Chefe proíbe lésbica de usar banheiro feminino e a chama por nome de homem
A auxiliar de limpeza Thais Cyriaco, 30, foi obrigada a usar o banheiro masculino do supermercado onde trabalha, em Campinas, no interior de São Paulo, por cinco meses.
"Eu sou mulher, mas uma promotora do supermercado me viu no banheiro feminino e reclamou com a gerente de Recursos Humanos. No dia seguinte, minha supervisora me procurou e disse: 'Já que você parece homem, vai ter que usar o banheiro masculino'. Eu retruquei. Disse que era mulher e que não queria, mas ela foi irredutível".
No mesmo dia, a mesma supervisora, segundo a auxiliar de limpeza, passou a chamá-la por um nome masculino: Thalisson. Ela relembrou a chefe que seu nome, na verdade, é Thaís, mas foi em vão. "Ela ignorava quando eu pedia que me chamasse pelo meu nome. Eu ficava muito chateada, mas não era mais incisiva por medo de perder o emprego".
A funcionária conta que dois colegas procuraram a supervisora na tentativa de ajudar Thaís. "Um homem disse que se sentia desconfortável comigo no mesmo vestiário que ele. Ela ignorou. Depois, uma colega a corrigiu quando a chefe me chamou de Thalisson. Ela, de novo, ignorou. Minha colega me perguntou o porquê de ela errar, propositalmente, meu nome. Eu fiquei sem graça, não sabia a resposta".
Thaís entrou com um processo contra a rede de supermercados, onde ainda trabalha. Tanto ela como os colegas se sentiam constrangidos ao entrarem no banheiro e, para evitar situações embaraçosas, Thaís passou a não se trocar no trabalho.
"Eu vestia uma roupa para ir trabalhar e, quando chegava lá, colocava o uniforme por cima. Passava calor, mas não importava, eu não queria entrar naquele vestiário cheio de homens".
Na hora de usar o banheiro, ela conta que sentia medo. "Tentei poucas vezes, mas desisti. Eu me sentia péssima. Evitava ao máximo. Passava o dia com vontade de fazer xixi, mas tentava aguentar até em casa. Quando ficava impossível, corria para o banheiro adaptado e rezava para que estivesse vazio. Foram cinco meses de sofrimento".
A proibição só foi suspensa esta semana, depois da abertura do processo. Mas, apesar de estar autorizada a voltar a utilizar o banheiro feminino, Thaís conta que não houve um pedido de desculpas nem explicações. "Todo mundo me olha torto. A situação só piora".
Thaís relembra que, quando a chefe a informou da proibição, disse a ela que não se tratava de preconceito. "É claro que é, de que outra forma eu posso encarar isso? Já tive vontade de chorar várias vezes. Minha mulher percebeu o quão triste eu estou com tudo isso. Ficou puta, queria ir até o mercado tirar satisfações. Eu que não deixei".
Outro lado
Procurada pela reportagem, a rede de supermercados Makro afirma que está apurando o caso.
"O Makro informa que tão logo recebeu a informação da liminar, iniciou uma apuração para esclarecer e elucidar os fatos. A rede esclarece que a funcionária terceira Thais de Paula Cyriaco, contratada de uma empresa que presta serviço de limpeza à loja de Campinas, solicitou ao seu empregador que fosse tratada pelo gênero masculino, adotando o nome de Thalyson. O Makro foi comunicado deste posicionamento pela empresa terceirizada e, alinhado com seus valores de respeito à diversidade e à inclusão, imediatamente apoiou a decisão pessoal da funcionária, assim como sua escolha em utilizar o banheiro que melhor refletisse sua identidade de gênero. De acordo com seu código de conduta, o Makro não admite qualquer tipo de discriminação ou preconceito e reitera que acatou de imediato a decisão da liminar. Como parte dos seus valores e de sua política, a rede reforçará seu posicionamento junto aos funcionários e quadro de fornecedores, enquanto avança nas investigações mediante os novos fatos apresentados."
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