Youtuber gay agredido por policiais em SP: "Pedi para não me matarem"
Quando saiu de casa para curtir o último final de semana de Carnaval com o bloco Largadinho, da cantora Claudia Leitte, no sábado (9), o youtuber Guilherme Kieras, conhecido como Guigos, não imaginou que passaria parte da noite no hospital e outra parte na delegacia.
Quando começou a chover, no final da tarde, ele e o amigo João Henrique Felix se perderam do restante do grupo e foram agredidos por cerca de 12 policiais militares com golpes de cassetete, chutes e socos no rosto. Guigos, que chegou a ser arrastado para uma rua sem saída por alguns dos PMs, recebeu um "mata leão" e passou alguns segundos desacordado.
Guilherme e João são gays e dizem que as agressões começaram depois que eles se abraçaram sob uma árvore para se proteger da chuva.
"Primeiro, tentamos nos abrigar na marquise de uma loja onde também estavam cerca de 20 policiais. Eles ergueram os cassetetes e disseram que não podíamos ficar ali. Não entendemos, mas decidimos ir para baixo de um coqueiro a cerca de cinco metros deles, já que chovia muito. Quando nos abraçamos, um deles começou a gritar e dizer que ali também não poderíamos ficar", relata o youtuber de 29 anos, à Universa.
João conta que Guigos chegou a questionar o motivo de a dupla ser expulsa do local, que é público. "Em vez de responderem, metade deles veio correndo para cima da gente com cassetetes e xingamentos", lembra o administrador de empresas de 27 anos.
A dupla foi separada pelos policiais e começou a apanhar a cerca de três metros um do outro, por cerca de cinco ou seis policiais cada, segundo relataram.
"Em determinado momento, eu caí no chão minha única reação era proteger a cabeça. Enquanto isso só conseguia pensar 'quando eles vão parar?'", conta João. "Quando consegui me levantar e correr, vi de longe eles arrastarem o Guigos para outro lugar".
O youtuber lembra que foi levado para uma rua sem saída, fechada por duas viaturas da PM, que teriam sido usadas para esconder as agressões das pessoas que passavam na rua. "Enquanto eu estava no chão, sendo agredido, só conseguia tentar esconder o corpo e pedir para ir embora e para não me matarem".
Providências
Guilherme e João, que se reencontraram cerca de meia hora mais tarde, com a ajuda de outro amigo do grupo, querem justiça.
Eles receberam os primeiros socorros em um hospital da região. Mais tarde, a dupla contatou um advogado especializado em atender casos de homofobia e foi à delegacia registrar boletim de ocorrência -- documento que só conseguiram assinar após sete horas de espera.
Embora os policiais não tenham usado palavras de ofensa características da intolerância contra a população LGBT, os dois amigos acreditam que as agressões foram motivadas por homofobia. Como o STF ainda não encerrou as discussões para transformar homofobia em crime, a queixa foi registrada como lesão corporal.
Guilherme, que está se recuperando dos mais de dez ferimentos na boca, na cabeça, no pescoço e nas costas, acredita que vai demorar para voltar a andar na rua com tranquilidade.
"Eu e o João andamos com medo. Eu sempre tive muito respeito pelos policiais e dó saber que nem todas nessa profissão estão lá parta nos proteger. Agora, quando tenho que passar por um policial na rua, abaixo a cabeça e fecho os olhos, com medo de acontecer tudo de novo", relata.
Na segunda-feira (11), os dois registraram queixa contra os policiais envolvidos na Corregedoria da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
"As agressões foram gravadas por câmeras de segurança e também por alguém que estava no trio elétrico da Claudia Leitte e viu tudo lá de cima. Queremos que nosso caso sirva de exemplo para outras pessoas que passam pela mesma situação, mas não tem a mesma sorte (de ter as cenas filmadas) e nem a mesma visibilidade", diz Guigos.
Segundo ele, cinco oficiais da PM foram afastados desde que o caso ganhou visibilidade nas redes sociais, onde o youtuber relatou as agressões pela primeira vez, e na televisão.
Procurada pela reportagem, a Polícia Militar informou, por meio de nota, que instaurou um inquérito para apurar o caso e afastou os envolvidos até o fim das investigações.
"A PM não compactua com desvios de conduta de seus agentes e esse episódio, que não representa o trabalho da corporação, será rigorosamente apurado", completou a instituição, por e-mail.
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