16 tabus e crenças que envolveram a menstruação ao longo da história
Regras, "aqueles dias", fluxo, mênstruo, menorreia, "chico"... São vários os nomes dados à menstruação, assim como também são muitas as crenças e ideias equivocadas a respeito desse assunto que, ainda hoje, é cercado de preconceito e desconhecimento.
Conselheira secreta
Modess, o primeiro absorvente interno descartável, foi lançado nos Estados Unidos na década de 1930 pela Johnson&Johnson e chegou por aqui em 1945. Como menstruação era um assunto pouquíssimo discutido em casa, por pudor e preconceito, a empresa criou uma conselheira feminina fictícia chamada Anita Galvão para responder as cartas das consumidoras em total sigilo. Além de orientações sobre como usar o produto, as mulheres pediam também orientação e dicas sobre questões sexuais.
Medo do frio
Por mais que os costumes tenham evoluído e o acesso à informação ampliado, muitos mitos ainda persistem na cabeça das brasileiras. Segundo um estudo global sobre a menstruação ao redor do mundo feito pela marca Sempre Livre em parceria com a KYRA Pesquisa & Consultoria, 43% das jovens entre 14 e 24 anos não andam descalças quando estão "naqueles dias". De acordo com crenças populares que não correspondem à realidade, esse hábito pode piorar as cólicas. Além disso, 31% evita lavar os cabelos --ou conhece alguém que evita--, com medo de ficar doente (o que também é um mito).
Fase vergonhosa
Em muitos lugares da África do Sul, a menstruação ainda é motivo de vergonha. Para muita gente, as mulheres ficam "impuras" durante essa fase. Por isso, não podem encostar em imagens religiosas, que são vistas como sagradas, nem entrarem em templos.
Lista de proibições
Considerado o país com uma das culturas mais machistas do mundo, a Índia não é --literalmente-- um país bom para menstruar (ou para ser mulher, na verdade). Quando estão menstruadas, as mulheres são consideradas "sujas" e intocáveis. Algumas pessoas, inclusive, acreditam que elas fiquem amaldiçoadas durante esse período, o que as impede de entrar na cozinha (sob o risco de contaminar os alimentos), dormir na própria cama, se sentar à mesa com a família e sair de casa.
Sem banho
Nas Filipinas, uma parcela significativa das mulheres não toma banho nem lava o cabelo durante a menstruação, pois ainda impera o mito de que a água faz o "sangue subir para a cabeça, causando loucura". Elas também são proibidas de preparar certos alimentos, como maionese e bolo, porque acreditam que não ficam tão bons.
Tampões monstruosos
Durante a Idade Média, época em que a mulher era tida praticamente como pária da sociedade, a Igreja Católica não via com bons olhos a menstruação. Tecidos, principalmente o linho, eram usados como absorventes e depois lavados e reutilizados. Como não havia calcinhas na época, as moças enrolavam os panos e prendiam como podiam quando estavam menstruadas. Só que, com uma certa frequência, esses "absorventes" caíam no chão e causavam grande alvoroço entre as pessoas ao redor. Os homens, em especial, os chamavam de "tampão monstruoso". As mulheres usavam noz-moscada ou pequenas bolsas de flores secas para esconder o cheiro do tecido encharcado de sangue.
Perigo ao pênis
Alguns homens da época medieval achavam que a menstruação era algo venenoso, que poderia estragar o vinho e as colheitas e até deixar os animais loucos. Menstruar era algo imundo e poluído e alguns médicos acreditavam até que era uma doença mensal que precisava ser tratada. Sexo, nem pensar: o sangue podia queimar a pele do pênis.
Disney audaciosa
Apesar de sua fama de pudica, a Disney criou um curta-metragem sobre menstruação em 1946 em parceria com a empresa Kimberly-Clark. Ele fazia parte de uma série de animações específicas para exibição em escolas americanas. "The Story of Menstruation", disponível no YouTube, explica a meninas com idades entre 11 e 17 anos o que é a menstruação e como elas devem se portar durante o ciclo menstrual, com dicas curiosas como "você pode e deve tomar banho". Em 2015, o curta assistido por pelo menos 105 milhões de garotas foi escolhido para fazer parte do National Film Registry, seleção de filmes preservados pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, por conta de seu significado "cultural, histórico e estético".
