 de março, para dar suporte e articular projetos e pessoas que trabalham em prol de cidades mais seguras para as mulheres. "É importante estarmos conectados para enxergar o problema, buscarmos novas ideias e ações. Além disso, devemos influenciar políticas públicas para conseguir ter cidades mais justas", defende. De acordo com Laís, não é um projeto para ser desenhado de forma solitária, mas unindo interesses, pois ele pode ser replicado em outras cidades da América Latina.
A perspectiva é que, ainda neste ano, a iniciativa impacte diretamente 1.500 pessoas, fazendo-as, ao menos, refletir sobre o assunto. "É um número pequeno, mas a ideia é que vá causando uma reação em cadeia", afirma. Para ela, apenas ações concretas podem gerar cidades mais seguras.
Experiência em projetos sociais
A arquiteta cresceu em uma família envolvida com trabalho voluntário e social. Durante a fase da faculdade ficou um pouco afastada, devido à carga puxada de estudos. Mas, assim que terminou o nível superior, passou a integrar a ONG Teto, que constrói casas para famílias em situação de vulnerabilidade.
"Por meio desse trabalho comecei a ter contato com líderes comunitárias mulheres e a entender mais sobre o contexto da mulher da periferia na utilização do espaço urbano. Percebi que meu trabalho poderia ser muito mais amplo", diz. Ela agora, mais do que nunca, busca dar voz a essa parcela da população. "Ainda estamos muito atrasados no que diz respeito a essa temática, mas é importante darmos o primeiro passo", finaliza.
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