O que é "golden shower"? A resposta para a pergunta de Bolsonaro no Twitter
Na tentativa de "expor a verdade", em sua visão, sobre o Carnaval de rua, o presidente Jair Bolsonaro usou o Twitter na terça-feira (5) para publicar um vídeo de conteúdo adulto, mostrando uma pessoa introduzindo o dedo no próprio ânus e deixando que um segundo urine em sua cabeça em cima de um ponto de táxi, durante um bloco em São Paulo.
"Não me sinto confortável em mostrar [esta cena], mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem virado muitos blocos de rua no Carnaval brasileiro", escreveu.
Horas mais tarde, na manhã desta quarta-feira de cinzas (6), o presidente voltou a tocar no assunto: "O que é golden shower?", questionou, arrancando críticas (e piadas) de muitos internautas.
Respondendo, de forma simplificada, o termo em inglês significa "banho dourado" e consiste em urinar no parceiro durante o sexo.
Mas, para entender a prática, os riscos e a melhor forma de praticar de forma segura, Universa conversou com o sexólogo Paulo Tessarioli, fundador da Abrasex (Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde, Educação e Terapia Sexual).
O que é?
"Trata-se da excitação sexual que uma pessoa sente vendo alguém urinar, urinando em outra pessoa, sentindo o cheiro da urina ou até mesmo entrando em contato com aquele líquido, seja na boca ou em outras partes do corpo", explica Tessarioli.
A urofilia, termo técnico usado por terapeutas sexuais para designar o golden shower, é uma parafilia -- ou seja figura entre práticas sexuais consideradas incomuns e que, desde 2013, não são mais consideradas doenças segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais.
Entram nessa lista de parafilias outros fetiches como o BDSM, a hipoxifilia (tesão por asfixiar o parceiro) e a coprofilia (defecar ou manusear as fezes durante o sexo).
Quem pratica?
"O Brasil ainda é um país muito conservador em relação à sexualidade e, por isso, as pessoas falam tão pouco sobre práticas não muito comuns, que fogem do tradicional 'papai e mamãe'", analisa o sexólogo. Justamente por isso, segundo ele, é difícil cravar quantas pessoas são adeptas do golden shower no país e no mundo.
O que Tessarioli percebe em seu trabalho como terapeuta sexual é que essa preferência é maior entre os homens do que entre as mulheres.
"O homem é ensinado a manusear o pênis e a direcionar a urina desde criança. Sua anatomia permite isso. As mulheres têm menos controle sobre isso, aprenderam a urinar sentadas e, principalmente, são mais reprimidas quando o assunto é sexo", enumera.
Por que é um fetiche?
Para Tessarioli, há pelo menos duas explicações que justificam o fetiche de algumas pessoas por urinar no parceiro ou vê-lo urinando.
Uma delas é o ato de transgredir, ou seja, praticar algo que é proibido, condenável. "Desde pequenos somos ensinados a lidar de forma muito privada e até vexatória com as secreções do corpo, especialmente fezes e urina. É algo proibido de ser feito ou até mencionado em público e, por isso, algumas pessoas sentem tesão em trazer isso a público (ainda que para uma segunda pessoa, entre quatro paredes)", explica.
A segunda explicação é que urinar na frente a outra pessoa pode remeter à infância e ao afeto dos cuidadores: "Quando um bebê ou uma criança faz xixi na cama, por exemplo, muitas vezes faz isso para ganhar atenção dos pais. Essa pode ser uma das razões, embora inconsciente, para uma pessoa se excitar ao urinar em frente à outra".
Como praticar de forma segura?
O sexólogo alerta que, antes de mais nada, é importante que haja consenso entre as duas (ou mais) pessoas envolvidas. "É preciso que esta fantasia seja compartilhada antes para não gerar espanto ou estranhamento no parceiro", alerta.
A principal recomendação é observar as condições de higiene e evitar urinar na boca, na vagina ou no ânus, já que são cavidades muito sensíveis. Sendo assim, podem ocorrer irritações.
"Afinal, trata-se de um líquido cheio de elementos rejeitados pelo corpo do outro. Pode ser uma urina saudável, mas pode ter excesso de ácido úrico, entre outras coisas", explica Paulo Tessarioli.
Quais são as consequências?
Quando o fetiche pela urina é tamanho que o sexo só tem acontece depois do golden shower, é possível que, a médio prazo, resulte em problemas de ordem psicológica, alerta Paulo Tessarioli.
"Pode ser algo excitante para fazer de vez em quando, para variar. Mas quando se torna muito recorrente ou uma prática que tem de acontecer todas as vezes, a pessoa provavelmente vai enfrentar problemas de relacionamento -- para manter o que tem ou para encontrar alguém que aceite praticar", explica. "Isso pode gerar questões maiores, como distúrbios de autoestima e de autoimagem".
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