Tomie, Yoko, Yayoi e mais 5 mulheres asiáticas que marcaram a história
Elas desafiaram os preconceitos de gênero e as convenções sociais e familiares para construírem vidas interessantes e carreiras gratificantes. Conheça a trajetória de mulheres com origem asiática que superaram maridos abusivos, criações extremamente rígidas e traumas para se destacar em diversas áreas.
Yayoi Kusama
Com recém-completados 90 anos de idade, a artista plástica e escritora nasceu na cidade rural de Matsumoto, no Japão. "Sou apenas mais uma bolinha no mundo", costuma dizer, referindo-se à presença obsessiva de pontos e bolas em seu trabalho, que agrega colagens, pinturas, esculturas, arte performática e instalações ambientais. Considerada a maior artista viva do Japão e a artista mulher mais vendida do mundo, Yayoi Kusama teve uma infância traumática. Autoritária e abusiva, a mãe a proibia de pintar e chegou a destruir telas em que ela trabalhava. Frustrada com as inúmeras traições do marido, ainda obrigava a filha a observar o pai em ação com as amantes - algo que a traumatizou e a fez desenvolver uma aversão por sexo pelo resto da vida. Ao longo da carreira, enfrentou altos e baixo com depressão, machismo, crítica familiar. Entre alguns de seus feitos estão a presença na Bienal de Veneza de 1993, representando o Japão, uma coleção de bolsas em parceria com a grife Louis Vuitton em 2012 e a exposição "Obsessão Infinita", que visitou o Brasil em 2014 com enorme sucesso.
Wang Zhenyi (1768-1797)
Cientista, astrônoma, matemática e poeta da Dinastia Qing, a chinesa costumava dizer que "filhas também podem ser heroínas" para desafiar as imposições e o tratamento dado às mulheres em sua época. Curiosa sobre tudo, dedicava horas aos estudos dos planetas, do sol, das estrelas e da lua e conseguiu compreender como se dava um eclipse lunar, algo tido até então como um sinal da "fúria dos deuses". Em seus poemas, costuma escrever sobre a importância da igualdade entre homens e mulheres. Wang Zhenyi entrou para a história como uma notável acadêmica do século XVIII.
Yoko Ono
Ela ainda é conhecida, injustamente, como a viúva de John Lennon (1940-1980) e a "mulher que provocou a separação dos Beatles". Na verdade, Yoko Ono - seu nome significa "filha do mar" em japonês já tinha uma carreira como artista de vanguarda nas artes plásticas e na música quando conheceu Lennon, fã declarado do trabalho dela. Por ser mulher e de origem oriental, Yoko se habituou a ser tratada com ironia e preconceito pelos fãs mais radicais e misóginos dos Beatles. A raiva nunca a atingiu, muito pelo contrário: ela a usou como matéria-prima para compor hinos feministas e performances impactantes como a conceitual "Cut Piece", de 1964, em que convidava o público a cortar pedaços da roupa que ela vestia. E em 1974, mandou um recado bem direto na letra de "Yes, I'm a Witch" (Sim, Eu Sou uma Bruxa): "Eu sou uma bruxa, sou uma megera, não me importa o que você diz. Minha voz é real, minha voz fala a verdade, eu não me encaixo no seu modo de ver." Aos 86 anos de idade, continua na ativa.
Xian Zhang
Nascida em Dandong, na China, tem 46 anos de idade e cresceu sob forte influência da família de músicos. Quando era criança, os pianos eram proibidos em seu país. Seu pai, então, decidiu construir um piano para a filha, que aprendeu a tocar sob as instruções da mãe. Xian Zhang, que hoje é uma das maestras mais importantes do mundo, foi professora de piano e treinou cantores na Ópera Central de Pequim. Na primeira vez que regeu uma orquestra, alvo de risadas de boa parte dos músicos por ser pequena, novinha (tinha apenas vinte anos de idade) e mulher. Ela não esboçou reação nenhuma, apenas começou o trabalho. Minutos depois, a orquestra inteira a seguia, respeitosa e admirada.