Termo ofensivo
Quem é, afinal de contas, o homem citado na expressão "Tá de chico?". Na verdade, a frase não se refere a nenhum Francisco específico para aludir à menstruação. Em Portugal, "chico" é sinônimo de "porco" --por isso temos em nosso vocabulário a palavra "chiqueiro". Ou seja, trata-se de uma forma nada lisonjeira de relacionar a menstruação à imundície.
Sangue é normal
Em 2017, a marca britânica de absorventes Body Form fez uma pesquisa com 10 mil consumidoras e descobriu que 74% delas gostaria de ver representações mais realistas da menstruação em anúncios. Assim, em vez de mostrar mulheres sorridentes e felizes em calças imaculadamente brancas para provar a qualidade de seus produtos, a Body Form criou a campanha #bloodnormal (sangue é normal, em tradução livre) para mostrar situações reais, como um homem comprando um pacote de absorventes para a parceira e o sangue escorrendo pela perna de uma mulher enquanto ela toma banho. A campanha foi bem recebida.
Rituais millenials
Nascida na Austrália e radicada em Bali, na Indonésia, a "alquimista tântrica" Nadine Lee defende que as mulheres devem beber o seu próprio sangue menstrual para melhorar os seus níveis de energia e, consequentemente, dar um impulso na saúde, incluindo a sexual. Inspirada na tradição xamã, ela se refere ao fluido mensal feminino como "menstruação mágica" e acredita que "o sangue menstrual é como o sêmen para o homem, uma força vital". Em diversas partes do mundo, há movimentos femininos que praticam rituais com sangue menstrual --depositando o líquido em plantas ou fazendo máscaras de beleza. Nada disso, no entanto, tem comprovação científica.
Substância tóxica
Em vários momentos, o sangue é visto como impuro ou até mesmo venenoso. Tabus relativos à menstruação podem ser encontrados na Bíblia (Levíticos) e no Alcorão destacando a "impureza" não só da mulher, mas de tudo aquilo que ela toca ou usa. Até o final da década de 1950, o meio médico insistia numa velha crença europeia de que o útero produzia uma substância tóxica chamada menotoxina.
Veneno puro
No século 18, no Brasil, acreditava-se que o sangue menstrual podia ser o ingrediente principal de poções para enlouquecer pessoas e até mesmo para matar bebês. Em 1780, em São Paulo, uma mulher confessou no tribunal que dera o próprio sangue mênstruo misturado a vidro moído para matar o marido.
Leite azedo
No século 19, qualquer assunto relativo ao sexo era tabu nas tradicionais famílias brasileiras. Quando menstruavam, as mulheres se isolavam dos demais --crendices de que o sangue podia azedar o leite, entre outras lendas, dominavam o imaginário popular. E os "paninhos" deviam ser lavados e pendurados para secar em locais não alcançáveis à visão dos maridos.
Recalque masculino
Em 2000, o historiador norte-americano Robert S. McElvaine cunhou o termo "síndrome não-menstrual" ou SNM para descrever a inveja reprodutiva que levou (e ainda leva) os homens, ao longo da história, a estigmatizarem a menstruação e dominarem socialmente as mulheres como forma de "compensação psicológica para aquilo que o homem não consegue fazer biologicamente".
Data especial
Em 2014, a ONG alemã Wash United estabeleceu o dia 28 de maio como o Menstrual Hygiene Day (Dia da Higiene Menstrual, em tradução livre) com o objetivo de educar meninas e mulheres para quebrarem o silêncio a respeito do tema e, assim, acabar com tabus e crenças erradas.
FONTES:
"Histórias Íntimas - Sexualidade e Erotismo na história do Brasil" (Ed. Planeta), de Mary del Priore
"O guia dos curiosos - Sexo" (Panda Books), de Marcelo Duarte e Jairo Bouer
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