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Morre Jerrie Cobb, aviadora impedida de ir ao espaço por machismo da Nasa

A aviadora na década de 1960 - WikiCommons
A aviadora na década de 1960 Imagem: WikiCommons

Da Universa

20/04/2019 20h15

A aviadora Jerrie Cobb morreu aos 88 anos na Flórida, na última quinta (18). Uma das melhores pilotos da história, Jerrie atendia todos os requisitos para ir ao Espaço, mas nunca chegou a ser enviada a uma missão para fora da Terra. Segundo ela costumava dizer, por machismo, a Nasa, a agência espacial norte-americana, não convocou mulheres astronautas durante a chamada "corrida espacial".

"Meu país e minha cultura não estavam preparados para permitir que uma mulher fosse enviada ao espaço", escreveu em sua autobiografia de 1997.

Jerrie participou de um programa que questionava a Nasa por enviar apenas homens ao espaço. Os testes foram assim: ela e mais doze mulheres enfrentaram a mesma análise física e psicológicas usadas para testar candidatos à astronauta do sexo masculino. A prova foi gerida por uma organização particular e sem vínculo com a Nasa.

Jerrie em um simulador de voo em Ohio, na década de 60 - Reprodução - Reprodução
Jerrie em um simulador de voo em Ohio, na década de 60
Imagem: Reprodução

O exame mostrou que Jerrie atendia a todos os requisitos, obtendo 98% de qualificação entre homens e mulheres. Não à toa, Jerrie era um prodígio. Conquistou seu brevê para voos particulares aos 17 anos de idade. No seguinte, obteve licença para voos comerciais.

Aos 19 anos, já era professora de voo e participava de voos complexos, como transportar equipamento bélico da Força Aérea americana. Foi a primeira a voar na exposição internacional de aviação em Paris, e foi eleita por uma revista americana como um dos '100 jovens mais importante dos Estados Unidos' na década de 60.

Jerrie, aos 67 anos, posa em frente a modelo de nave espacial da Nasa em 1998 - Scott Audette - Scott Audette
Jerrie, aos 67 anos, posa em frente a modelo de nave espacial da Nasa em 1998
Imagem: Scott Audette

Lutou por mulheres no espaço

Com o histórico e o teste para se tornar astronauta, ela questionou Congresso norte-americano sobre a exclusão feminina na Nasa.

"Nós, mulheres, queremos pesquisar e participar na exploração espacial. Não estamos participar de uma batalha entre sexos. Nós, pilotos, voamos e compartilhamos de respeito mútuo com pilotos do sexo masculino. Nós sabemos bem como viver em comunhão em nossa profissão. Buscamos apenas o futuro de uma nação sem preconceitos", defendeu em um comitê para parlamentares em 1962.

"Tinham mulheres no Mayflower [navio que levou os primeiros ingleses para a América] e nos primeiros vagões de trens que nos levaram ao oeste. Elas trabalharam lado a lado com homens para forjar trilhos. Pedimos a mesma oportunidade para ser pioneiras no espaço", defendeu.

A Nasa a contratou como "consultora" em 1963. Na ocasião, disse à imprensa que era a "consultora menos consultada de uma agência do governo". O contrato durou uma semana.

A agência afirmava que era preciso ter permissão para pilotar jatos militares para se tornar um astronauta, o que automaticamente excluía mulheres do processo, uma vez que elas não eram permitidas a voar nesse tipo de avião da Força Aérea.

Ligação com o Brasil

A história de Jerrie não parou por aí. Impedida de voar ao espaço ela se dedicou ao trabalho humanitário. A piloto recebeu homenagens do governo brasileiro por levar suplementos a povos indígenas na Amazônia. Do presidente norte-americano Nixon, uma insígnia de "melhor piloto do mundo". Foi indicada ao prêmio Nobel da Paz, em 1981.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Ao contrário do informado, a primeira ida de uma mulher ao espaço não aconteceu somente na década de 80 e sim em 1963, quando a russa Valentina Tereshkova completou 48 órbitas ao redor da Terra.