Ménage, troca de casais, relação aberta: o que fazer quando tudo dá errado?
A busca por novas experiências sexuais como forma de esquentar a relação pode ter consequências negativas sob certas circunstâncias, mesmo que a curiosidade e a vontade sejam enormes. A mais comum é quando a expectativa, na verdade, não é do casal, mas apenas de um dos dois --aquele que propõe uma prática ou uma fantasia diferente, geralmente envolvendo outras pessoas. "Não são poucas as pessoas que topam coisas a fim de agradar ou para reconquistar o outro. Abrir mão do que você quer para atender o desejo de alguém é receita para o desastre. Em nenhuma instância do relacionamento esse tipo de pensamento funciona", diz Raquel Fernandes Marques, psicóloga da Clínica Anime, de São Paulo (SP).
Nem todo mundo está preparado para a realidade de vivências como sexo a três, swing, suruba ou abrir a relação. Uma boa autoestima é pré-requisito fundamental para encará-las, além de segurança e maturidade para entender que as coisas, na realidade, se desdobram de modo diferente do plano da fantasia. Ciúme, sentimentos de posse, raiva e apego podem entrar em cena. "Por isso é fundamental criar um espaço de diálogo na relação. As pessoas podem e devem discutir outros formatos de interagirem, mesmo que não envolvam sexo", comenta Breno Rosostolato, psicólogo, educador sexual e cofundador do projeto de imersão para casais LovePlan.
No entanto, é válido lembrar que, por mais que um casal estipule regras de convivência, inclusive para a realização de fantasias, ninguém é capaz de controlar o sentimento, o interesse e o desejo alheios. E, mesmo quando os dois entraram num consenso e estão dispostos a experimentações, é possível que o resultado seja, justamente, o contrário do almejado.
Isso acontece, principalmente, entre casais que buscam novas aventuras sexuais para contornar problemas na relação: traições, tédio, ausência de diálogo, comunicação truncada, inveja e por aí vai. "Se o relacionamento já não anda tão bem, certas tentativas de melhorar as coisas podem torná-lo ainda mais frágil. Um exemplo é abrir o relacionamento ou se aventurar em uma troca de casais numa casa de swing. Essas alternativas são para homens e mulheres que estão em perfeita harmonia, que sabem diferenciar o que sentem um pelo outro de prazer", afirma o sexólogo Ricardo Desidério da Silva, docente do Mestrado em Educação Sexual da Unesp/Araraquara.
Segundo Ricardo, casais em crise atravessam um momento de extrema fragilidade: não estão conseguindo lidar nem com os próprios sentimentos, quanto mais saber administrar os do outro e, ainda, achar que algo diferente pode inovar a relação. "Doce ilusão! Se a criatividade não existe entre o próprio casal, dentro do próprio relacionamento, a busca por novas experiências pode ser frustrante e decisiva para o rompimento", conta.
Apostar num relacionamento aberto ou partir para a troca de casais não são decisões tão simples de serem mantidas, de acordo com Raquel. Elas exigem honestidade, maturidade, confiança e, sobretudo, controle emocional. "Quando o casamento está em crise, por qualquer que seja o motivo, não existem soluções mágicas. Muito menos diferentes práticas sexuais surgirão como tábua de salvação. O mais importante é parar, conversar, refletir e enfrentar essas diferenças, tratando de encontrar a melhor solução para os dois", fala.
O fracasso de experiências sexuais diferentes a dois pode sinalizar várias coisas sobre a relação do casal. Uma delas é a necessidade de ambos sentarem e terem uma boa conversa. Ménage, troca de casais e relacionamento aberto podem, sim, ser algo saudável e positivo, mas o par precisa estar bem, em sintonia. "A base para qualquer relacionamento bem-sucedido, seja aberto ou monogâmico, é a transparência, a honestidade, o diálogo franco, aberto e respeitoso. As pessoas podem entender que a perda do interesse sexual afeta o relacionamento como um todo, no entanto pode estar acontecendo exatamente o contrário: algo não vai bem e isso está afetando o lado sexual. Acredito que avaliar o casamento como um todo, assim como algumas questões individuais, é um bom começo para identificar falhas e lacunas existentes que precisam ser reparadas", fala Raquel.
Na opinião de Breno, alguns casais estão juntos simplesmente por conveniência e hábito. "Eles simplesmente se toleram. Não se olham, não dialogam. Então, como tentar reparar a relação através do sexo se mal existe interação e vínculo no dia a dia?", questiona. O insucesso com as experimentações só amplifica o vazio e o distanciamento entre os dois. Nesse caso, o melhor a fazer para reparar o dano - ou melhor, descobrir se ainda é possível reparar o dano - é buscar o apoio de uma terapia de casal. "O terapeuta pode ajudar a encontrarem uma visão mais aprofundada e verdadeira sobre os conflitos. Além disso, é uma ferramenta ótima para homens e mulheres praticarem a escuta, algo que nem sempre acontece no cotidiano. No dia a dia, é comum um interromper o outro como forma de se defender e de não revelar suas dores. A terapia desnuda e desmascara aquilo que incomoda, mas que ninguém quer trazer à tona", diz.
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