Ex-professora larga tudo para vender tortas e hoje fatura R$ 7 milhões
Ainda na infância, Valéria Verdi de Macedo, 52, adorava assar bolos, mas a mãe só permitia que fossem feitos nos aniversários da família, para economizar. Como moravam quatro pessoas na casa, apenas quatro fornadas por ano eram permitidas. Inconformada, ela lembra que sempre inventava motivos para cozinhar, como criar datas de aniversário aleatórias para os animais de estimação da família.
Ao crescer, deixou a paixão de lado e seguiu os passos da mãe, que era professora: cursou magistério e passou no concurso público da Prefeitura de São José dos Campos (SP), onde mora. A rotina de professora da rede pública, no entanto, não a fazia tão feliz quanto imaginava. "Eu até gostava de dar aula, mas sentia que não era o que eu queria para sempre na minha vida".
Durante os quatro anos em que lecionou, tentou cursar Psicologia, mas percebeu que também não era sua praia. Ela não via perspectivas. A gota d'água foi quando assumiu uma classe que lhe dava muito trabalho. "Peguei uma turma difícil, sem limites, vi que não ia dar conta. No impulso, pedi demissão", lembra. Assim, ela resolveu que era hora de apostar no que realmente lhe trazia prazer e que nunca havia cogitado fazer profissionalmente: cozinhar.
O início de tudo
Com o dinheiro da rescisão, iniciou uma sociedade com a irmã, Cidinha Finimundi, pegou emprestado da mãe equipamentos como freezer e micro-ondas, e alugou uma edícula no centro da cidade para começar a vender tortas doces e salgadas. Assim nascia a Torteria Haguanaboka.
Sabores como nozes, limão, bacalhau e frango com catupiry faziam parte do acervo pessoal da família e costumavam ser feitas por Valéria e sua mãe nos almoços de domingo. Tudo permanece no cardápio da empresa até hoje.
As duas sócias faziam de tudo na empresa: desde a produção das tortas, manutenção da edícula e atendimento ao cliente. "Assim que abri a loja, eu entendi que era aquilo que eu queria, não tive dúvidas. O começo foi devagar, vendia para os vizinhos, as lojas próximas iam conhecer. Como eu tinha feito Psicologia, ficava conversando, conquistando os clientes. Tem alguns que são meus amigos até hoje", relembra.
Demora no lucro afastou a irmã
Nos três primeiros anos, Valéria não conseguiu tirar seu pró-labore e vivia às custas da mãe. Ela estava aprendendo a empreender na prática e ainda não tinha encontrado a fórmula para tirar dinheiro do negócio.
A ex-professora conta que, para sua irmã, que era sua sócia à época, não fazia sentido trabalhar sem lucro por tanto tempo. Cidinha saiu da sociedade e Valéria resolveu continuar a persistir no sonho, mas agora sozinha.
Um passo para trás
Quando começou a sobrar dinheiro, Valéria resolveu mudar para um ponto mais bem localizado, em uma avenida central. Dez anos depois, com a Torteria já consolidada, a cidade recebeu um shopping center e a ex-professora instalou uma loja lá também. Em meados dos anos 2000, veio a oportunidade de abrir um quiosque no mesmo espaço. Tudo funcionou durante dois anos, mas ela percebeu que gerir três pontos de venda por conta própria era insano. "Não sabia delegar muito bem, fiquei com muita loja para dar conta sozinha".
Com isso, Valéria precisou fechar o quiosque, cancelar a expansão e resolveu que buscaria capacitação para tornar a empresa mais profissional.
A história se repete
Valéria nunca se casou ou teve filhos. Com o passar dos anos, ela começou a temer que sua empresa deixasse de existir junto com ela, pois não tinha um herdeiro. Incentivada por sucedidos pedidos de investidores, decidiu embarcar no modelo de franquia. Trouxe um sócio, que já era conhecido pessoal, Alexandre Thibes, que a ajudou a formatar a Haguanaboka para a expansão. O processo durou quase três anos, até o fim de 2016.
Hoje, a marca tem três lojas franqueadas, além das duas próprias. As cinco unidades recebem os produtos da mesma cozinha industrial.
No ano passado, Valéria viu a história se repetir: como as franquias ainda não davam lucro, ela conta que Thibes precisou deixar a sociedade para procurar um emprego fixo. Os cursos que fez ao longo da maturação da empresa, no entanto, a preparam para assumir tudo sozinha novamente, mas com mais segurança do que na primeira vez. Agora, tudo é com Valéria.
Legado e futuro
O faturamento da marca em 2018 foi de R$ 7 milhões e a expectativa é crescer algo em torno de 20% esse ano.
Agora, quase 30 anos depois de deixar a estabilidade do emprego público e ir atrás dos seus sonhos, Valéria afirma que não se arrepende de suas escolhas. De acordo com ela, tudo que passou foi importante, e diversos aprendizados, mesmo desde os tempos da sala de aula, ainda são úteis na gestão do seu negócio.
"Se pudesse, a única coisa que eu diria para aquela Valéria mais jovem seria 'vá em busca de fazer o que você gosta e se sente bem e nunca desanime. Dê o melhor de si e persista'".
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