"Quis me abraçar", diz noiva de cadeirante que ficou em pé em casamento
O consultor de vendas Hugo Rohling, de 38 anos, queria ver a noiva, a maquiadora profissional Cinthia Zanuni, de 33 anos, de uma maneira inédita no dia do casamento dos dois.
Cadeirante, ele nunca tinha tido a oportunidade de olhar para ela ou abraçá-la de pé. Por isso, sugeriu que eles encontrassem uma maneira de fazer este momento acontecer durante a dança do casamento dos dois, em 5 de janeiro.
O momento foi realizado com a ajuda do pai e do irmão do noivo, que o sustentaram através de fitas de velcro que prendiam as pernas de Hugo às dos dois, possibilitando que o casal -- na verdade, um quarteto -- curtisse parte da dança nesta posição. E o vídeo que registrou a emoção deste momento conquistou a internet: até o momento, o casal contabiliza mais de 800 milhões de visualizações, além de muitas mensagens de apoio e agradecimento pelo exemplo inspirador do casal.
Cinthia, no entanto, não esperava toda essa comoção em torno de sua história de amor com Hugo.
"Fiquei muito emocionada na hora. Era um pedido dele poder ver a festa de cima como todo mundo, poder me abraçar. Mas eu jamais imaginava essa repercussão. Até hoje estão nos mandando relatos de pessoas [cadeirantes] que já tinham desistido da vida e que voltaram a sonhar em ter uma família. Mães de crianças com necessidades especiais que acalmaram seu coração em relação ao futuro delas", contou em entrevista à Universa.
Para que a dança pudesse acontecer, Cinthia e Hugo contaram com a ajuda da irmã e do cunhado dela, coreógrafos de festas de casamento e debutante.
"Eu não estava nervosa, mas eu já sabia que ele ia levantar. Não foi uma surpresa para mim, foi surpresa para os convidados. Só ensaiamos duas vezes e sem o velcro, então não sabíamos se ia dar certo. O Hugo tem alguns espasmos às vezes, quando ele está muito cansado. Se ele estivesse com espasmos, não faríamos a dança. Então preferimos não contar para ninguém."
No entanto, não foram apenas os desafios da valsa que envolveram a união do casal. Segundo a noiva, eles passaram por outras dificuldades durante o planejamento da cerimônia.
"As pessoas não estão preparadas para [a inclusão de cadeirantes]. Lua-de-mel com acessibilidade foi difícil. Também não vemos modelos cadeirantes em revistas, o Hugo não tem referencial porque a moda não enxerga o cadeirante como consumidor em potencial. O terno foi a parte mais difícil porque a gente não tinha ideia de fazer um terno que desse certo. Se ele deixasse aberto, enroscava na roda, se fechasse, 'subia' na frente na hora em que ele tocasse a cadeira. A gente teve que mandar fazer e pagamos uma fortuna."
Cinthia conta que ela e Hugo já viveram diversas situações de preconceito, mas garante que o fato de Hugo ser cadeirante não a fez questionar o relacionamento nem mesmo no seu início, há cerca de 2 anos.
"Nós nos conhecemos em um aplicativo de relacionamento e eu achei que ele era lindo. Como no Instagram dele tinha foto em que estava na cadeira, ele achou que eu tinha visto. Mas conversamos por muitos dias sem que eu soubesse", relembrou.
"Até que, um dia, ele foi até o meu perfil e curtiu várias fotos minhas. Eu fui fazer o mesmo, vi um vídeo dele na cadeira de rodas com o sobrinho e perguntei: 'Hugo, você é cadeirante?'. E ele disse: 'Logo vi que você não sabia, né? Olha, se você não quiser mais conversar, eu vou entender. Só curti suas fotos porque te achei muito interessante'. Mas eu respondi pedindo que ele me contasse a história dele, quem sabe eu também não o acharia interessante?".
Entre a primeira mensagem e o primeiro encontro, houve vinte dias de espera. "Nosso primeiro encontro foi no drive-thru do Mc[Donalds] porque eu tinha medo, não sabia como agir, não sabia onde levá-lo, como ajudar, nós só fomos ficar depois de mais uns 20 dias que a gente estava saindo. E aí no meu aniversário, um mês e pouquinho depois, ele me pediu em namoro."
O namoro evoluiu rápido e, aos 5 meses, os dois já falavam em casamento. Mas logo eles receberam uma má notícia: Hugo foi demitido da empresa onde trabalhava há 10 anos.
"Foi aí que resolvemos que a gente trabalharia junto, porque eu viajo muito dando curso de maquiagem e se a gente realmente queria casar, a gente teria que trabalhar junto. Deu muito certo. Também criamos um projeto de acessibilidade em viagens, para orientar a hotelaria da real adaptação necessária. Em mesa de restaurante, por exemplo, a cadeira nunca encaixa, ele tem que comer de lado. Quando a gente chegou em João Pessoa, por exemplo, apesar de ser o lugar mais acessível que nós encontramos até hoje, eu entrei e saí de 20 hotéis procurando um quarto que fosse realmente adaptado", contou.
Os esforços renderam frutos e, três meses depois, Hugo decidiu pedir Cinthia em casamento.
Foi no dia 20 de abril [de 2018], no casamento da minha irmã. Na minha cabeça, passou nada e tudo ao mesmo tempo. Eu sabia que seria ele para o resto da vida. Digo a ele todos os dias que o amor é uma escolha, e ele foi a melhor escolha da minha vida", concluiu ela.
*Colaborou Mariana Gonzalez
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