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Mulheres protagonizam um mundo em evolução


Agência de cinema quer mais filmes de mulheres, negros e indígenas

Julia Rezende com a atriz Ingrid Guimarães nos bastidores do filme "De Pernas pro Ar 3" - Divulgação
Julia Rezende com a atriz Ingrid Guimarães nos bastidores do filme "De Pernas pro Ar 3" Imagem: Divulgação

Paulo Gratão

Colaboração para Universa

28/04/2019 04h00

A cada 100 filmes brasileiros lançados nos últimos vinte anos, pouco mais de dez foram dirigidos por mulheres. A informação é de um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nessa listagem, a diretora que aparece melhor colocada é Julia Rezende, 33, com o filme "Meu Passado me Condena" (2013), em 47º.

Se ampliar o recorte, desde os anos 1970, apenas uma produção dirigida por mulher supera a de Julia, em número de público: Lua de Cristal (1990), assinada por Tizuka Yamazaki e protagonizada por Xuxa.

A Agência Nacional de Cinema (Ancine) fez um levantamento com 142 filmes brasileiros lançados comercialmente em 2016, sendo 97 obras de ficção, 44 documentários e uma animação. Destes, 75,4% foram dirigidos por homens brancos e 19,7% por mulheres brancas. Cerca de 2,1% foram dirigidos por homens negros e nenhuma obra foi roteirizada ou dirigida por uma mulher negra.

Entre os longas de ficção, 15,5% foram dirigidos por mulheres. A participação delas cresce em documentários, com quase 30%.

Ancine quer aumentar representatividade

Ciente dessa desigualdade, a Ancine iniciou alguns movimentos para tentar minimizar a situação. No ano passado, foi criado um grupo de trabalho sobre Diversidade de Gênero e Étnico-racial no Audiovisual, com objetivo de formular uma política de promoção e estímulo à igualdade de gênero e raça no setor.

Também há um Projeto de Lei na Câmara dos Deputados (nº 10.516/2018) que prevê reserva de vagas para negros, indígenas e mulheres em processos seletivos que tenham financiamento público.

Filme de maior sucesso não estava previsto

A diretora Julia Rezende - Davi Campana/Divulgação - Davi Campana/Divulgação
Julia: "Quando existirem executivas na indústria, outros projetos serão aprovados"
Imagem: Davi Campana/Divulgação

O primeiro "Meu Passado Me Condena" aconteceu totalmente por acaso, segundo Julia. Era uma série de TV a cabo, que ainda estava na primeira temporada, e foi roteirizado e rodado em seis meses, a tempo de um navio oferecido a sua produtora sair do porto.

O trabalho acabou se tornando uma das maiores bilheterias nacionais do século 21 --a maior dirigida por uma mulher. "O sucesso do primeiro projeto foi o que me abriu diversas portas", explica.

Sucesso abre caminho para novas diretoras

Conquistar cada vez mais trabalhos de sucesso não é uma batalha individual, na visão de Julia. "Cada vez que uma mulher tem um filme de repercussão em festivais, dirige longas bem recebidos pela crítica ou tem boa resposta do público está abrindo as portas para novas diretoras".

A diretora acredita que mais oportunidades surgirão para novas diretoras quando mulheres ocuparem cargos estratégicos em outros pontos da indústria cinematográfica, como nas distribuidoras, por exemplo. "Quando existirem executivas na indústria, outros projetos serão aprovados. Precisamos trazer as nossas narrativas, e não necessariamente só sobre mulheres", comenta.

Novo filme já arrecadou milhões

Atualmente, Julia está em cartaz com "De Pernas Pro Ar 3", protagonizado por Ingrid Guimarães. O filme se tornou a maior estreia nacional de 2019, até o momento, com 417 mil espectadores e arrecadação de R$ 7 milhões no primeiro final de semana.

Apesar de ser uma saga que fala sobre situações inerentes ao universo feminino, é a primeira vez que a história é contada sob o olhar de uma mulher.

Julia era assistente de direção em "De Pernas Pro Ar 2" (2012) e conta que ficou receosa ao receber o convite da própria Ingrid para dirigir o novo filme. Elas já haviam trabalhado juntas em "Um Namorado Para Minha Mulher" (2016). "Pensei se aquilo fazia sentido, porque não tinha dirigido os dois primeiros. Mas, quando discutimos o roteiro, me senti mais à vontade. Eu estava com bebê recém-nascido e amamentava durante as reuniões. Toda essa discussão de ser mãe, trabalho e divisão de rotina me tocou e fez eu me identificar com o filme", explica.