"Ele achou que era dono dela", diz irmã de mulher assassinada pelo ex no DF
A servidora pública Rosana Borges de Oliveira, 48, velou a irmã, Isabella Borges de Oliveira, 25, na terça-feira (2), em Paranoá, região administrativa do Distrito Federal. Dois dias antes, Isabella foi assassinada pelo ex-companheiro, o vigilante noturno Matheus Cardoso Galheno, 22, com um tiro no olho. Ele se matou em seguida, e o caso foi registrado como feminicídio.
Naquele dia, Isabella recebeu o ex-companheiro na casa onde os dois moraram com os filhos gêmeos até se separarem, um mês antes do crime. Ele foi visitá-los com a justificativa de levar uma sacola de verduras para as crianças, de 1 ano, e entrou para conversar. Rosana dormia na sala enquanto os dois foram para o quarto.
"Acordei com o pedido de socorro vindo de lá: 'O Matheus quer me matar na frente dos meus filhos", conta Rosana à Universa. "Corri para lá e ele, armado, me disse: 'Não faça isso', para que eu não entrasse. Eu entrei mesmo assim."
Ela, então, viu Isabella, que segurava os gêmeos no colo, sob a mira do ex. Enquanto Rosana pegava um dos bebês, para levá-lo para outro quarto, ouviu de Matheus: "Tira logo as crianças daqui, você está me atrasando". Segurou a menina, saiu do quarto e ficou com medo: "Se eu for buscar o garoto, é como se estivesse dizendo: 'Agora mata'". Seus pensamentos foram interrompidos pelos estampidos de dois tiros.
"Voltei para o quarto e vi a criança chorando, em cima da mãe morta, no chão. Ele tinha dado um tiro na cabeça dela, que pegou no olho." Matheus se matou na sequência, com o outro tiro ouvido por Rosana, que atingiu sua cabeça. Estava caído em uma poltrona.
A diferença de 23 anos entre Rosana e Isabella fez com que a irmã mais velha cuidasse da caçula como se fosse sua filha --e é assim que ela se refere a Isabella: minha filha. A mãe das duas morreu em 2013, por complicações de saúde decorrentes da obesidade, e elas continuaram morando juntas. Matheus viveu com elas durante o tempo de relacionamento do casal.
Em vídeo, ex persegue e xinga a vítima
O motivo da separação, segundo Rosana, foi Matheus ter se negado a casar. "Ele não aceitou, não queria assumir o compromisso." Isabella, então, achou melhor que eles terminassem, "porque queria seguir a vida". Ela estava prestes a começar um novo trabalho, em uma escola pública do Distrito Federal, como professora.
Com o rompimento, Matheus foi morar com os pais. Na quinta-feira antes do crime, passou em frente ao trabalho de Isabella, no final do expediente, e a viu conversando com um homem. Ao ver Matheus, ela e o colega saíram andando, mas foram perseguidos por ele. Matheus sacou o celular e começou a gravar um vídeo, enquanto perseguia os dois. Universa teve acesso às imagens, em que o assassino aparece gritando: "Vagabunda! Aí, ó, e eu cuidando dos filhos dela", e ela responde: "Para de ser ridículo, cresce".
O vídeo foi enviado por Matheus para Rosana, que, na mesma hora, ligou para o rapaz. "Eu disse que estava assustada, e ele repetia que era para eu ficar tranquila, que tinha se exaltado, mas que não faria nada contra Isabella."
Rosana não se acalmou. "Todo dia vejo homens matando mulheres porque não aceitam a separação. Quem poderia garantir que ele não faria o mesmo com a minha filha?" As duas conversaram sobre o perigo que ele representava, mas a jovem estava firme: "Não vou parar minha vida por causa dele. Tenho minha rotina, meu trabalho, não vou me sujeitar a essas ameaças."
Nesse momento da entrevista, Rosana fica em silêncio e, em seguida, chora quando começa a falar do um momento que antecedeu o crime: "Lembro que olhei para a Isabella, no quarto, e ela me disse, chorando: 'Fui eu que abri o portão para ele', como se fosse culpada. Mas foi o Matheus que acabou com tudo e estragou nossas vidas, matou minha filha, que há pouco tempo estava conversando comigo, e que, de repente, vi caída no chão."
Pai era agressivo com os filhos
Delegada responsável pela investigação, Jane Klébia, da 6º Delegacia de Polícia de Paranoá, afirma, com base em depoimentos de familiares, que Matheus começou a ser agressivo com os filhos desde que nasceram, e que isso também teria motivado a separação.
"Ele ficava impaciente com o comportamento das crianças, por chorarem e tirarem horas de sono dele. E passou a agredi-los", diz a delegada. "A companheira não gostava. Quando ele bateu no braço da menina, a ponto de deixar um vergão."
Esse foi o sétimo caso de feminicídio registrado no DF em 2019. Um levantamento da SSP (Secretaria de Segurança Pública) do estado mostrou que, em 82% dos crimes, a motivação é o sentimento de posse do homem sobre a mulher. "Já pensei sobre isso. E acho que, na cabeça do Matheus, ele acreditava que poderia ser o dono dela", diz Rosana
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