Margaret Cho
Aos 50 anos, nascida em São Francisco e filha de pais coreanos, Cho conseguiu duas realizações raras: obter destaque como comediante e se tornar atriz tendo descendência oriental. Em seus espetáculos de stand-up, ela critica a política e os problemas sociais, principalmente os referentes a raça, sexualidade e gênero. Ativista em defesa das mulheres, de direitos civis e, principalmente, de questões LGBT, ela fez um discurso emblemático no Dia dos Namorados de 2004, no Comício pela Igualdade de Casamento, na Assembléia Legislativa do Estado da Califórnia. Após o sucesso de seu espetáculo "I'm the One that I Want", de 2000, lançou sua própria produtora. Margaret Cho ganhou prêmios por seus esforços humanitários em nome das mulheres, transexuais, asiáticos e a comunidade LGBT.
Qiu Jin (1875-1907)
Cansada de um marido abusivo, que zombada de sua vontade de ser poeta, a chinesa deixou o país em busca de uma vida melhor no Japão. Lá, tomou consciência sobre os direitos das mulheres e se tornou uma das primeiras feministas do Oriente. Soube, por exemplo, que a antiga prática de enfaixar os pés das meninas - os conhecidos "pés de lótus" - para impedir de crescê-los prejudicava milhares de garotas na China. De volta à casa, fundou o "Jornal das Mulheres Chinesas" e começou a encorajar as mulheres a se rebelarem contra a dinastia Qing. Ela chegou a abrir uma escola que devia formar professoras de esportes, mas servia como fachada para formar revolucionárias. Descoberta, foi comunicada de que seria presa por representantes do governo. Não se rendeu e acabou executada, mas se tornou símbolo da luta pela independência das mulheres na China e no resto do mundo.
Junko Tabei (1939-2016)
Carrega o título de primeira alpinista a escalar os sete montes mais altos do planeta - incluindo o Everest - e passou a vida defendendo causas ecológicas. Nascida entre sete filhos, aos dez anos de idade subiu o Monte Nasu, no Japão, e a experiência transformou a sua vida. Em 1969, já formada em pedagogia e literatura inglesa, criou o Clube das Mulheres Alpinistas no Japão. Diagnostica com câncer, não deixou de escalar. E passou os últimos 15 anos da vida defendendo a organização de sistemas de incineração do lixo largado no caminho do Everest. Suas anotações se transformaram no livro "Honouring High Places: The Mountain Life of Junko Tabei" (em tradução livre, "Honrando Lugares Altos: A Vida na Montanha de Junko Tabei), lançado postumamente em 2017.
Tomie Ohtake (1913-2015)
A maior representante brasileira da arte abstrata tinha 23 anos quando resolveu visitar o irmão que morava no Brasil. A ideia era ficar um ou dois anos e retornar a Kyoto, mas a guerra do Japão a levou a ficar por aqui. Casou-se, criou seus dois filhos, e com quase 40 anos começou a pintar incentivada pelo artista japonês Keiya Sugano. Aos 50 anos, realizou mostras individuais e conquistou prêmios na maioria dos salões brasileiros. Em sua extensa trajetória participou de 20 Bienais Internacionais (seis de São Paulo, uma das quais recebeu o Prêmio Itamaraty, Bienal de Veneza, Tóquio, Havana, Cuenca, entre outras), e contabiliza em seu currículo mais de 120 exposições individuais, quase quatro centenas de coletivas, entre Brasil e exterior, além de 28 prêmios. Também criou gravuras, cenários, esculturas. Em 2013, quando Tomie Ohtake chegou aos 100 anos, a data foi comemorada com 17 exposições pelo Brasil, inclusive no instituto que leva seu nome, na capital paulista. Em dezembro de 2014, foi tema de um documentário sobre sua vida e obra assinado pela cineasta Tizuka Yamasaki.
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