Gabriela incomoda no BBB: afinal, militância atrapalha o convívio social?
Antes de entrar no Big Brother Brasil 19, Gabriela Hebling deixou uma coisa clara: é militante dos direitos sociais. Durante o jogo, abordou questões importantes contra o racismo mais de uma vez. Logo nas primeiras semanas, repreendeu Paula por utilizar a expressão "cabelo ruim", dizendo que "ruim é o preconceito".
Depois, ao escutar as mesmas palavras de Elana, tentou novamente uma abordagem, mas não foi bem recebida. Sugeriu uma mudança da frase "meu cabelo fica ruim" para "não fica do jeito que eu gosto", mas a colega não concordou. Com isso, as duas se estranharam.
Apesar de demonstrar que tem ideias feministas, Elana revelou em outra ocasião que sente "medo de conversar" com Gabi e Rodrigo. "Porque cada palavrinha...", ela justificou reticente. E não é a única: recentemente Maycon chamou Gabriela de "extremista" -- o que a deixou magoada.
A participação da artista na casa levanta a dúvida: a militância pode atrapalhar no convívio com os demais?
O despertar
De acordo com Livia Marques, psicóloga organizacional, o engajamento em uma causa social costuma ser motivado por uma identificação com o tema. "A pessoa compreende a problemática e se enxerga dentro dela. Por exemplo: um negro que participa de movimentos ou coletivos étnicos-raciais percebe o quanto pode ser prejudicado pelo racismo ou o tanto de sofrimento que gera aos seus semelhantes". Celso Braga, psicólogo e sócio-diretor do Grupo Bridge, complementa: "O militante entende que vale a pena expandir a visão dos outros sobre um determinado assunto e acredita que, com a sua contribuição, pode ajudar a sociedade a superar uma limitação".
Olhar diferenciado
"Se uma pessoa toma consciência do que é o machismo, por exemplo, fica difícil para ela permitir que situações ou termos que colaborem com a injustiça de gênero passem em branco", defende Lívia. A profissional explica que não se trata apenas de ter compaixão, mas de tentar evitar a repetição das situações. "Uma feminista tem consciência do quanto os moldes patriarcais são prejudiciais e trazem consequências sérias para outras mulheres, por isso se incomoda tanto com eles", completa. As reações não são recebidas tranquilamente. "Pelo contrário, elas podem gerar muitos conflitos. A pessoa que levanta as questões pode ser vista como chata e problematizadora", aponta.
Militância interfere na vida social?
Os profissionais da área divergem. Na visão de Braga, caso a pessoa não saiba adequar seu discurso às circunstâncias e tornar o assunto interessante, a resposta é sim. "A repetição pode tornar o convívio tenso. A pessoa pode passar a ser evitada pelos demais", garante.
Já na opinião de Lívia, a situação mais frequente é o rompimento de laços. "O contato com pessoas próximas e que não compartilham de suas ideias pode ser cortado. Em geral, o militante tenta se posicionar, conversar e argumentar. Mas em alguns casos, não é possível continuar com a convivência", diz. Para a profissional, esses rompimentos nem sempre são considerados um prejuízo para a vida social. "Deixar de lado algo que considera justo pode ser mais prejudicial para as emoções do que ter uma postura passiva em nome do convívio", pondera.
Se posicionar é estressante
Lívia alerta que rótulos como o de "extremista", dado por Maycon à Gabriela, costumam ferir psicologicamente. "Este, em especial, pode ser dolorido para uma mulher negra, porque elas estão acostumadas a serem silenciadas na sociedade. Dentro da pirâmide, são as últimas a terem suas opiniões validadas", relembra. A profissional também aconselha a quem se engaja com causas sociais: "Quando perceber que não está bem, se acolha. Um militante muitas vezes chega a adoecer, principalmente quando é alvo de ataques. Depressão e ansiedade são algumas das possíveis complicações dos quadros de estresse. Quando perceber que está muito difícil continuar, procure a ajuda de um profissional", indica.
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