7 histórias chocantes de mulheres que foram torturadas na ditadura
O presidente Jair Bolsonaro, através de seu porta-voz Otávio do Rêgo Barros, determinou que o Ministério da Defesa realize as "comemorações devidas" em referência ao dia 31 de março de 1964, quando começou a ditadura militar no Brasil. Barros também afirmou que o presidente não considera que houve um golpe militar.
A fala tem repercutido Brasil afora, especialmente porque o deputado federal (SP) Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, também já se manifestou defendendo a ditadura e pedindo uma "revisão da história", tentando minimizar as torturas e mortes que aconteceram na época a mando dos militares, conforme já investigou a Comissão Nacional da Verdade (CNV).
A Universa relembra casos notórios de mulheres que foram vítimas da ditadura militar brasileira:
Zuzu Angel
Uma das estilistas mais importantes do Brasil, Zuzu Angel virou referência não só na moda. Seu filho, Stuart Angel, era militante do MR-8 (Movimento Revolucionároi 8 de Outubro) e foi sequestrado por agentes da repressão em 1971. Seu corpo nunca foi encontrado. Zuzu passou a vida lutando para que pudesse encontrar Stuart.
Em 14 de abril de 1976, Zuzu morreu após seu carro ter sido encurralado e capotado à saída do Túnel Dois Irmãos, no Rio de Janeiro. Logo levantou-se a hipótese de ter sido uma emboscada para matá-la. Um ano antes, a estilista tinha deixado uma carta a Chico Buarque e outros amigos, dizendo: "Se algo vier a acontecer comigo, se eu aparecer morta, por acidente, assalto ou qualquer outro meio, terá sido obra dos mesmos assassinos do meu amado filho".
O relatório da CNV, em 2014, chegou à conclusão de que a morte de Zuzu Angel não foi um acidente, e que houve envolvimento dos militares. O túnel onde ela morreu foi renomeado para Túnel Zuzu Angel.
Dilma Rousseff
A ex-presidente Dilma Rousseff testemunhou na Comissão Estadual de indenização às Vítimas de Torturas de Minas Gerais em 2001, relatando as torturas que sofreu quando foi presa em 1970 pela Operação Bandeirante. Dilma fazia parte da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) e foi torturada por três anos, em Minas Gerais.
Seu relato veio à tona em 2014, pela Comissão Nacional da Verdade. Ela conta que socos, eletrochoques e arrancar os dentes eram táticas comuns de torturas. Dilma também apanhou de palmatória e foi levada ao pau-de-arara. Ela era constantemente ameaçada: "Eu vou esquecer a mão em você. Você vai ficar deformada e ninguém vai te querer. Ninguém sabe que você está aqui. Você vai virar um 'presunto' e ninguém vai saber".
Araceli Cabrera Sánchez Crespo
Um dos casos mais escabrosos da ditadura é o de Araceli Crespo, do Espírito Santo. A menina, à época com oito anos de idade, foi sequestrada, drogada, torturada, estuprada, morta e carbonizada. O corpo foi encontrado em uma mata em Vitória, capital do Estado, completamente desfigurado e já em estado de decomposição.
Os principais suspeitos, Dante de Barros Michelini, o Dantinho; seu pai, Dante de Brito Michelini; e Paulo Helal pertenciam a famílias influentes do Espírito Santo junto ao regime militar. Apesar de, durante o julgamento, negarem conhecer a vítima, Dantinho e Helal conheciam a mãe de Araceli, Lola Sánchez. Boliviana, ela era um contato para traficar cocaína na rota Brasil-Bolívia, e teria usado a própria filha como "mula" para entregar drogas a membros da família Michelini.
Dantinho e Helal foram condenados a 18 anos de prisão e o pagamento de uma multa de 18 mil cruzeiros, em 1980. Entretanto, 11 anos depois, eles foram absolvidos por "falta de provas" pelo juíz Paulo Copolilo. Lola Sánchez fugiu do país.
Em homenagem a Araceli, é comemorado em 18 de maio (data da morte da menina) o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
Míriam Leitão
A jornalista Míriam Leitão foi presa em dezembro de 1972. Ex-militante do PCdoB, ela revelou, em 2014, as torturas que sofreu no quartel do Exército de Vilha Velha, no Espírito Santo, em depoimento ao "Observatório da Imprensa".
Míriam contou que tinha 19 anos e estava grávida de um mês quando foi capturada. Ela ficou presa em uma cela escura, completamente nua, com uma jiboia à solta; levava tapas, chutes e socos durante os interrogatórios; ficou sem comer por dias e foi ameaçada de estupro por diversas vezes. Os soldados soltavam pastores alemães perto dela e gritavam a palavra "terrorista" para que eles ficassem enraivecidos e ameaçassem atacar a jornalista. Ela foi solta em 1973.
Dinalva Oliveira Teixeira
A baiana Dinalva Oliveira Teixeira, a Dina, foi uma das vítimas fatais da ditadura militar. Militante do PCdoB, ela foi uma das guerrilheiras mais conhecidas da região do Araguaia. Segundo relatório da Comissão Nacional da Verdade, ela foi presa, torturada e assassinada em julho de 1974, em estado avançado de gravidez, perto de Xambioá, Tocantins.
O relatório afirma que Dina foi fuzilada olhando nos olhos do sargento Joaquim Artur Lopes de Souza, de codinome Ivan. O seguinte diálogo teria ocorrido:
Dina:'Vou morrer?'
Ivan: 'Vai, agora você vai ter que ir'
Dina: 'Eu quero morrer de frente''
Ivan: 'Então vira pra cá'.
Amelinha Teles
Maria Amélia de Almeida Teles, a Amelinha, foi torturada juntamente com o marido, a irmã e os dois filhos durante a ditadura. O coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra foi seu torturador, e ela era constantemente agredida por ele na frente dos filhos.
Entre as torturas, Amelinha relata à CNV que passou pelo pau-de-arara, levou choques no corpo inteiro, apanhou de palmatória e sofreu violência sexual. Seus filhos eram levados para vê-la nua, cheia de sangue e urina. A família Teles ganhou, em primeira instância, uma ação contra o coronel Ustra pelos crimes que sofreram, fazendo com que ele fosse o primeiro a ser reconhecido como torturador, em 2008.
Aurora do Nascimento Furtado
Aurora Furtado era militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) e foi assassinada aos 26 anos de idade. Ela foi presa em 1972 e encaminhada à "Invernada de Olaria", delegacia civil no Rio de Janeiro.
Ela foi torturada no pau-de-arara, levou choques, foi espancada, afogada e sofreu queimaduras. Ela também recebeu a "coroa de cristo": uma tira de aço colocada em volta da cabeça que vai sendo apertada aos poucos, para que o crânio seja esmagado e os olhos saltem para fora das órbitas. Ela morreu alvejada por 29 tiros e seu corpo foi jogado na rua.
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