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Ex-vendedora de artesanato na praia é destaque na Semana de Moda de Paris

Thalita Farias ao abrir o desfile da Thierry Mugler na Semana de Moda de Paris, em 27 de fevereiro - Getty Images
Thalita Farias ao abrir o desfile da Thierry Mugler na Semana de Moda de Paris, em 27 de fevereiro Imagem: Getty Images

Mariana Araújo

da Universa, em São Paulo

04/03/2019 04h00

Aos 19 anos, a modelo estreante Thalita Farias já encarou uma responsabilidade de veterana: abriu na quarta-feira (27) o desfile da grife Thierry Mugler na Semana de Moda de Paris, um dos eventos do setor de maior prestígio no mundo inteiro.

No entanto, há menos de dois anos, o dia a dia da brasileira era bastante diferente: ela vendia peças de artesanato que ela mesma criava nas praias de Natal (RN), onde nasceu.

A rotina nas areias de Natal

"Depois de sair de casa aos 16 anos, fiz várias coisas para me sustentar. Vendi salgadinhos e 'Bis' caseiros na rua, cuidei de diabéticos aos fins de semana, trabalhei como vendedora em lojas de R$ 10, vendi cursos de máquinas hidráulicas... Mas com o artesanato foi diferente", contou ela à Universa, direto de Paris.

Thalita durante suas vendas nas praias de Natal (RN) - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

"Comecei a fazer e vender artesanato aos 17 anos para suprir minhas necessidades financeiras. Acordava cedo, ia à praia, organizava as peças e oferecia para os frequentadores do local. O trabalho unia o útil ao agradável, porque eu amava estar na praia, sob o sol, e com as minhas peças poder levar boas energias para quem comprava. Cada peça era feita com amor e totalmente exclusiva. Eu me encontrei."

Apesar de estar realizada na atividade, Thalita encontrou uma oportunidade inesperada justamente durante um dia de vendas.

"O Jocler [Turmina, caça-talentos da agência MapModel] foi ao Nordeste para participar de um concurso de modelos em Natal e se hospedou num hotel em uma das praias onde eu vendia artesanato, a de Tabatinga. Ele havia saído para andar e eu vinha com a minha tela, expondo meu trabalho, daí ele me parou e tentou me convencer a ir a um casting do concurso. No começo, não dei ouvidos."

A curiosidade acabou levando Thalita a decidir participar da seleção para o concurso. Mas, para ela, não foi fácil vencer a dúvida e a timidez no início.

O sucesso nos primeiros desfiles

"Parei para pensar se eu realmente iria fazer aquilo que ele propôs, porque os três primeiros lugares do concurso assinariam um contrato com a agência. Resolvi ir ao casting. Quando cheguei, tinha mais de 300 garotas no shopping, todas loucas para serem notadas. Eu fiquei de costas para o Jocler não me ver. Esperei minha vez. Mas ele logo me viu", relembrou.

"No meu primeiro desfile, na mesma praia onde eu era conhecida como a menina que fazia brincos de penas, fiquei muito nervosa. Só ergui a cabeça e não olhei para ninguém. Passei pelas três etapas e fui para a final, mas ainda estava pensando seriamente se era isso que eu ia escolher como profissão, porque nunca havia sonhado em ser modelo. Fiquei em segundo lugar no concurso e assinei o primeiro contrato."

Apesar da conquista, Thalita não pôde engatar a carreira imediatamente: sem dinheiro, ela teve de ficar em Natal, vendendo suas peças por um ano, enquanto fazia economias para se mudar para São Paulo.

Das passarelas paulistanas para as europeias

Após desembarcar na capital paulista, no entanto, a evolução foi rápida: ela estreou nas passarelas da Casa de Criadores, em agosto de 2018, e da São Paulo Fashion Week, em outubro. Além disso, a potiguar deu seu primeiro passo rumo à carreira internacional.

"Uma das juradas do concurso era a diretora da Elite de Nova York, a Filipa Black. Ela me entrevistou e quis me apresentar à agência. Em menos de oito meses, meu segundo contrato foi assinado."

Em fevereiro, já acumulando seu terceiro contrato, com a agência francesa Viva, Thalita viveu outras duas primeiras vezes emocionantes: a estreia em Paris e em Milão. No dia 20, desfilou com exclusividade na semana de moda italiana para a Bottega Veneta. Três dias depois, já estava na França, onde foi a primeira modelo a cruzar a passarela da grife Thierry Mugler -- um reconhecimento importante no mundo da moda.

"Milão é uma cidade linda. E por ser a primeira cidade internacional que conheci, fiquei emocionada. Paris me encantou pelas luzes e ruas. E abrir o desfile da Mugler foi mágico. Estou muito feliz com a minha profissão de modelo. Para mim, tudo é novo e estou muito empolgada com essa nova experiência e a oportunidade de mostrar meu trabalho pelo mundo. Ainda estou naquele momento de correria de castings, mas neste pouco tempo, convivi com meninas bem legais."

Thalita Farias no desfile da Bottega Veneta na Semana de Moda de Milão em 20 de fevereiro - Getty Images - Getty Images
Thalita Farias no desfile da Bottega Veneta na Semana de Moda de Milão em 20 de fevereiro
Imagem: Getty Images

Apesar do sucesso em um universo glamouroso, Thalita diz que não pretende abandonar seus sonhos mais antigos e quer seguir com sua carreira itinerante com o artesanato.

"Antes, meus planos para o futuro eram um ônibus para ter a minha casa móvel e acampar pelo Brasil, além de uma loja de artesanato. E eles continuam os mesmos: sair pelo mundo sem data para voltar e me sustentar com a minha arte. Continuo fazendo artesanato até hoje, aliás, vou vendendo independentemente de estar no mundo da moda. Quem sabe com a profissão de modelo consiga realizar esses sonhos."