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Bruna Linzmeyer: "Ninguém vai tirar minha alegria de beijar no meio da rua"

Julia Rodrigues/QUEM
Imagem: Julia Rodrigues/QUEM

Da Universa

05/04/2019 16h33

Bruna Linzmeyer é hoje uma referência quando o assunto é visibilidade e representatividade lésbica. Desde que se assumiu, a atriz vem levantando bandeiras sobre a importância de dar voz para discursos que levantam essas pautas.

Em entrevista à "Quem", a atriz, de 26 anos, contou ter sido mais difícil contar para seus pais, que moram na roça, sobre a dieta vegetariana do que sobre ser lésbica.

"Eu digo que para o meu pai foi mais difícil contar que sou vegetariana do que lésbica. 'Como assim? Nem as galinhas que sua avó mata no quintal você vai comer?'. Meu pai falou: 'Não esperava isso, mas se é isso que você quer, tudo bem'. Meu irmão também é viado, então ele falou antes de mim. A gente se encontrou na mesma época e eu falei: 'Esse você fala primeiro' (risos). Ele abriu um caminho também. E foi muito tranquilo, porque o preconceito não tem a ver com quantidade de conhecimento que você tem. Meus pais são pessoas muito simples, minhas avós... Perguntam toda vez que eu vou lá: 'Como está a Pri?'", explica a atriz, que namora Priscila Vizman há 3 anos.

Bruna relembrou ainda o relacionamento que teve com a cineasta Kity Féo, em meados de 2016, citando nunca ter sequer pensado em esconder sua orientação sexual.

"Não foi uma decisão [de assumir]... Aconteceu. Eu nunca escondi. Quando começamos a namorar, ela ficava muito surpresa que a gente ia jantar e eu nunca retinha nenhuma necessidade de afeto, nenhum beijo, nenhuma mão dada, nada. Ela se surpreendia e perguntava: 'Você não tem medo?'. Medo do que? Essa sou eu. Fico pensando se vou esconder e eu posso, de repente, ter tido mais oportunidade de trabalho comercial, publicitário, mas e eu? E a minha saúde interna? E minha alegria de poder dar um beijo no meio da rua? Isso ninguém vai me tirar", diz.

Os comentários de ódio nas redes sociais também foram abordados por Bruna, que desabafou sobre a intensidade com que esse comportamento reflete na sociedade fora desses ambientes de anonimato.

"As coisas que passo são muito pequenas perto do que realmente tem sapatão passando. Agora depois da eleição do nosso presidente, comecei a ouvir na rua 'sapatão filha da puta'. É muita agressividade, mas ao mesmo tempo não são xingamentos. Não me sinto xingada. Há mulheres que sofrem estupros corretivos, que não podem andar de mãos dadas com sua parceira perto de casa, porque tem medo do que vai acontecer. Tem mulher que é agredida, violentada e assassinada por ser lésbica. Isso é muito sério. Comentários preconceituosos e agressividade na rua matam. A gente precisa falar sobre essas mortes simbólicas. Ninguém dá uma facada em uma mulher sem antes xingar ela de sapatão no meio da rua. A gente tem que falar sobre todas essas etapas do preconceito".

"Não tenho medo por mim, mas tenho medo pelas minhas. Acho que ser uma pessoa pública me protege nesse sentido. Tenho medo pelas que me pertencem e que eu nem conheço, por todas nós que estão aí. Eu acho que o ódio das redes sociais é um sintoma social. Não é sobre mim. Se não estivesses ali me xingando, iam xingar qualquer outra pessoa. Quando você entende isso, dá uma dimensão muito dura de como a nossa sociedade se encontra, mas ao mesmo tempo não me atinge, não me dói."