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Como conversar com o parceiro sobre fazer o teste para detectar ISTs?

Considerando o aumento de infecções entre jovens, iniciar a conversa pode ser desconfortável, mas necessário - Getty Images/iStockphoto
Considerando o aumento de infecções entre jovens, iniciar a conversa pode ser desconfortável, mas necessário Imagem: Getty Images/iStockphoto

Jacqueline Elise

Da Universa

14/03/2019 04h00

Perguntar para o parceiro ou parceira se ele já fez o teste para detectar Infecções Sexualmente Trasmissíveis (ISTs) está no rol de conversas estranhas, porém necessárias, em um relacionamento --independentemente de ser só sexo casual ou algo fixo. Mas como deixar a situação mais natural para falar de um assunto tão importante, ainda mais com o aumento das epidemias de doenças do tipo?

O Boletim Epidemiológico de HIV/Aids divulgado pelo Ministério da Saúde em 2018 pontuou que houve um aumento alarmante de casos de contaminação pelo vírus HIV em jovens: entre janeiro de 2007 e junho de 2018, 52,6% dos casos de infecção foram detectados na faixa etária de 20 a 34 anos. A sífilis também está sendo encarada por especialistas como uma epidemia: entre 2010 e 2015, os casos notificados saltaram de 1.249 para 65.878 no país.

Com esse cenário assustador, torna-se indispensável fazer o teste para confirmar a presença de ISTs ou não. Mas nem todos conseguem convencer os parceiros. É o caso da curitibana Josiely Tobler, 24. Bissexual, ela conta que, quando estava em um relacionamento com um homem, passou por problemas para pedir os exames.

"Um ex me disse que eu estava louca de pedir para ele se testar e que não ia fazer. Outro falou que tinha feito os exames, mas perdido o papel", conta. Quando ela os pressionou, descobriu que tinha sido traída por eles e teve medo de ter contraído algo. Felizmente, os testes deram negativo para todas as ISTs.

Hoje, Josiely está em um relacionamento com uma mulher e ambas se testam a cada quatro meses. "Sabemos tudo da saúde uma da outra, porque, se o pior acontecer, vamos saber o que fazer. Fazemos todos os testes solicitados pelo médico particular através do Sistema Único de Saúde, não demora nadinha", diz. Ela também afirma que foi muito mais fácil iniciar a conversa com a atual namorada do que com seus ex.

"Primeiro, a gente precisa conscientizar as pessoas de que se trata de prevenção de algo que está crescendo cada dia mais, e depois deixar claro que, independentemente do resultado, um tem ao outro. É uma evolução no relacionamento", pensa.

Dá para confiar?

Paloma Fernandes, 20, de São João de Meiriti (RJ), faz o exames anualmente. "Por ser mais experiente, era meu namorado quem puxava essas conversas e começou a falar sobre camisinha, e que a usaríamos sempre", explica.

Segundo ela, muitos caras fazem de tudo para penetrar a parceira sem camisinha --e que isso mostra que é o tipo de parceiro em quem não se pode confiar. "Eu não trataria com normalidade alguém se recusasse a se testar, sequer por achar que, naquele momento, ele possua alguma doença, mas por duvidar seriamente de que eu não correria riscos no futuro".

Entendendo a questão e introduzindo o assunto

Flávia Fairbanks, ginecologista obstetra e especialista em sexualidade humana, acredita que a alta taxa de ISTs em jovens tem acontecido por uma razão geracional. "Na minha época [ela tem 44 anos], o diagnóstico de HIV positivo era uma sentença de morte. Por conta desse medo, as pessoas se preveniam de todas as maneiras possíveis, então as campanhas de prevenção tiveram muita adesão. Com o passar dos anos e a evolução dos tratamentos, essas doenças foram consideradas controláveis", explica.

Por terem nascido após o surgimento de tratamentos para infecções graves ou crônicas, a especialista explica que isso pode ter dado uma sensação de segurança nos jovens, que passaram a usar menos camisinha. Consequentemente, a incidência dessas doenças aumentou nesse grupo etário.

Fairbanks reconhece que abordar o parceiro ou parceira e sugerir que ambos se testes é uma conversa "delicada, esquisita e nada atraente", mas que tem jeitos de iniciar o papo:

Use as estatísticas para puxar conversa

"A primeira etapa é falar do ponto de vista de saúde pública: não precisa falar 'estou desconfiado de você', mas pode dizer 'nossa, viu que grave esse aumento na incidência de ISTs?'. Esse pode ser um bom gancho."

Sugira fazerem o teste juntos

"Depois de fazer a pessoa dar importância às epidemias, dá para perguntar a ela se já foi testada alguma vez na vida --e não só para HIV, mas para todas as outras ISTs, como hepatites, sífilis, gonorreia, clamídia, entre outras. Com base em tudo isso, dá para fazer um convite ao parceiro ou parceira. Fale para fazerem um exame juntos, até como autoprevenção".

Exija camisinha

"A camisinha tem que ser obrigatória. Primeiro porque não se pode confiar cegamente que a pessoa fez os exames. Segundo, que o outro pode estar numa janela de exposição entre um exame e o período em que ele ou ela se relacionou com outra pessoa". Fairbanks explica que a janela de exposição é um tempo, que dura em média três meses, no qual alguém pode contrair e desenvolver alguma IST. "'Ah mas fulano me mostrou o exame feito em janeiro'. Não adianta, porque entre janeiro e março tem um espaço no qual pode ter acontecido algo".

Lembre-se: não dá para falar mais em 'população de risco'

"Não existe mais um conceito tão claro de população de risco, que antes era definido por homens que fazem sexo com homens, usuários de drogas ilícitas injetáveis e profissionais do sexo. Qualquer indivíduo que tenha vida sexual ativa, com qualquer prática sexual e que tenha se exposto ao sexo desprotegido está suscetível a ter uma IST. Não adianta falar 'eu não faço parte desse grupo', hoje temos até idosos sendo diagnosticados com HIV, contraído na terceira idade".