Ela viveu relacionamento abusivo e dá palestras em escolas sobre violência
"Você é gorda"," Ninguém vai querer você"," Sempre faz tudo errado". Essas palavras tão cruéis fazem parte da rotina de muitas mulheres, mas nem todas sabem que podem denunciar o agressor por tortura psicológica.
"Grande parte das vítimas desse tipo de crime ainda desconhecem seus direitos, não tem força para reagir e nem sabem a quem procurar. Acham que só podem ir à delegacia se estiverem machucadas fisicamente, se tiverem marcas no corpo para mostrar", fala a advogada Claudia Cristina Juvenal, 38 anos. Ela também passou por situações bem complicadas em um relacionamento e escutou frases violentas como essas do início do texto. Claudia conta que percebeu que deveria encontrar uma forma de ajudar outras pessoas a sair de uma "rotina infeliz".
Vontade de abrir os olhos de outras mulheres
Além de atuar como advogada, Claudia é agente de Educação Infantil em uma escola pública, no Rio de Janeiro. Depois que conseguiu terminar o relacionamento abusivo sentiu vontade de mostrar para outras mulheres que isso era possível. Mas seria preciso realmente ter vontade de dar um fim ao sofrimento.
Foi assim que ela começou a pesquisar as várias formas de violência e montar palestras por conta própria para alunos em regiões de baixa renda. "Eu peguei cartilhas, li livros e procurei saber dos órgãos que auxiliavam vítimas, como o disque-denúncia, o 180, e o Hospital Fernando Magalhães, que tem um atendimento especial para vítimas de estupro", conta.
A iniciativa de Claudia começou de uma forma bem tímida, em uma reunião de pais na escola onde atua, mas agora se tornou rotina também em outras instituições. "Não tinha muita coragem para falar em público, mas acabei fazendo uma palestra para 50 pessoas no nosso colégio em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, 2017. No final do evento, uma menina me procurou e me agradeceu, me abraçou. Falou que escutou o que precisava e a partir daquela data, iria procurar sair do relacionamento abusivo em que se encontrava. Pensei então que não podia parar", recorda.
Durante as palestras, Claudia procura chamar atenção para temas que nem sempre são abordados no dia a dia, como as conseqüências da omissão de socorro. "As pessoas precisam entender que a omissão também é um crime. Que a frase 'em briga de marido e mulher ninguém mete a colher' não faz mais nenhum sentido e que vidas podem ser salvas se o socorro acontecer na hora certa. Nem precisa se envolver diretamente na briga. Basta uma ligação anônima para o disque-denúncia ou em casos mais urgentes para o 190. Já pensou se alguém morrer porque você não quis perder alguns minutos no telefone?", questiona.
A advogada, que atualmente cursa a faculdade de Pedagogia, se coloca à disposição para levar essa aula de informação sempre que receber um convite, dependendo da disponibilidade da sua agenda de trabalho. Além das escolas, agora também surgem algumas igrejas interessadas em ceder um espaço para debater o tema.
Em uma hora, são explicados os vários tipos de violência. "Queria fugir um pouco da linguagem jurídica e falar de uma maneira bem próxima, de quem realmente já esteve naquele lugar. Falo também de maus tratos contra idosos, de crianças e de violência obstétrica, que muitas mulheres passam e desconhecem. Procurei saber de grupos de apoio de onde essas pessoas podem pedir ajuda, como o MADA (Mulheres que Amam Demais) e dar o máximo de dados, endereços, telefones, links da internet. A informação é nossa maior arma", diz.
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