Brasileiros sofrem com ameaças de apedrejamento na Universidade de Lisboa
Um caso na Universidade de Lisboa, em Portugal, causou a revolta de estudantes brasileiros no local. Alunos portugueses posicionaram uma caixa na instituição, nesta segunda-feira (29), incitando o apedrejamento dos brasileiros, conhecidos por lá como "zucas".
"Grátis se for para atirar a um zuca (que passou a frente no mestrado)", dizia a instalação com pedras dentro, que ganhou notoriedade após a brasileira Maria Eduarda Calado, 24, usar suas redes sociais para compartilhar o ocorrido.
"Eu estava em casa e recebi a imagem em um grupo de WhatsApp que estão todos os estudantes brasileiros de Direito. Aqui a gente a gente chama os brasileiros de 'zuca', de 'brazuca', e os portugueses de 'tuga', de 'portuga'. Uma das meninas que viu essa foto enviou e foi tirar satisfação, perguntando o que era aquilo. Eles falaram que era uma brincadeira e ela retrucou dizendo não ser algo legal pelo cunho xenofóbico e incitar a violência", conta Maria Eduarda à Universa, dizendo ainda que os responsáveis fizeram "pouco caso" sobre uma possível denúncia.
Maria Eduarda cita ainda um dos possíveis "argumentos" utilizados pelos alunos para terem colocado a caixa, explicado por um dos professores da Universidade.
"A faculdade agora está com uma seleção aberta para seleção acadêmica. Então as chapas estudantis estão concorrendo e divulgando suas propostas. Uma das chapas é essa, que colocou essa caixa. Uma das alunas comentou sobre isso com um professor e ele respondeu que uma das hipóteses para isso ter acontecido foi que, em maio do ano passado, que a maior parte dos inscritos para as vagas de mestrado eram de brasileiros - o que fez os portugueses acabaram com as vagas remanescentes. De fato, a procura de brasileiros para fazer mestrado aqui é grande. Mas esse foi um dos argumentos para dizer que nós roubamos as vagas, no entanto o processo é o mesmo, tanto para brasileiros como portugueses; tudo feito a partir da média ponderada do histórico escolar, diploma e currículo", argumenta.
Posicionamento da diretoria
A brasileira, de Recife, conta que a Faculdade de Direito e a Universidade de Lisboa emitiram notas de repúdio contra a atitude, além da abertura de um procedimento interno para tomar as medidas necessárias.
"Aproximando-se da data das eleições para os órgãos da AAFDL, estão em curso ações de campanha organizadas pelos estudantes. A nossa Faculdade orgulha-se de ser um espaço de liberdade de opinião e de incentivo à participação cívica responsável, convivendo com a autocritica, o humor e a sátira. A Direção da Faculdade reafirma estes valores os quais devem coadunar-se com o respeito por todos os alunos, assim como a respectiva diversidade cultural, étnica ou de proveniência e pela consequente ausência de ações suscetíveis de serem ofensivas ou impróprias. Razão pela qual, mesmo em campanha eleitoral para os órgãos associativos dos estudantes, não serão toleradas quaisquer ações ofensivas relativamente a alunos da Faculdade", diz a nota da Faculdade de Direito.
"Assim que a gente viu, denunciamos para o Núcleo de Estudos Luso-Brasileiros, e eles entraram em contato com a secretaria da Faculdade de Direito. A Faculdade soltou uma nota, bem fraca, colocando panos quentes em cima. Depois o reitor da Universidade de Lisboa soltou uma outra nota dizendo ser inadmissível, com uma postura mais firme que a Faculdade de Direito. Foi aberto também um procedimento interno para tomar as medidas cabíveis", diz a estudante, que se uniu a aproximadamente trinta alunos para um protesto nesta segunda-feira (29), que acontecerá novamente na próxima quinta-feira (2).
Xenofobia contra brasileiros é comum na Universidade de Lisboa
Segundo Maria Eduarda Calado, na Universidade de Lisboa, considerada uma das instituições de ensino mais respeitadas do mundo, os casos de xenofobia contra brasileiros são frequentes por lá.
"Eu nunca sofri, mas já vi e soube de muitos relatos. Mas a maioria das vezes vem dos próprios professores. Por meio de 'piadas', sobre não sermos honestos, sobre mulheres serem prostitutas, nossa escrita ser ruim por não ser igual à deles. Várias microagressões".
Apoio de desembargador português
No Facebook, o juiz desembargador português Nuno Coelho manifestou seu repúdio a atitude tomada pelos alunos portugueses, afirmando o "perfil totalitário" da ação.
"Tenho imensa vergonha, como antigo aluno da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que este espaço de cultura jurídica humanista e universal possa ter sido utilizado para práticas xenófobas inconcebíveis e de perfil totalitário. Para além de isto atingir os direitos fundamentais dos visados, colocando a ação no campo criminal e disciplinar, quebrando o espírito de sã cooperação e convivência com os nossos queridos irmãos brasileiros que só nos pode beneficiar a todos os títulos, inclusive financeiros. É preciso reafirmar que os projetos atuais universitários só são viáveis por causa destes programas internacionais de formação, sustentados na qualidade e quantidade da oferta mas também da procura. Este trogloditismo primário para além de estúpido é parvo".
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