Cama compartilhada: mitos e verdades sobre dividir a cama com bebês
Antes considerado algo prejudicial à família, mais mães têm aderido ao compartilhamento da cama com seus bebês recém-nascidos. Deixar os filhos dormirem na cama dos pais é uma alternativa para quem quer praticidade na hora de amamentar e dormir mais tranquilamente. Como quase tudo que envolve a relação pais e filhos, entretanto, a prática tem pós e contras.
À Universa, os especialistas Deborah Moss, neuropsicóloga e mestre em psicologia do desenvolvimento humano pela Universidade de São Paulo (USP), e Wladimir Lorentz, médico pediatra pela Faculdade de Medicina da Universidade de Tulane, em Nova Orleans, e proprietário da clínica Night and Day Pediatrics, em Miami (EUA), esclarecem os mitos e verdades sobre a cama compartilhada:
A prática mina a vida íntima do casal
Mito. Deborah explica que, nos primeiros meses, já vai ser difícil para os pais continuarem com a vida íntima. À mulher, é recomendado que ela fique, pelo menos, 40 dias sem sexo logo após o parto. Além disso, as demandas do bebê ocupam quase todo o tempo dos pais quando eles não estão dormindo --e eles já dormem muito pouco.
"Para aqueles que estão com pique e tempo de ter relações, elas também não precisam acontecer só na cama", diz. Ela sugere que, caso tenham oportunidade, os pais podem transar na sala e em outros cômodos da casa.
Deixar o bebê dormir com os pais facilita na hora dos cuidados
Verdade. "O parto é um processo dolorido. Muitas mães tiveram parto cesárea, estão com dores da sutura, então, ter o bebê por perto, e não precisar se deslocar, ajuda nos cuidados", diz Deborah. O cansaço e os poucos momentos de sono também são motivos para que os pais deixem o bebê no meio deles. Com o recém-nascido perto, o deslocamento é menor dentro do quarto ou pela casa quando é preciso acalmar a criança que chora.
Dividir a cama com bebês pode deixá-los mal-acostumados
Depende. Lorentz afirma que já atendeu muitos casos de crianças que não largavam o hábito de dormir na cama dos pais. Já Deborah alega que o quadro não é uma regra. "Tem vezes que a criança sente a necessidade de ficar em um ambiente só dela. Um dos sinais pelo qual ela exprime essa vontade é movimentação agitada de braços e pernas 'abrindo' espaço entre os pais", diz Deborah.
Dividir a cama fortalece os laços entre mães e filhos
Mito. Assim como não dá para afirmar que os filhos ficam mal-acostumados ao dormir com os pais, também não é lei que o hábito fortaleça os laços entre mães e filhos.
"Acho complicado afirmar isso. Dá a impressão de que quem não deixa o filho dormir junto não vai ter vínculo algum com ele, ou que essa mulher é uma péssima mãe por não compartilhar a cama. Parece só mais uma forma de cobrança. Esses laços não se formam só durante a noite, é toda a convivência e atenção dada que influenciam no vínculo. A decisão [de ter cama ou quarto compartilhado] tem que ser confortável para a família, e há algumas delas que não têm como fazer isso por uma questão de espaço, até", afirma Deborah.
Cama compartilhada traz riscos letais
Verdade. Nos Estados Unidos, o número de bebês que morreu por sufocamento acidental e estrangulamento na cama compartilhada disparou para 184% de 1999 a 2015, de acordo com estatísticas divulgadas em 2018 pela Academia Americana de Pediatria. Cerca de 3.500 recém-nascidos morrem por esse motivo todos os anos no país. A Sociedade Brasileira de Pediatria também é contra a prática de cama compartilhada.
"Um adulto com a cara enfiada no travesseiro tem o reflexo de virar o rosto para conseguir respirar normalmente quando se sente sufocado, mesmo dormindo. O sistema neurológico do bebê não está desenvolvido o suficiente para ter este mesmo reflexo, então ele pode asfixiar e morrer. Também pode cair da cama, mesmo se tiver uma barreira de almofadas em volta dele, e a barreira pode contribuir para asfixia, além de ter muitos casos de pais que rolam em cima dos bebês e os sufocam", explica Lorentz.
Existem formas seguras de dormir junto com bebês
Verdade. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que bebês durmam durante a noite no quarto dos pais até os 6 meses de idade, mas em um berço. Depois disso, eles podem dormir no próprio quarto. Deborah endossa: "Nessa faixa etária, o bebê fica mais atento ao ambiente: ele passa a estranhar, sentir falta da presença dos pais, do contato direto. Quanto antes acostumá-lo a dormir sozinho, melhor".
Lorentz recomenda que, independentemente de ser cama compartilhada ou não, os pais precisam tomar os seguintes cuidados com o recém-nascido: "Evitar uso de almofadas e cobertores, não enrolar o bebê apertado em panos, como se ele fosse um 'charuto', e deixar o bebê de barriga para cima com o rosto virado para o lado".
Outra opção é a prática do "co-sleeping", ou coleito: um pequeno berço que pode ser acoplado à cama dos pais. Mas Deborah alerta que o coleito não é para sempre: ele fica apertado para o bebê de 5 meses em diante, e a criança pode até cair quando fica maior. Por isso, ela ressalta a importância de passar o pequeno para o berço e delimitar o espaço.
Convencer a criança a sair da cama dos pais pode ser um processo lento
Verdade. "Esses pais que compartilham o quarto acabam fazendo parte do 'kit-sono' das crianças", argumenta Deborah. "Mas eles não conseguem convencê-la facilmente a sair de lá. O 'desmame' tem que ser gradual, fazendo-os dormir aos poucos fora da cama dos pais. A partir do momento que a família decide isso, os pais precisam passar para a criança que essa transição é para o bem dela, sem abrir exceções e sem esperar que a iniciativa de mudar parta deles. É preciso dar um 'empurrãozinho'".
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