Luisa Mell desmascara crueldade com animais em canil: o que tiramos disso?
A cena da buldoguinha sem dentes sem dentes que chora desesperadamente entre as grades do canil de Piedade, fechado por maus-tratos no dia 13 deste mês, estraçalha o coração. Céu Azul, o nome do lugar, estava mais para Inferno Vermelho, com 1.743 cachorros doentes, vivendo em espaços minúsculos, no meio do próprio cocô.
Luisa Mell bancou o resgate de todos e conta que eles pareciam nunca ter tomado banho antes: "Esses animais nunca viram água. A reação deles foi estranhíssima. Muitos, que a gente levou para passear, não sabiam nem andar direito porque ficavam presos em gaiolas".
Por causa da ação, a ativista diz que vem sofrendo ameaças de morte, teve o portão do centro de triagem de seu instituto, em Ribeirão Pires, incendiado e se viu obrigada a reforçar a vigilância tanto dos abrigos quanto pessoal: "O dinheiro que poderíamos usar para salvar mais bichos a gente precisa gastar agora com a nossa segurança", lamenta.
Os bastidores da criação animal
Nena Miyazaki Kubaiassi, proprietária do canil de Piedade, foi multada pela Polícia Militar Ambiental em R$ 5 milhões. E o Petz, um de seus clientes, rapidamente anunciou que deixará de vender filhotes nas 82 lojas do país. Mas esse não é um caso isolado no comércio de animais de raça. Só no ano passado, foram registradas mais de 4,6 mil denúncias de maus-tratos em canis do Estado de São Paulo, segundo o órgão.
Luli Sarraf, idealizadora da Celebridade Vira-Lata, explica porque é inviável cuidar bem de um cachorro ou gato e ter lucro: "Bem-tratado, ele pode viver 16 anos. Se a gente considerar os gastos com alimentação de qualidade, vacinas, banho e tosa, e eventuais socorros veterinários, a conta fica em quase R$ 150 mil".
Tem também as despesas com funcionários, instalações, pré-natais, partos, registros e transportes, que não foram computadas. "Por outro lado, cada animal não deveria dar mais do que quatro ninhadas. E, se dez filhotes nascerem sadios por vez, renderão um total de apenas R$ 120 mil. A tendência, então, é economizar nos cuidados, produzir crias sucessivas e descartar as matrizes", conclui Luli.
Maria Eugênia Carretero, veterinária e presidente da ONG Canto da Terra, lembra ainda das cruzas entre parentes, para acentuar determinadas características da raça (como as dobrinhas do Shar-pei e o focinho achatado dos persas), ou com fêmeas doentes, que acabam gerando ninhadas com problemas sérios de saúde e expectativa de vida muito menor. "Animais não são mercadorias. A gente precisa acabar com a exploração", diz.
Por que adotar um vira-lata
Quem fica balançado, mas ainda têm apego pelo pedigree, os especialistas listam argumentos para abrir o coração a um vira-lata:
Eles são mais inteligentes: Nos testes feitos pela Universidade de Aberdeen e de Napier, na Escócia, os cachorros sem raça definida (SRD) apresentaram melhor noção de espaço e resolveram problemas com mais facilidade.
Cães e gatos de rua costumam viver mais: Expostos às perrengues variadas das ruas, eles ficam mais resistentes a doenças. O contrário costuma ocorrer com os animais de raça, submetidos originalmente a cruzas consanguíneas ? mesmo que elas não ocorram mais agora.
Adultos dão menos trabalho: A maturidade tende a deixá-los mais tranquilos, obedientes e independentes do que os filhotes, favorecendo a adaptação no ambiente novo. Eles raramente destroem o sofá ou sapatos. E vêm com perfil e tamanho definidos.
ONGs sérias já doam os bichos castrados: A cirurgia não serve apenas para impedir crias indesejadas. Bicho esterilizado fica mais caseiro e carinhoso, para de fazer xixi em tudo para marcar território, nunca mais entra no cio, sofre menos com problemas hormonais, tumores na próstata e câncer de mama, se livra de vez do câncer nos testículos e nos ovários.
Quem sofreu na rua esbanja gratidão: Qualquer criatura que passou fome, frio e medo sabe reconhecer o valor de uma cama quentinha, um pote de ração recarregável, um cafuné demorado nas orelhas. E a família que abrigá-la será retribuída com olhares ternos.
Os abrigos estão superlotados: Por mais que os protetores se esforcem, as adoções não vencem o abandono. Falta ajuda financeira, em grandes grupos os animais acabam brigando, quando um adoece todo mundo pega e fica impossível dar a atenção que eles merecem.
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