"Passei por 30 quimioterapias e estou grávida, aos 41 anos", diz ex-modelo
Flavia Flores já foi modelo, empresária da moda e tratou por cinco anos um câncer de mama agressivo.
Realizou uma mastectomia nos dois seios, perdeu o namorado, criou uma fanpage com mais de 100 mil seguidoras, lançou um livro, criou um instituto e hoje está feliz, casada com o amor da sua vida, vivendo nos EUA e grávida, contra qualquer diagnóstico. Veja seu relato à Universa.
"Desde os 13 anos trabalhei como modelo. Nasci e cresci em Florianópolis. Aos 35 anos, estava assumindo uma gerência comercial numa marca estrangeira que chegava no Brasil. Lembro como tudo começou, aquele diagnóstico em 2012 que me tirou o chão, pessoas que se afastaram e nunca mais voltaram, cirurgias e tratamento oncológico.
Decidi compartilhar minha história pelas redes sociais. E, assim, inspirar mulheres a passarem pelo tratamento. Elas me davam forças, trocávamos experiências -- muitas das minhas seguidoras já estavam em tratamento. A história virou um livro: Quimioterapia e Beleza (Jardim dos Livros).
Abandonada pelo namorado
Eu nem sabia que meus óvulos deveriam ser congelados antes de começar o tratamento oncológico. Não sabia também que teria dificuldade de engravidar após 30 quimioterapias, 28 radioterapias e hormonoterapia. O médico nem tocou no assunto dos efeitos desse monte de remédio no meu aparelho reprodutivo.
Fui abandonada da forma mais fria possível pelo meu namorado após a mastectomia: ele simplesmente me bloqueou, desapareceu. Eu não pensava em ter mais filhos. Uma vez, eu perguntei para o meu médico por que ele não me deu essa opção de congelamento e ele me respondeu que o meu câncer era hormonal e para fabricar esses óvulos, eu receberia uma injeção com uma dose cavalar de hormônios e era arriscado fazê-lo naquele momento.
Amar de novo
Reencontrei o amor da minha vida e hoje vivo em San Diego, nos EUA, com quem eu sempre sonhei em reencontrar. Eu confesso que estava preocupada e chateada por não ter tido a chance de congelar os meus óvulos. Eu vim para San Diego em 1999, para estudar aviação e conheci o Ryan. Mas por problemas no meu visto, fui mandada embora do país e fiquei 14 anos sem vê-lo.
Nos encontramos no México em 2016 e resolvemos nos casar. Tentei o visto, mostrei meu projeto, meu livro, meu instituto e tudo o que eu fazia pelas outras pacientes oncológicas e consegui entrar nos EUA mais uma vez! Casamos no civil em 2017. Logo eu parei meu tratamento oncológico. E comecei a tentar engravidar. Casamos no religioso e fizemos uma festa linda em 2018.
Parece história de filme a minha vida, mas acabei engravidando naturalmente no final do ano passado. Quem vai começar o tratamento agora, mesmo que não tenha namorado no momento, mesmo que já tenha passado dos 35 anos, procure saber sobre congelamento de óvulos!
Não tenho como amamentar
A primeira coisa que as pessoas perguntam é como vou amamentar e se sinto dores nos seios. Teoricamente não era para eu sentir dores nos seios durante a gravidez -- porque eu não tenho seios, mas eu sinto. Nas primeiras semanas, antes de eu desconfiar que estava grávida, senti eles bem sensíveis, pensei que doíam por causa de uma massagem que eu fiz. Eles não aumentaram e nem vão aumentar de tamanho como de toda grávida, mas eu sinto.
Os mamilos cresceram um pouco, estão mais salientes e doem um bocado. Eu sou mastectomizada das duas mamas -- isto é, por causa do meu tipo de câncer e a minha idade, optamos pela retirada das duas, com reconstrução imediata. Para minha felicidade, minha médica, preservou os bicos e aréola pelo fato do meu tumor ter sido encontrado longe dos mamilos.
Amamentar eu não posso mais, o alimento que ele vai ganhar é a Fórmula e muito amor! Não é por não produzir leite que meu filho, o Lyon vai se privar daquele momento mamãe e bebê.
Vou esquentar uma mamadeira, vamos sentar juntinhos perto da janela, vou cantar para ele, como eu já ando cantando, vamos curtir a hora de mamar, com muito carinho. O importante é se conectar nesse tempo só nosso, sem celular por perto, sem estresse e com muitos beijinhos.
Tinha receio de engravidar por causa dos hormônios da gravidez. Pesquisei, consultei vários especialistas que me garantiram que era seguro depois de um câncer de mama como o meu -- dizem até que faz bem para uma ex-paciente engravidar depois do tratamento.
Vou aproveitar o meu pequeno Lyon o máximo que puder. E nunca vou desistir dos meus sonhos.
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