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Você se esforça para o outro gozar? Homens e mulheres debatem diferença

Terminou a relação sexual insatisfeita? Você não está sozinha - iStock
Terminou a relação sexual insatisfeita? Você não está sozinha Imagem: iStock

Elisa Soupin

Colaboração para Universa

21/03/2019 04h00

"Depois que o cara goza, o rolê acaba". Essa foi a afirmação repetida de diversas maneiras diferentes por quase todas as mulheres ouvidas pela Universa para tentar entender a questão: os homens se preocupam com o prazer da mulher? A resposta é quase um uníssono: o empenho deles está abaixo do satisfatório e é consideravelmente menor do que o esforço feminino para que os caras cheguem lá. As mulheres até admitem uma melhora no panorama geral do desempenho, mas o caminho a ser percorrido por eles ainda é longo.

A gerente de produto Julia, de 32 anos, ficou solteira recentemente depois de um longo período em uma relação séria. "Hoje, eu vejo os caras muito mais engajados em preliminares etc., completamente diferente de dez anos atrás, quando eu fiquei solteira por mais tempo. Eles estão mais conscientes de que não é uma via unilateral", diz.

Ainda assim, ela muitas vezes acaba, literalmente, ficando na mão. "Eu tomo as precauções para conseguir gozar antes do cara terminar, porque quando não acontece, sei que geralmente vou ter que me resolver sozinha. E acabo deixando por isso mesmo", conta.

A história é diferente para mulheres que se empenham até o fim para o parceiro ter orgasmo - tem inclusive quem meça a qualidade da transa apenas pelo prazer do parceiro!

"Ele disse que cansou a mão"

Mas, afinal, é preguiça? "Eu não diria que os caras estão preguiçosos para transar, não. Disposição, eles têm. Adoram mil posições e acrobacias. Isso não é preguiça! É egoísmo mesmo", opina a produtora Luana, de 36 anos.

Segundo ela, eles são a geração que vê filme pornô e quer fazer igual com as meninas. "As mulheres, mais livres, topam numa boa. Por que não? Mas aí o cara goza e... acabou. Pra eles. Não é preguiça, é apenas achar que o mundo gira em torno do pinto deles. Nada novo sob o sol", completa. Ela lembra que, uma vez, depois de uma transa em que não gozou, pediu para ser masturbada e teve o ato interrompido no meio. "Ele disse que cansou a mão", ela não voltou a ficar com ele.

A comunicóloga Gabriela, de 26 anos, não acha que é preguiça também. Mas mesmo que eles sejam homens bacanas e preocupados com a mulher, não se preocupam tanto com o assunto: "Os caras são muito mais relaxados com isso (de dar prazer para a mulher). Acho que eles até pensam: 'ah, você não conseguiu agora, né, daqui a pouco você consegue'', conta.

E o que eles acham disso?

No contraponto, o advogado Ramon, de 31 anos, afirma que se preocupa com o prazer da parceira, mas que vários fatores influenciam no esforço. "Tento esperar a mulher, mas claro que já rolou de gozar antes. Se a mulher for sincera comigo e disser que não gozou, eu faço sexo oral até ela conseguir ou uso as mãos. Mas também tudo depende: cansaço, tesão, vontade, clima. Já aconteceu de eu saber que a menina não gozou, mas não fazer nada, porque estava cansado ou bêbado", conta.

Em uma relação estável, Pedro, de 24 anos, flexibiliza, em acordo com a parceira, a necessidade absoluta do clímax para os dois. "Muitas vezes, a gente goza junto, mas quando não rola, eu pergunto se ela quer que eu continue os trabalhos com oral, que é o que eu acho que todo homem deveria fazer: correr atrás do prejuízo. Mas, como é uma relação, muitas vezes a gente fica "se devendo", porque rola de um gozar e o outro não e não é o fim do mundo. Agora, por exemplo, estou devendo dois orgasmos pra ela, a gente vai acertando a conta", brinca.

Quando solteiro, fora do esquema de compensação, Pedro diz que seguir o sexo após gozar nem sempre é o que realmente deseja. "Basicamente, depois do orgasmo, você quer deitar de barriga pra cima e relaxar, muitas vezes você não tá no pique de continuar. Eu me dedico, mas é protocolar, pra cumprir ali o papel", conta.

A falta de intimidade com a anatomia feminina também é um fator que complica a vida dos rapazes (e frustra a vida das meninas).

"Eu saio com um menino, e, se eu não conseguir gozar, ele fica arrasado, mas eu acabo me sentindo pressionada. Ele faz de tudo pra eu gozar, mas rola um afobamento. Parece que eles realmente desconhecem o que fazer, não sabem chupar uma pepeca. Não tem a menor ideia do que fazer ali embaixo. Eu acabo ficando nervosa, é desconfortável, é muito difícil ser hétero", diz Gabriela.

Se ele não gozou, a transa não acabou

A incongruência na preocupação de homens e mulheres com o prazer do outra é evidente e histórica.

"A mulher tem um compromisso histórico com o prazer masculino. O lance sempre foi: tem que dar prazer ao seu macho, fazê-lo feliz. A gente fazia sexo só pra isso antigamente. Fomos conquistando o nosso direito ao prazer, mas ainda somos assim: se ele não gozar, a transa não terminou. O homem não tem esse compromisso. Ele está muito comprometido com o prazer dele", opina a produtora Cristiane, de 37 anos.

Gabriela concorda. "Existe um empenho muito maior feminino pra fazer os caras gozarem do que o oposto. É cultural isso. Eu mesma, com os meus ex-namorados, não gozava sempre quando transava e não era uma questão. Depois de velha que passei a achar meu próprio prazer importante. Os caras não, a vida inteira eles entendem que têm que gozar, a ideia de sexo pra eles é relacionada a isso", opina.

Julia elenca, ainda, que muitas vezes a mulher mede a qualidade do sexo pelo prazer do parceiro.

"Está atrelado a você se sentir à vontade, pela forma como a gente é criada, pelos tabus com o corpo, o prazer passa por muitas amarras psicológicas. Para o homem, acaba sendo físico mesmo, logo, mais fácil. A mulher quer fazer com que o cara tenha muito prazer. Ela mede seu desempenho sexual assim", Julia.