Mulher fala sobre ser trans em HQ: "Descobri aos 9 anos, vendo a Rogéria"
A primeira imagem que marcou Alice foi ainda na infância, quando ela assistiu a transformista Rogéria na TV: aos 9 anos, sentada junto a sua mãe na sala de casa, a carioca de Paracambi, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, identificou semelhanças àquela figura famosa e percebeu ali sua transexualidade. A transição da engenheira, de 44 anos, no entanto, deu início em 2016, após o término do segundo casamento. E todas as outras cenas que foram se construindo nessa trajetória estão hoje traçadas na história em quadrinhos autobiográfica "Pequenas Felicidades Trans".
A obra está em campanha de financiamento coletivo na internet até março, quando a ilustradora pretende alcançar a meta de R$ 6,3 mil necessários para sua impressão. Até a publicação desta matéria, o projeto já tinha alcançado 71% do valor.
Em entrevista à Universa, Alice, que escolheu o nome em homenagem à personagem escrita por Lewis Carroll -- "vivo no país das maravilhas" -- diz que sentiu-se sozinha durante o início de sua transição e descarregou o que sentia num diário, antes de ilustrar suas emoções.
E está tudo ali: a reação da família e de amigos ao contar sobre sua transformação, as alterações de humor após dar início à terapia hormonal e como se mostrou mulher pela primeira vez para a ex.
"Minha ex foi a primeira pessoa para quem eu contei e ela me ajudou muito", lembra ela.
O segundo casamento de Alice, ela conta, durou quase seis anos. Até ali, ressalta, ela se reprimia por medo de sofrer as agressões que ocorreram na época de escola. Mas o relacionamento foi feliz, garante, apesar de algo incomodar a então companheira. Até o dia em que a ex arrumou as malas e partiu, sob a justificativa de que não era exatamente o que procurava.
"Depois que me revelei trans, ela falou que eu era diferente. Fiquei dias passando mal, mas conversar com ela me libertou. Procurei psicóloga e resolvi que, a partir dali, seria eu mesma. Hoje me relaciono com mulher".
Ela passou por transformações na vida profissional também: por anos, Alice trabalhou com engenharia de petróleo e hoje vive da música: ela toca em várias bandas, e atua em diversos blocos de carnaval do Rio de Janeiro. Paixão de infância, o desenho ganhou espaço de vez em sua vida.
"Hoje a maior felicidade é poder ser você mesma. Depois que me assumi, percebi quanta energia gastava me reprimindo. Hoje sou livre".
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