Central no Rio recebeu mais de 6 mil denúncias de estupro em 12 anos
O Disque Denúncia do Rio de Janeiro recebeu 6.427 denúncias de estupro contra mulheres adultas e menores de idade e 236 de assédio sexual entre 2006 e 2017. Os dados são de uma pesquisa da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (Dapp/FGV), a partir de registros do órgão não governamental, que recebe contatos anônimos de vítimas e testemunhas.
Segundo a pesquisa, 82,32% dos casos de estupro registrados no serviço de denúncias anônimas ocorreram fora dos ambientes doméstico, profissional e familiar das vítimas. Esses crimes foram classificados como "estupros em espaços públicos", apesar de incluírem não apenas lugares públicos de fato. Entre esses casos, 76,57% foram cometidos por organizações criminosas, como o tráfico e a milícia.
A coordenadora da pesquisa, Danielle Sanches, disse que o percentual de denúncias contra organizações criminosas surpreendeu, mas ponderou que os casos em ambiente doméstico são subnotificados e menos denunciados por testemunhas, o que dá "um viés" aos dados.
Também surpreendeu as pesquisadoras o percentual de casos em que as vítimas são crianças e adolescentes, 48,87%. Danielle chamou atenção para o fato de que a maior parte dessas vítimas têm entre 10 e 14 anos. A pesquisa identifica que 15,96% dos casos podem ser classificados como "abuso de confiança", quando há uma vulnerabilidade a profissionais como médicos, cuidadores e professores. Os estupros em locais de ensino somam 12,12% dos que foram denunciados ao Disque Denúncia, e os estupros em centros religiosos, 1,37%.
Das denúncias de assédio, 63,98% ocorreram em espaços públicos, sendo 37,71% no trabalho das vítimas. Os casos de assédio em ambiente virtual somam 5,08%, e os que ocorreram em espaço doméstico, 41,95%.
O trabalho também é assinado pelas pesquisadoras Andressa Contarato e Yasmin Curzi. O relatório pondera que os registros desses tipos de crimes costumam ser subnotificados por diversas razões, incluindo o descrédito do relato das vítimas e o vínculo que elas ainda têm com os agressores em muitos casos. Além disso, o tipo de estupro mais denunciado não necessariamente é o mais recorrente, e, sim, o que é mais percebido socialmente como violência.
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