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"Mulher tem que morar com os pais até casar": Maycon, do BBB, está em 2019?

Ana Bardella

Colaboração para Universa

18/02/2019 04h00

Não é a primeira vez que Maycon, participante do Big Brother Brasil, dá uma declaração polêmica em frente às câmeras. Graças às suas falas, o vendedor de queijos está sendo investigado por apologia a maus-tratos de animais e, possivelmente, por intolerância religiosa . Da última vez, conversando com Paula e Hariany, foi acusado pelo público de ter uma postura machista.
O assunto do trio era sair da casa dos pais. Paula disse que morar só não agrega no futuro. O rapaz discordou dizendo que agrega, pois não é benéfico depender dos pais. Logo em seguida argumentou que esse ponto de vista só é válido para os homens. "Para mulher é diferente. Acho que só deve sair de casa mesmo quando casar. Quando eu tiver minha filha, acredito que vai ser assim", disse.

Pensamento retrógrado

De acordo com Adriana Bilate, socióloga e professora da UNISUAM, discursos como o de Maycon prejudicam as mulheres por atribuírem a elas um papel de dependência. "Visões conservadoras como esta são opostas ao que se preconiza o movimento feminista, que luta pela emancipação e pela igualdade feminina", aponta. Na visão da profissional, defender que a mulher só deve sair de casa mediante o casamento é o mesmo que oprimi-la. "Esse pensamento tem origens antigas e patriarcais. No passado, as filhas saíam só saíam da posse do pai quando se tornassem posse do marido. A figura masculina era atrelada à segurança e garantias", completa.

Avanços sociais

Adriana sinaliza que, apesar de alguns grupos ainda defenderem pontos de vista como o de Maycon, a sociedade tem avançado. "Principalmente entre os homens, o apoio à causa feminista vem aumentando consideravelmente", afirma. Segundo a socióloga, a disseminação dos ideais de igualdade de gênero tem ajudado a construir a imagem da mulher como um ser autônomo e capaz de tomar decisões e de construir sua trajetória sem depender de outra figura.

Pensamentos enraizados

Apesar dos avanços, a socióloga relembra que algumas ideias continuam influenciando de maneira sutil a forma como meninas e mulheres se comportam. "Um dos resquícios mais fortes do patriarcado é a ética do cuidado. Mulheres são levadas a acreditar, e a própria mídia incentiva essa crença, que são responsáveis por cuidar dos demais e que cabe somente a elas dar afeto nas relações. Tanto é que o campo dos sentimentos quase sempre está associado ao universo feminino", relembra. 
"O machismo coloca um peso grande nas costas da mulher: o de que precisa se preocupar mais com os outros do que consigo mesma. Com isso, também ganha força a ideia de que a trajetória 'natural' a ser cumprida é a de casar, ser mãe e de cuidar da família. Esses valores são internalizados por muitas ao longo da vida", defende. Por esse motivo, apesar das conquistas sociais, o casamento continua sendo uma pressão social para as pessoas do sexo feminino.