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Puberdade precoce: o que é e como lidar quando os filhos passam por isso

Puberdade precoce - Getty Images/iStockphoto
Puberdade precoce Imagem: Getty Images/iStockphoto

Jacqueline Elise

Da Universa

30/04/2019 04h00

A edição de maio de 2019 da revista "Scientific American" traz uma reportagem sobre meninas entrando na puberdade mais cedo --é cada vez mais comum ver garotas entre 7 e 9 anos de idade em puberdade precoce, já desenvolvendo seios e com aumento de pelos pubianos. Inclusive, a menstruação também tem chegado antes da média: estimava-se que, no geral, as adolescentes tivessem a menarca entre 14 e 16 anos. Agora, a média diminuiu para 12 anos, nos Estados Unidos.

A puberdade precoce não interfere somente no corpo da criança, mas pode ter impacto emocional e também na família. À Universa, três especialistas explicam o que a puberdade precoce faz com as crianças e como os pais podem lidar com ela:

O que é a puberdade precoce?

Dolores Bustelo, médica especialista em radiologia pediátrica pela Universidade Federal do Paraná e membro da Sociedade Paranaense de Pediatria, explica que a puberdade precoce "é quando aquela menina que, antes dos 9, já começa a desenvolver os seios, os pelos pubianos, algumas apresentam odor forte nas axilas. Quando esses sinais vêm, é o primeiro alerta".

"Nos meninos, entre 9 e 10 anos, começam a aparecer os pelos pubianos, aumento testicular, além da possibilidade de apresentarem, também, o odor. A altura chama a atenção nessas crianças: elas costumam ficar bem maior do que as outras da mesma idade". Ela relata que, desde que começou seu trabalho na área, "não teve um dia da minha vida em que eu não tenha feito um exame para identificar puberdade precoce".

Como identificar?

Para identificar o transtorno, é necessário que a criança seja acompanhada regularmente por um pediatra, que pode pedir uma série de exames. "O pediatra avalia a curva de crescimento da criança. Ele vai relacionar as características físicas dela com a estatura dos pais e, assim, o pediatra pode pedir exames de imagem para avaliar o caso", afirma Dolores.

"A radiografia de mãos e punhos é essencial. Quando estes ossos se fundem, significa que a criança está parando de crescer. Por exemplo, tive um paciente que era uma criança de 6 anos com idade óssea de 11. Quanto mais avançada a idade óssea da criança, menos tempo ela tem para crescer ou para entrar com o tratamento".

Qual o impacto físico que ela tem na criança?

Dolores afirma que a maior sequela física da puberdade precoce é a altura da criança: "A criança em puberdade precoce vai ter o chamado estirão do crescimento antes do previsto, e ele vai acabar antes também. Se a criança não for tratada e a puberdade não for bloqueada, a estatura final fica menor que o esperado de seu mapa genético, não só nas meninas como também nos meninos: entre 1,40m e 1,50m", diz.

Por que isso acontece?

Ana Maria Massad Costa, pós-doutora em ginecologia e médica da Fundação Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, explica que a ciência ainda não sabe dizer, exatamente, por que a puberdade precoce acontece e tem sido tão frequente.

"O que temos, por enquanto, são teorias. Já especularam que isso acontece por conta da alimentação, por causa de sobrepeso na infância --o tecido gorduroso do corpo é capaz de produzir estrogênio, o que pode fazer com que as meninas menstruem antes--, mudanças no meio ambiente que nos deixam expostos a certas substâncias cada vez mais cedo".

Há o perigo da sexualização precoce?

Erica Mantovani, psicopedagoga e coordenadora pedagógica do Colégio Mater Dei de São Paulo (SP), explica que a maior sequela da puberdade precoce em crianças é emocional: além de, possivelmente, haver provocações vindas de colegas de sala quando percebem que o corpo da criança está mudando, alguns adultos tendem a tratar a criança como se ela já fosse madura o suficiente para entender o que está acontecendo com ela, beirando a sexualização.

"No caso dessa criança, ela entende o que está acontecendo, mas não da mesma forma que os adultos. Ela ainda é imatura e não vai saber lidar direito com esses sintomas. O fato de a criança ter entrado em puberdade não significa que ela deve ter sexualização precoce: ela não está pronta para fazer sexo, não está pronta para ficar 'mais adulta'. O corpo parece uma coisa, mas a cabeça ainda é infantil", afirma.

Como falar com as crianças?

Erica recomenda que os adultos não entrem em desespero ao falar sobre o assunto com os filhos, e que eles sempre sejam acompanhados por um médico.

"Primeiro, deixe que o médico converse e explique melhor, usando linguagem apropriada, para a criança não se assustar. E não necessariamente precisa de tratamento psicológico: às vezes, o próprio pediatra consegue controlar isso. Mas o acompanhamento com psicólogo ou psicopedagogo pode ser uma boa saída, porque a puberdade pode trazer questões emocionais que as crianças não estão preparadas para lidar."

Como tratar?

Ana Maria explica que o mais indicado, caso a puberdade precoce seja confirmada, é que a criança entre com um tratamento para bloquear a puberdade. Ela explica que o tratamento dura, em média, dois anos.

"Tudo vai depender de como a criança vai responder ao bloqueio, se ela vai entrar na curva de crescimento normal dela. Porque também não adianta continuar com o bloqueio se ela já está entrando no que seria a curva ideal para a idade e o corpo dela. Também acho importante crianças fazerem atividades físicas regulares e terem uma alimentação balanceada para o desenvolvimento delas".