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"Tratada igual bandido": mãe é proibida de entrar na faculdade com o filho

Adriane teve de levar o filho para a faculdade porque a escola dele estava fechada na véspera de feriado - Arquivo Pessoal
Adriane teve de levar o filho para a faculdade porque a escola dele estava fechada na véspera de feriado Imagem: Arquivo Pessoal

Talyta Vespa

Da Universa

04/05/2019 04h00

A corretora de imóveis Adriane Morais, de 29 anos, afirma ter sido impedida de entrar em um dos campi da Universidade Paulista - UNIP pelo coordenador e por uma funcionária da instituição. O motivo, segundo conta Adriane, que estuda biomedicina, foi o fato de ela estar acompanhada de seu filho de sete anos. A UNIP nega que tenha havido constrangimentos.

Adriane conta que levou o filho à faculdade porque a escola em que o menino estuda estava fechada naquele dia (terça-feira, 30) devido ao feriado de 1º de maio, e, como o marido trabalha durante o dia, não tinha com quem deixá-lo. À Universa, ela afirma que o garoto já a havia acompanhado duas vezes à UNIP, sem nenhum problema. Mas que, desta vez, foi diferente.

"Sempre que eu chegava com meu filho, ia até a secretaria da faculdade assinar o termo de responsabilidade para que ele pudesse entrar comigo. Das outras vezes, ouvi de um funcionário que quem deveria decidir se ele poderia ou não assistir à aula era o professor. Então, sempre perguntava a eles antes da aula começar. Nunca ouvi 'não'".

"Naquela terça-feira, assim que cheguei à secretaria, fui recebida por outra funcionária. Ela confirmou meu nome, curso e, logo, começou a gritar. Disse que eu não poderia entrar com meu filho e que era inadmissível que eu levasse uma criança para a faculdade. Ela foi muito grosseira. Meu filho ficou assustado, com os olhos arregalados. Me senti humilhada", conta a estudante.

Ela afirma ainda que a funcionária pediu que ela fosse acompanhada até a sala do coordenador para que não "fugisse e entrasse na aula". "Chegando lá, comecei a chorar e a tremer, fiquei muito nervosa. Ver meu filho com medo naquela situação foi devastador para mim. O coordenador foi respeitoso; afirmou que realmente não era permitida a presença de crianças dentro da sala de aula. Eu disse que não teria nenhum problema, se eu tivesse recebido essa informação de forma educada".

Ao lado do coordenador, Adriane voltou a conversar com a funcionária que, desta vez, teria sido razoável. "Quando o coordenador chegou, ela me tratou com educação e, com muita má vontade, me pediu perdão", diz. "Fomos embora. Depois, meu filho me pediu desculpa por ter feito com que eu recebesse uma bronca. Isso acabou comigo. Ele disse: 'Mamãe, parecia que você era um bandido'".

Adriane divide o dia entre trabalhar, estudar, cuidar da casa e fazer aulas de karatê com o filho. A decisão de voltar para a faculdade depois de ser mãe foi tomada porque ela não queria depender do marido. "Eu ganho muito pouco e quero ter uma carreira. Aos 20 anos, fiz faculdade de gestão ambiental. Engravidei e, depois, não consegui trabalhar na área".

A família, ela conta, mora no litoral paulista, por isso não há com quem deixar o menino quando a escola, que é estadual, está fechada. "Até nas consultorias imobiliárias ele me acompanha. Nas duas vezes em que foi à aula comigo, foi muito bem recebido pelos professores. Ficou quietinho, não fez bagunça".

"Ele foi elogiado pela professora"

A Universa conversou com colegas de sala de Adriane, que presenciaram a visita do menino às aulas. Sobre ele, os comentários são os mesmos: não atrapalhava.

"Ele é um fofo. Ficava tão quietinho que eu só percebia que tinha uma criança na sala quando os professores faziam algum comentário sobre ele", diz a representante de classe Emilia Ferrari. "Se existe um procedimento sobre levar um menor para faculdade, deveria ser muito claro, e os funcionários deveriam ser treinados para passar uma informação correta e educada para a mãe", conclui.

A aluna Grasiele Magalhães diz que, antes de começar a aula, Adriane mostrava o termo de responsabilidade assinado para o professor e pedia que o filho ficasse com ela dentro da sala. "Ele não saía do lugar nem para ir ao banheiro durante toda a aula. Não dava um pio", conta.

Adriane, que sempre sentava nas primeiras carteiras, escolhia os últimos lugares quando estava com o filho, segundo a colega de sala Bruna Lopes. "Ela sempre se preocupava em não atrapalhar".

Outro lado

Procurada pela reportagem, a Universidade Paulista - UNIP afirma que é proibida a entrada de crianças nas salas porque "podem, eventualmente, atrapalhar o regular andamento das aulas e atividades, além de que os temas abordados podem conter conteúdos impróprios à idade dos menores".

A universidade afirma ainda que já havia orientado a aluna sobre o assunto no dia 7 de março, "destacando a impossibilidade de seu filho acompanhá-la durante as aulas". Adriane nega.

Em nota enviada à reportagem, a UNIP "nega que houve qualquer tipo de constrangimento e humilhação por parte da funcionária à aluna. A prática não permitida gerou a necessidade de um esclarecimento mais efetivo, em uma reunião, mas que foi realizada de maneira cordial e respeitosa, diferentemente do alegado pela discente. A universidade agiu no caso dentro dos estritos limites legais, pedagógicos e éticos, lamentado que a aluna tenha tido uma percepção diferente e distorcida dos fatos havidos".