Sexo na rua: o ponto de encontro em SP de quem curte praticar "dogging"
Localizada no bairro Paraíso, no centro expandido de São Paulo (SP), uma rua atrás de um batalhão de polícia e com uma pastoral evangélica é o improvável ponto de encontro dos praticantes de dogging, fetiche de transar em lugares públicos e com plateia. Há pelo menos 20 anos, pessoas se encontram ali para fazer sexo casual na calçada, dentro do carro estacionado ou enquanto o veículo está em movimento.
De acordo com a sexóloga Paula Napolitano, o "dogging" está muito ligado ao exibicionismo e voyeurismo. "São pessoas que gostam de ter relações sexuais em locais em que pessoas desconhecidas podem estar envolvidas, seja assistindo ou participando", diz. O que excita os praticantes é a possibilidade de serem pegos.
A veterinária Vânia*, 38, foi a guia turística que levou a reportagem da Universa até o ponto de encontro dos fetichistas. "Já vim aqui duas vezes. Uma delas, eu só virei o bumbum para a janela e levantei a saia", fala. Ela acha graça, mas não tem vergonha das aventuras sexuais que já viveu ali. "Dessa vez, apareceram pelo menos dez homens já com a calça aberta, mas o meu 'peguete' afastou os caras."
Vânia nos pegou de carro na estação Paraíso do metrô e seguimos para o local, onde três ruas desertas se encontram e uma delas desemboca na lateral da avenida 23 de maio, uma das mais movimentadas da capital. Logo ela abriu a jaqueta jeans, deixando à mostra um corpete de renda. "Vim vestida como isca", fala.
Como eram 21h de uma quinta-feira, ainda havia poucos homens parados na calçada: apenas três. Quem fica à espera, encostado na grade verde que cerca um prédio do local ou dentro do próprio carro, recebe o apelido de "gavião". Por estarmos em três mulheres, o que é incomum por ali, foi preciso passar pelo menos mais duas vezes para que os gaviões Rodrigo*, 32, e Tadeu*, 41, nos abordassem pela janela do veículo em que estávamos.
O empresário Tadeu começou a frequentar a rua há 19 anos, quando descobriu o fetiche. "Antes, eu ia muito em casa de swing, mas elas não eram tão comuns como atualmente", fala. Deu uma pausa nas visitas ao local quando se casou, porém, após a separação, voltou a praticar o "dogging". "Venho quase todos os dias. Sempre consigo descolar algo."
O taxista Rodrigo, por sua vez, prefere visitar o ponto de encontro aos fins de semana. Ele soube do lugar há dez anos por um passageiro. Casado há 16 anos, a mulher dele não sabe da "vida noturna" do marido. "Ela não gosta de nada disso, não tem nada a ver com ela", diz.
Quando bomba
De acordo com os visitantes, o lugar fica cheio de quinta a sábado, depois da meia-noite. "Mas eu prefiro vir antes disso, porque tem uns rapazes mais bonitos", fala Vânia. Depois das 2h, aparece um pessoal mais "estranho". "Tem muita gente louca aqui. Vem muito bêbado", diz Rodrigo.
Quando nos abordaram, Rodrigo e Tadeu deram um "oi", educadamente. Esse tipo de iniciativa é incomum. "Normalmente, os caras já vão com o pênis para fora da calça, ninguém quer conversar", diz o taxista. No entanto, o consentimento é algo muito importante para a dinâmica dos encontros de "dogging". "Quem manda é a mulher. A gente pede permissão para tudo", fala Tadeu.
Os sinais para os gaviões se aproximarem são claros --para eles. "Se o carro passa mais de uma vez trocando olhares, já sei que a pessoa quer algo", fala Rodrigo. O vidro da janela aberto é um convite para a aproximação. Porém, há momentos em que o local parece uma cena de apocalipse zumbi. "A gente para o carro e vem um monte de mão tentando te tocar pela fresta que você deixa", conta Vânia.
Por causa da disputa por parceiros, as brigas entre os gaviões são comuns. Tanto que, quando o vendedor Carioca*, 44, se aproxima do nosso grupo, Tadeu tenta espantá-lo. "Não tem nada para você aqui não", grita. Rodrigo, porém, avisa que o conhece.
Com uma aliança grossa no dedo ("ela chama a atenção das mulheres"), Carioca deixa claro que é solteiro, é "puto" e não quer ter um relacionamento. "Amor eu faço em casa". O vendedor conta que os casais heterossexuais são os que mais procuram por gaviões. "Tudo o que um casal não encontra em casa pode vir aqui procurar", diz.
Carioca diz que, "em um dia bom", já transou com três pessoas diferentes. "Quando estou com veneninho, o Viagra, eu faço sexo com cinco ou seis mulheres", conta. Segundo ele, seu recorde foram dez parceiras em uma mesma noite.
Rodrigo afirma que já transou com mais 100 pessoas que conheceu no ponto de encontro dogging. "Tem alguns casais que troco o telefone e a gente marca de se ver fora daqui", diz. Ele fala que nunca se apaixonou por uma parceira. "Aqui você perde o sentido de gostar, de se apaixonar. É viciante, quer vir todos os dias", fala. "Nem tenho mais tesão em mulher solteira."
Sexo fora da lei
Segundo o artigo 233 do Código Penal Brasileiro, "praticar ato obsceno em lugar público, aberto ou exposto ao público" é crime. A pena é de três meses a um ano de detenção ou o pagamento de uma multa. Por isso, os praticantes do "dogging" podem ser presos e é comum policiais irem até o local fazer ronda.
Quando uma viatura estaciona na rua, Rodrigo e Tadeu ficam observando os soldados da Polícia Militar. "Tem alguns deles que também vêm aqui curtir um pouco", diz o empresário. Isso não impede, no entanto, que eles fiquem tensos com a possibilidade de serem revistados. "Já levei uma batida aqui na semana passada", narra o taxista.
Além das batidas policiais, é comum que moradores dos prédios residenciais ao redor do local denunciem os praticantes. "Às vezes, os oficiais vêm aqui e mandam a gente vazar. Um conhecido já levou spray de pimenta na cara porque insistiu em continuar aqui", diz Carioca.
Às 23h, mais carros começam a chegar. Durante toda a visita, Vânia e Tadeu estavam trocando olhares e flertando. Quando vão se despedir, eles trocam o número de telefone e dão um beijo na boca. "Mas com ele eu não vou transar na primeira noite", fala a veterinária, enquanto nos leva de volta à estação de metrô.
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