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No Rio de Janeiro, secretaria lança pesquisa sobre assédio nas empresas

O objetivo inicial é fazer um diagnóstico sobre a percepção que as funcionárias têm da situação - Getty Images
O objetivo inicial é fazer um diagnóstico sobre a percepção que as funcionárias têm da situação Imagem: Getty Images

Akemi Nitahara

Da Agência Brasil

21/03/2019 08h52

A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro lançou hoje pesquisa que vai servir de base para uma campanha educativa de combate ao assédio sexual e moral e à violência contra a mulher dentro das empresas.

Ao lançar a pesquisa, em evento na sede do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim), a secretária Fabiana Bentes disse que o objetivo inicial é fazer um diagnóstico sobre a percepção que as funcionárias têm da situação vivenciada, inclusive dentro de casa. Posteriormente, serão oferecidos recursos para combater as práticas abusivas.

"É uma análise exploratória, vamos passar para a Firjan [Federação da Indústria do Rio de Janeiro], Fecomércio, Associação Comercial do Rio de Janeiro, Mulheres do Brasil [instituição da empresária Luiza Trajano de combate à violência], para ser distribuída para empresas privadas e públicas, para que a gente possa entender como é a percepção da mulher, se ela está sofrendo assédio ou uma violência no trabalho."

De acordo com Fabiana, o link com um questionário será enviado às empresas, que vão repassá-lo para as funcionárias. As respostas serão enviadas para a secretaria e as pessoas e as empresas não serão identificadas. Após a sistematização, dos resultados, soluções serão apresentadas.

"Vamos propor muitas situações e a empresa privada adota o que achar mais conveniente, como palestras educativas, capacitação, terapia de reflexão com os funcionários, avisos por todas as áreas sobre o que é assédio e contato com uma ouvidoria, ou mesmo orientações para entrar em contato com a secretaria".

Para o assessor do Conselho de Responsabilidade Social da Firjan, Wagner Ramos, a pesquisa é bem-vinda e vai mapear o real cenário no ambiente de trabalho.

"A diversidade é um assunto que a gente vem tratando no âmbito empresarial, como uma questão estratégica para os negócios, em termos de produtividade e de gestão de risco. Acreditamos que todo contexto de violência de gênero é um contexto em que as empresas precisam se debruçar, entender e criar mecanismos de combate."

Porta-vozes da causa

Participaram do evento três mulheres que sofreram violência doméstica e denunciaram o caso, tornando-se porta-vozes da causa. Uma delas, a empresária e ex-modelo Luiza Brunet disse que, depois de ser espancada pelo namorado em 2016, resolveu fazer trabalho voluntário para fortaleceras mulheres agredidas. Luiza disse que pretende fundar uma organização não governamental (ONG) ou um instituto de acolhimento da mulher agredida.

"Toda mulher que ouve a gente falar se identifica com algum tipo de violência, é uma linguagem comum entre nós. Isso emociona. Eu sofri violência doméstica a vida inteira, desde adolescente, em uma época que não se falava nisso e a gente achava que era normal. Graças a Deus, essa porta se abriu, para possamos falar mais, fazer denúncia, incentivar as mulheres", afirmou.

Luiza disse que também foi vítima de violência no trabalho. "A pesquisa é fundamental. Eu sofri violência nos empregos que tive na adolescência, dos quais eu saía, porque não achava certo. Quando comecei a ser modelo também aconteceu, porque naquela época, ser modelo era sinônimo de mulher desclassificada."

Luiza ainda destacou a importância da Lei Maria da Penha na proteção e combate à violência doméstica no país.

A paisagista Elaine Caparroz, que foi brutalmente agredida há pouco mais de um mês, sugeriu que o levantamento seja feito também nas escolas. "Quando eu era mais jovem, fui assediada por professores na escola, não foi um só, quando eu tinha sete, oito, doze anos de idade. Muitas vezes, assim como eu, que não tive coragem de falar para os meus pais, muitas garotas devem passar por isso, e não têm coragem de falar, porque acham que os pais não vão acreditar ou têm vergonha."

Elaine ainda está se recuperando emocional e fisicamente da agressão sofrida no dia 16 de fevereiro último. "Sou uma mulher forte, me sinto otimista, mas não vou negar que ficam algumas sequelas. Fico triste, quando lembro. Meu rosto está todo desfigurado ainda, está demorando para voltar, vou ter que fazer vários tratamentos, está muito longe do que era. Então, é difícil me olhar no espelho e não me encontrar. E eu tenho que me reencontrar, estou sendo forte".

A atriz Cristiane Machado, que instalou câmeras em casa, no ano passado, para flagrar a agressão que sofria do marido, o empresário e ex-diplomata Sergio Schiller Thompson-Flores, lembrou a importância de denunciar os casos e se juntar a outras mulheres para se fortalecer. Ela denunciou seu caso publicamente, em novembro.

"Eu me casei, então é muito difícil. Eu quase morri pelas mãos do meu próprio marido, que eu pensei que seria o homem da minha vida. Estou fazendo minha parte, porque isso alimenta a gente, para se curar do que aconteceu, e levar mais vozes para que as mulheres tomem coragem para denunciar e seguirem suas vidas".