"Católicos têm obrigação de encarar abusos sexuais na igreja", diz artista
A artista irlandesa Trina McKillen cresceu como uma católica devota feliz. Quando jovem, cantava no coral da Igreja de Santa Teresa, em Belfast, tinha fotos do Papa na sala de casa e confessava todo sábado para poder receber comunhão na missa de domingo, frequentada ao lado dos pais, oito irmãos e duas tias freiras.
"A igreja era meu refúgio. Amava ir lá. Acendia velas e rezava para Santa Bernadette aparecer para mim", contou McKillen à Universa. Ela lembra que cresceu durante os conflitos sangrentos na Irlanda do Norte, entre protestantes e a minoria católica, nos anos 1960 e 1970.
"Quando a escola recebia ameaça de bomba, íamos em fila para minha igreja do lado. Isso nos dava uma sensação de segurança."
Hoje, no entanto, sua fé na Igreja Católica mudou radicalmente. As inúmeras denúncias de abuso sexual dos padres contra crianças, além da maneira como o papa Francisco está lidando com os escândalos, a afastaram completamente da instituição.
Mesmo sua mãe parou de ir à missa e, 2010, aos 84 anos, porque não tinha coragem de olhar para o padre. McKillen tinha uma amiga que foi abusada pelo tio que era padre católico.
"Fiquei chocada com as primeiras palavras do Papa Francisco sobre a crise", disse McKillen, que vive em Los Angeles desde 1989. "Meu coração se afundou em descrença. Ele não entende. Os padres, os bispos e os papas não entendem a gravidade e o horror do que aconteceu."
Como artista, a irlandesa de 54 anos tirou inspiração dessa grande decepção para fazer seus trabalhos mais recentes, uma série de obras intituladas "Confess". Curiosamente, estão sendo exibidas até 23/3 numa galeria de arte de uma universidade católica no sul da Califórnia.
"'Confess' é minha expressão de indignação, mas também queria lembrar do conforto que a igreja trouxe à minha vida", disse McKillen, que ainda reza todos os dias e mantém sua fé em Deus.
O principal trabalho da exposição na Laband Art Gallery é um confessionário instalado entre paredes de vidro e cheio de luz, numa contraposição ao espaço escuro que costuma ser. No lugar do assento do padre, está uma cadeira pequena branca para uma criança.
A mostra também conta com 40 vestidos de comunhão vintage e vestes de coroinha. Alguns foram feitos pela própria artista e suas ajudantes, com renda católica autêntica comprada em sites da Irlanda, França e Bélgica. Cada roupa traz um símbolo de uma serpente e uma fechadura.
Para John T. Sebastian, um dos vice-presidentes da Loyola Marymount University, o objetivo é que a exposição abra a porta para discussões e reflexões profundas, ainda que o trabalho de McKillen confronte uma realidade dolorosa e perturbadora da igreja.
"Expor os pecados da igreja e garantir que as histórias das vítimas sejam contadas estão de acordo com nossa missão e com os passos necessários para o processo de cura", escreveu Sebastian num comunicado.
McKillen concorda. "Todos os católicos têm obrigação de se engajar no assunto", acredita. "Precisamos amadurecer e parar de olhar para os padres e o Papa em busca de resposta. A voz e sabedoria das mulheres precisam ser incluídas. É preciso uma verdadeira contrição e penitência apropriadas."
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