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Ela largou uma sólida carreira para criar bolsas e fatura R$ 600 mil ao ano

Após 20 anos de carreira, a química Denise Gerassi resolveu produzir bolsas de couro sofisticadas - Divulgação
Após 20 anos de carreira, a química Denise Gerassi resolveu produzir bolsas de couro sofisticadas Imagem: Divulgação

Marcelo Testoni

Colaboração para Universa

13/04/2019 04h00

Depois de trabalhar por mais de 20 anos na indústria farmacêutica, a química industrial Denise Gerassi, 55 anos, resolveu empreender. "Eu queria mudar de área, pois estava cansada do que fazia e das responsabilidades que tinha, e por ser apaixonada por bolsas, resolvi fazê-las", revela Denise, que hoje é proprietária da marca de bolsas que leva seu nome.

Como queria lançar produtos para serem usados o ano inteiro e propor um consumo consciente, Denise apostou em trabalhar com materiais sustentáveis e que fossem típicos da natureza do Brasil. Iniciativa que, segundo ela, revela sua crença no potencial do mercado interno e se distancia das bolsas produzidas por grifes internacionais e que conquistam as brasileiras por falta de concorrentes nacionais.

Investir alto requer experiência

Denise entendia de bolsas como consumidora, mas nada sobre como produzi-las. Por isso, precisou buscar ajuda de profissionais para orientá-la nesse ramo e não cometer erros, pois investiria na abertura do negócio um valor alto, cerca de R$ 100 mil em economias pessoais.

"Contratei uma especialista em calçados e bolsas e que trabalha como coordenadora de pós-graduação em um instituto internacional de design. Com ela, fiquei por um ano desenhando o projeto e estudando sobre público-alvo, modelagem e materiais para bolsas. Para lidar com sustentabilidade, contratei outro consultor, que me colocou em contato com o trabalho de comunidades ribeirinhas, trazendo materiais de associações, de cooperativas, para que conseguisse chegar, juntamente com o couro, às peças que eu tanto desejava", explica Denise.

No começo, a empreendedora revela que sonhava em abrir sua empresa com funcionários e até fábrica própria, mas percebeu, com a experiência dos consultores, que o melhor seria ir devagar. Optou, então, por abrir em 2014 um e-commerce, que administra de casa, em Embu-Guaçu, na Grande São Paulo, e terceirizar a parte de divulgação em mídias sociais e a de produção em ateliês de costura. As vendas diretas da marca e o processo criativo de desenhar as bolsas também são feitos por Denise, que conta com o auxílio de uma equipe de moda e design.

Design extraído da fauna e da flora

O couro que é utilizado para fazer as bolsas de Denise é o de pescada amarela e o de pirarucu --um dos principais peixes da Amazônia. Além dessas peles, que, de acordo com a empreendedora, são os materiais que mais fazem sucesso entre as clientes, também são empregadas sementes de jarina, fruto de uma palmeira da região norte do país, e tiras de couro de cabra.

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As bolsas de Denisesão criadas com peles de peixes, sementes e couro de cabra
Imagem: Divulgação

"As peles de peixes são subprodutos da indústria pesqueira, provindas de criatórios ou de programas de manejo sustentável regulamentados sob controle de órgãos governamentais, como IBAMA, e ONGs dedicadas à preservação de espécies e da biodiversidade. Hoje, populações ribeirinhas e pescadores, que antes descartavam as peles, vendem o quilo delas, que geram renda extra, por um valor superior ao do quilo da carne dos peixes", explica Denise, observando que o curtimento das peles também é sustentável, pois utiliza produtos orgânicos, livres de materiais pesados, e rende, além de cores vivas, couros com flexibilidade, maciez, resistência e beleza.

As sementes de jarina, por sua vez, são obtidas de comunidades de manejo florestal que elaboram a secagem e o tingimento delas de forma natural e artesanal. Após concluído o processo, são consideradas biojoias, pois ganham cor e brilho comparados ao do marfim animal.

Denise também tem parceria com o projeto do Espírito Santo, Novas Marias, que busca dar visibilidade à mão de obra de mulheres presidiárias, favorecendo sua ressocialização e diminuindo suas penas pelo trabalho com artesanato. "É muito gratificante lançar produtos com envolvimento dessas mulheres, que tecem sobras de couro de cabra que acabavam saindo da indústria do vestuário para o lixo. Os pedacinhos que sobram são transformados em franjas que viram bolsas adornadas com tricôs", comenta Denise, prometendo lançar, em breve, bolsas masculinas e calçados de couro.

Dentro da sustentabilidade, Denise ainda trabalha com algodão reciclado e garrafas pets para fazer forro de bolsas e não utiliza plásticos na confecção de suas peças e nem em embalagens.

Sucesso entre brasileiras e estrangeiras

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Hoje, Denise tem clientes no Brasil e também em outros países
Imagem: Divulgação

Denise diz faturar ao ano perto de R$ 600 mil, dos quais reinveste quase tudo na expansão do negócio. De acordo com ela, só é retirado um pequeno percentual para despesas pessoais, pois seus custos fixos são baixos e sua casa, por ter uma boa estrutura, serve como sede administrativa e também estoque de matérias-primas e produtos terminados.

"Desde que lancei minha marca, em 2014, fui convidada a participar de eventos e desfiles fora do país várias vezes. Com 15 dias após o lançamento, estive em uma feira em Bogotá, na Colômbia. Depois dessa feira, com a ajuda de associações ligadas ao setor de produtos e de couro, estive em outras, em Milão, Las Vegas, Paris e Lisboa. Hoje, tenho clientes no Brasil e, fora dele, em países como Japão, Coréia do Sul, Canadá, Itália, Inglaterra e Estados Unidos", conclui Denise, que também atende clientes de São Paulo em domicilio, para que possam conhecer pessoalmente seus produtos, e oferece cerca de 30 modelos de bolsas a preços que variam de R$ 500 a R$ 1.600.