De dia pedreiro, à noite rainha: drag queen está construindo a própria casa
Igor William, 29, suja as mãos de cimento e empunha uma pá durante o dia, quando está subindo uma parede com o amigo Severino. À noite, ele sobe no salto alto e dubla Maria Bethânia como a drag queen Safira O'Hara. O morador do bairro Pavuna, na zona norte do Rio de Janeiro (RJ), conquistou a internet ao publicar, no domingo (7), uma imagem em que mostra as suas duas rotinas tão distintas. A jornada dupla é para conquistar um sonho: o da casa própria. "Quando eu tinha 19 anos, fui expulso de casa por ser gay e morei por dez anos de aluguel. Decidi que não voltaria para a casa da minha mãe e que um dia teria uma só para mim. Há dois anos, estou construindo a minha residência", fala em entrevista à Universa.
O carioca trabalha como sushiman em um restaurante, faz três shows por semana como Safira O'Hara e investe o dinheiro na construção da casa. Para poupar, conta com a ajuda do amigo Severino, que o ensinou a trabalhar como pedreiro. "A gente coloca Gloria Groove e Pabllo Vittar para tocar e botamos a mão na massa", conta. Como os materiais são caros, ele ainda vai demorar para finalizar a obra. Está, no entanto, feliz da vida. "Estamos subindo as paredes para bater a laje, porque quero ter um segundo andar para montar um ateliê de drag", fala, com orgulho.
A drag Safira nasceu há dez anos, em uma brincadeira de Carnaval. "Eu já fazia teatro, mas queria criar um personagem feminino, então utilizei o recurso do transformismo. Acabei me apaixonado", diz. O nome artístico foi inspirado em Scarlett O'Hara, personagem de "E o Vento Levou?". "Queria algo que soasse como 'joia rara', foi quando pensei em Safira O'Hara."
A drag queen se apresenta frequentemente na Turma OK, casa LGBT do Rio de Janeiro (RJ) fundada em 1954, além de fazer shows em boates, saunas e festas de aniversário. "Mas nem sempre vale a pena. Eu fico uma hora me montando, tenho que pegar transporte público maquiado correndo o risco de sofrer uma violência, para me apresentar por cinco minutos por um cachê que pode ser bem baixo", afirma.
Apesar do medo de apanhar no caminho até as festas, William fala que todo mundo em sua comunidade sabe que ele se monta. "Eles me respeitam bastante. Eu passo e já falam: 'Olha lá a drag'". Por isso, está construindo a casa dentro do Pavuna. De acordo com Igor, a residência terá dois quartos porque "as minhas coisas e as da Safira juntas não dão certo". "Vou dedicar a parte mais alta da casa ao meu orixá Logunedé", diz o adepto do candomblé.
Quando publicou a imagem como pedreiro e como drag queen, ele queria passar uma mensagem de otimismo. "Quis mostrar que outras pessoas LGBT podem construir as próprias casas, os próprios sonhos. É o melhor tapa na cara que a gente pode dar no passado", diz o artista, que hoje mantém um relacionamento muito bom com a mãe. Depois de ter a casa própria, Igor William/Safira O'Hara pretende conquistar o diploma universitário. "Quero cursar artes visuais. Percebi que essa é a minha vida."
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