"Adotei uma criança que diziam que morreria logo, mas merecia ser amada"
A fotógrafa Ingrid Mendonça, 38, já tinha dois filhos adolescentes quando decidiu adotar uma criança com microcefalia e paralisia cerebral severa. Helena tinha pouco tempo de vida, segundo a médica que a tratava. O primeiro encontro das duas aconteceu no hospital e, no instante em que a viu, Ingrid teve a certeza de que ela era sua filha. "Eu peguei na mãozinha dela e disse: 'A mamãe chegou, desculpa ter demorado tanto para te encontrar'". Conheça a história delas:
"Eu tenho dois filhos biológicos, mas sempre tive o sonho de adotar uma criança. A minha mãe era a minha inspiração, eu a admirava por ter adotado um dos meus irmãos. Na minha adolescência, um ginecologista chegou a dizer que eu não poderia engravidar devido alguns problemas de saúde. Eu fiquei tranquila, pois o importante para mim era ser mãe, independentemente se o bebê saísse da minha barriga ou não.
Contrariando o que o médico havia dito, eu engravidei e tive a Kauany e o Kaue. Quando eles já estavam maiores, eu e o meu marido, o Douglas, demos entrada no processo de adoção. Eu tinha o desejo de adotar uma criança 'especial', mas meu marido não se sentia preparado. Por essa razão, a princípio, buscávamos uma criança saudável e de até três anos de idade.
Nós já estávamos na fila havia um ano quando eu entrei em grupo de busca ativa para habilitados à adoção no Facebook e vi o perfil da Helena. A descrição dizia que ela era um bebê de um ano com paralisia cerebral e suspeita de microcefalia. O relato me chamou atenção, eu mostrei para o meu marido e, naquele momento, ele aceitou ser pai dela. Ele disse para eu entrar em contato com o fórum responsável pelo abrigo em que ela estava para viabilizarmos um encontro. Viajamos sete horas do interior do Paraná até São Paulo para conhecê-la pessoalmente.
A Helena merecia ser amada, nenhuma criança merece morrer em um abrigo
A Helena estava bastante debilitada, com quadro grave de desnutrição, desidratação --pesando 5 kg-- e com baixa saturação. A promotora encarregada por ela me disse que uma médica a havia examinado e dito que se ela continuasse no abrigo e não fosse adotada dentro de 30 dias, ela não sobreviveria. Eu senti no meu coração que ainda que ela tivesse pouco tempo de vida, ela precisava de uma família, ela merecia ser amada. Todo ser humano deveria ter direito a isso, nenhuma criança merece morrer em um abrigo.
Nosso primeiro encontro foi no hospital. Quando a vi naquelas condições, achei que ela não ia durar um dia, muito menos dirá um mês. Ela virava os olhinhos e gemia. Eu peguei na mãozinha dela e, chorando, disse: 'Filha, a mamãe chegou, desculpa ter demorado tanto para te encontrar'. Eu e minha família nos apaixonamos por ela, mas entrei em pânico, não sabia se conseguiria cuidar de uma bebê na situação dela. Seria uma experiência nova e desafiadora como mãe. Na terceira visita, recebemos a confirmação de que ela tinha microcefalia.
Na volta para casa, fizemos uma reunião para discutir se ficaríamos ou não com ela. Meus dois filhos já a tinham como irmã, não cogitavam abandoná-la. Meu marido disse: 'Ou é ela ou nós vamos sair da fila de adoção, não faz sentido escolhermos outra criança'. Tomei a decisão e demos andamento no processo. Dois meses depois, conseguimos a guarda dela, no dia 18 de agosto de 2017.
No começo, a Helena ficava séria e parecia que tinha medo que a machucássemos. Com o tempo ganhamos a confiança dela e, como resultado, ela sorriu pela primeira vez na vida. Os primeiros meses foram dedicados a dar carinho e fazê-la ganhar peso.
Sou fotógrafa e reduzi consideravelmente a minha carga de trabalho para me dedicar a ela. De terça a sexta, ela faz tratamento na APAE, e quando está em casa, faço os estímulos com ela. Minha filha enxerga e já consegue ficar sentada sozinha por alguns minutos. Não há prognóstico de que ela vá desenvolver a fala, mas nós nos comunicamos pelo olhar e, identifico os sinais dela através da respiração: se está feliz, brava, com fome e com dor.
A medicina não explica a evolução dela
A Helena de um ano e dois meses que chegou na nossa família era uma menina séria, triste e chorona. Hoje, aos dois anos e dez meses --e já pesando 15 kg -, ela é tranquila, inteligente, risonha e alegre. Ela só está viva e nas condições em que está única e exclusivamente pelo poder do amor. A medicina não explica a evolução dela.
Quando a adotamos, a reação de uma forma geral foi de espanto. Ouvi frases como: 'Nossa, como você teve coragem?' ou 'Você a adotou sabendo que ela era assim?'. Teve até quem insinuasse que eu a tivesse adotado por ela supostamente receber algum benefício do governo. A maioria das pessoas acredita que os outros não podem fazer aquilo que eles próprios não são capazes de fazer.
Deus me avisou em sonho que enviaria a Helena para mim
Tenho certeza que Deus designou a Helena para mim. Em abril de 2016, tive um sonho em que Jesus me dizia que minha filha estava chegando e que seria uma menina. Ele me mostrava um teste de gravidez e um nome. Na época, eu já estava na fila de adoção, mas não entendi nada. Cheguei a comentar com meu marido, será que vou engravidar e dar esse nome para a criança? Só fui entender quando peguei a certidão de nascimento da Helena e vi o nome da mãe biológica dela, era o mesmo do meu sonho. Pelas minhas contas, eu sonhei isso quando a genitora dela estava com sete meses de gestação. A Helena já era minha filha quando estava na barriga dela".
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